Problema ambiental carregado para casa a cada ida ao supermercado, o consumo excessivo de sacolas plásticas transformou-se em dor de cabeça para ambientalistas e poder público. No ano passado, o governo federal lançou o programa "Saco é um saco". A iniciativa, que envolveu grandes redes de supermercados e organizações não governamentais, conseguiu evitar o consumo de 600 milhões de sacolas em um ano de campanha, o equivalente a 4% do que foi produzido no ano passado. Para 2010, a expectativa é que a redução chegue a 10% e o principal desafio será conscientizar o público.
De acordo com a avaliação do programa nacional, 45% das pessoas atingidas pela campanha não sabiam onde colocar o lixo e outras 33% não queriam gastar com a compra de sacos de lixo. "Mas o preço indireto é maior. Porque mesmo no aterro sanitário, a decomposição do material vai gerar gás ou até resíduos líquidos que podem contaminar o lençol freático", considera Ricardo Oliani, coordenador de projetos de mobilização comunitária do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. De acordo com ele, o material usado na fabricação das sacolas é plástico virgem que pode ser reciclado, enquanto o plástico dos sacos de lixo é bem menos nobre. Além disso, o material das sacolas demora pelo menos 300 anos para se decompor e, se descartadas incorretamente, entopem bueiros e poluem rios, lagos e mares. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) indicam que sacolas plásticas estão chegando a locais distantes, considerados paraísos ecológicos e turísticos.
Papelão ressuscitado
Entre as redes de supermercado, alternativas ao uso de sacolas viraram estratégia de mercado. Mesmo gastando 10 vezes mais, a rede paranaense Casa Fiesta, começou a investir, há um ano, na substituição das embalagens plásticas por sacolas de papelão. "Economicamente é inviável mas queremos associar nossa marca à consciência ecológica", explica o diretor comercial do supermercado, Fabiano Breda. A ideia agradou a dona de casa Bernadete Malaquias, 61 anos. "É melhor para ser usada no dia a dia e ainda contribui com o meio ambiente", diz. As sacolas seriam mais resistentes e com maior capacidade de armazenamento, suportando até seis garrafas de refrigerantes de dois litros. De acordo com Breda, a matéria-prima é proveniente de florestas plantadas exclusivamente para a produção do papel.
Desconto
A rede Walmart (que inclui as lojas Mercadorama e Big) encontrou uma forma econômica de incentivar o consumidor, através da campanha "Cliente Consciente Merece Desconto". O mercado desconta R$ 0,03 por sacola não usada, a cada cinco produtos adquiridos. "Conseguimos o equilíbrio ambiental e econômico. O valor do desconto é o custo da sacola. E temos ainda o benefício de redução do desperdício", ressalta o consultor de sustentabilidade da empresa, Felipe Antunes. O consumidor consciente pode demorar menos tempo na fila também. As nove lojas Big e as 23 lojas do Mercadorama que participam do programa no Paraná disponibilizam caixas especiais. A meta da rede é reduzir em 50% o uso de sacolas até 2013.
Além de implantar os "ecocaixas", a rede Carrefour anunciou o banimento das sacolas plásticas até 2014, quando supermercados passarão a oferecer sacos bioplásticos e sacolas biodegradáveis a R$ 0,30, para ser doado à caridade.
Oxibiodegradáveis
A ideia de substituir as atuais sacolas de plástico por embalagens oxibiodegradáveis virou projeto de lei e está tramitando na Assembleia Legislativa do estado. Em 2008, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) multou seis supermercados em mais de R$ 200 mil por não apresentarem alternativas para substituição das sacolas plásticas, com base na legislação que estabelece que os grandes geradores de resíduos são responsáveis por sua destinação final. Segundo o secretário estadual de Meio Ambiente, Jorge Augusto Callado Afonso, 17 redes de supermercado adotaram a alternativa da substituição. "Apesar do questionamento sobre os benefícios das sacolas oxibiodegradáveis, a iniciativa demonstra uma importante mudança de comportamento", diz.
Os adeptos dessa opção afirmam que a matéria-prima das embalagens contaria com um aditivo químico que aceleraria a decomposição do plástico em contato com a terra, luz e água e o tempo da degradação seria cem vezes menor que o plástico comum. Os que discordam dizem que ainda não existem estudos suficientes que comprovem a eficácia da tecnologia.