• Carregando...
A obstetra Helen Butler no quintal da Fundação Sidónio Muralha, no Rebouças: milhares de partos e de poesias. | Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo
A obstetra Helen Butler no quintal da Fundação Sidónio Muralha, no Rebouças: milhares de partos e de poesias.| Foto: Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo

A série Perfil 2015 da Gazeta do Povo iniciou em 11 de janeiro com um texto sobre a obstetra Helen Anne Butler Muralha – responsável, por baixo, pelo nascimento de 14,4 mil partos em 60 anos de medicina. Uma recordista. E termina neste domingo, 14 de junho, com o padre Reginaldo Manzotti – fenômeno das redes sociais com nada menos do que 5 milhões de visitantes em seu site.

Em seis meses de publicação, 23 personalidades foram perfiladas por 15 repórteres diferentes e clicadas – em demorados ensaios fotográficos – por oito fotógrafos do jornal. Os participantes da produção de imagem seguiram a proposta visual do editor Alexandre Mazzo, que assina cinco portraits em preto e branco da série. Integram o grupo Marcelo Andrade, com seis ensaios, Daniel Castellano e Brunno Covello, cada um com três ensaios, entre outros. Completa o projeto o editor de vídeo Thiago Costa – que com sua equipe produziu uma coleção à parte, intitulada “Lado B”.

A “pegada”, como se diz no jargão, foi flagrar atividades paralelas dos entrevistados, pelas quais são menos conhecidos. Os primeiros bailarinos do Teatro Guaíra, Eleonora Greca e Wanderley Lopes, por exemplo, dedicam-se à gastronomia caseira e sem glamour. A professora da UFPR e ativista dos direitos humanos Araci Asinelli da Luz, à dança de salão. Paralelo a esse empenho de investigação, uma dezena de editores e designers trabalharam para que essa galeria de personagens chegasse até o leitor. Eles agora serão reunidos em livro, com design de Lúcio Barbeiro, da equipe da Gazeta, e exposição fotográfica no Museu Oscar Niemeyer.

Apesar dos números superlativos contabilizados por Helen Muralha e Reginaldo Manzotti, os participantes da série Perfil 2015 – a edição anterior é de 2010 – não foram escolhidos por serem campeões de audiência, mas pelo que têm a dizer. A seleção dos nomes começou no segundo semestre de 2014, com pelo menos três rodadas de sugestões de nomes. Ao todo, 60 personalidades paranaenses ou ligadas ao Paraná foram listadas pela equipe.

Seguiram-se alguns critérios, já clássicos neste gênero que soma 80 anos de tradição no jornalismo. O perfilado precisa ter uma vida interessante o bastante para “segurar” um texto longo – em média 10 mil caracteres, algo como cinco folhas de papel sulfite. Não precisa ser famoso ou excêntrico, mas é desejável que seja reconhecido por alguma parcela da sociedade organizada – a exemplo da assistente social Sueli Cortiano ou o matemático Newton da Costa. Não deve ser escolhido por seu exotismo – um bom personagem é sobretudo aquele com o qual podemos nos identificar. Difícil quem não se sinta olhando no espelho ao ler o perfil da jornalista Vania Mara Welte, expert em dar a volta por cima.

Se escolher nomes é tarefa árdua, escrever o perfil, igualmente, não é refresco. O jornalista Sérgio Vilas Boas, autoridade com três livros publicados sobre o assunto, o aponta como um “gênero parcial”. Diferente do jornalismo em geral – um exercício da objetividade e da imparcialidade – o perfil exige uma “química” entre perfilado e perfilador. Se não houver admiração, melhor desistir, ainda que haja exceção à regra.

Um dos mais famosos perfis da história da imprensa – “Frank Sinatra está resfriado”, de Gay Talese – foi escrito em 1965 sem que The Voice cooperasse ou mesmo demonstrasse simpatia pelo repórter. No geral, contudo, o modelo continua sendo “O segredo de Joe Gould”, do norte-americano Joseph Mitchell, sobre um morador de rua que rondava a redação da revista The New Yorker. Foi publicado em duas versões, a primeira em 1942, a segunda em 1964, e nasceu de um longo envolvimento do jornalista com o mendigo.

Assim como fez Mitchell, a recomendação aos repórteres da série foi que se encontrassem com seus personagens mais de uma vez, e que conversassem com pessoas ligadas a eles – de modo a enxergá-los melhor. Perfil exige tempo, o que leva a um doloroso descarte de material, tudo para realizar o engenhoso exercício de enxergar um bom ângulo do entrevistado. Daí o nome. Tamanho fôlego costuma resultar nos chamados “textos para guardar”, como se diz. Tomara a expectativa tenha sido cumprida.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]