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Um livro feito de conversas de muro

O morador do Santa Quitéria Walmir Brandão é contador de ofício, cientista social tardio, graduado em 1978 pela UFPR, e restaurador de móveis antigos, ao lado da mulher Halina. Trabalha em casa. "Sou bairrista", brinca. "Tenho saudade do lugar onde eu pescava no rio e andava descalço. Calcei meu primeiro sapato aos 10 anos de idade. Já na década de 60, nos demos conta de que a nossa vila iria desaparecer. Pô, o pessoal da televisão deveria vir aqui filmar o depoimento dos veteranos", reivindica.

As certezas de Walmir sobre o Santa Quitéria vieram em suaves prestações, no correr de nada menos do que quatro décadas. Nesse "meio tempo", fez a vida e uma pequena odisséia – mudou-se do quarteirão de baixo para o de cima –; além de falar, pelos cotovelos, quase sempre debruçado no muro, sobre o lugar onde sempre viveu. Há cerca de cinco anos, deu-se conta de que tinha chegado a hora de passar o que sabia para o papel e botou a Olivetti para funcionar. "Não sei mexer em computador", avisa.

O tom dos escritos é nostálgico. Em paralelo à saudade, fez longos textos, muitos deles confessionais, nos quais usa diversas obras da literatura antropológica – como Cummunká, de Menotti Del Picchia – e da historiografia paranaense para explicar sua paixão pela pequenina Santa Quitéria, um dos menores bairros da capital paranaense, 58.º no ranking. É esse sentimento de homem comum, de morador de um lugar qualquer, que faz da iniciativa um capítulo para a memória operária – tema que encontrou seu auge na década de 70 e produziu, no Paraná, pesquisadores reconhecidos como a cientista social Sílvia Araújo e os historiadores Alcina Cardoso e Luiz Carlos Ribeiro, todos da UFPR.

Para o historiador Sérgio Nadalin, iniciativas como a de Walmir podem contribuir para pesquisas feitas por um profissional do ramo, embora fatalmente recebam um tratamento diferente. "As crônicas costumam trazer indicações que ajudam a chegar a outros documentos", ilustra.

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