Brasília Gado, família, PMDB e dinheiro de origem duvidosa voltaram a ser o tema central do plenário do Senado, ontem à tarde. Um mês depois de o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defender-se das acusações de que teria contas pessoais pagas por um lobista, foi a vez das explicações do colega de partido, senador Joaquim Roriz (DF). Ele foi flagrado por escutas telefônicas da polícia negociando a partilha de R$ 2,2 milhões com o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), Tarcísio Franklin de Moura, preso nesta semana durante a Operação Aquarela.
Em um tom emocionado, Roriz apelou para um discurso parecido ao de Calheiros. Alguns trechos chegaram a ser idênticos. "Em toda minha carreira política, jamais confundi a questão pública e a questão privada", afirmou o representante do Distrito Federal, parodiando o alagoano.
Apesar de que tecnicamente as supostas irregularidades são diferentes, o caso Roriz também envolve o negócio de gado. Ele disse que usou apenas parte do dinheiro envolvido (R$ 270 mil) para saldar a dívida da compra de uma bezerra. Outros R$ 28 mil teriam sido aplicados para ajudar um parente com problemas de saúde.
Assim como Renan tem o lobista Cláudio Gontijo como amigo envolvido nas denúncias, Roriz apresentou o seu companheiro, o empresário e proprietário da Gol, Nenê Constantino que teria emprestado a quantia ao senador. "Existe algum artigo dizendo que pedir dinheiro emprestado é crime? É ilegal? Quem em sua vida não pediu um empréstimo a um amigo ou a um banco qualquer?", indagou.
Na parte mais dramática do discurso, o senador apresentou duas folhas assinadas por ele em branco. Uma delas deveria ser encaminhada ao Supremo Tribunal Federal para autorização da abertura de seus sigilos fiscal, bancário e telefônico. A outra ficaria com a Polícia Federal, para garantir liberdade de investigação sobre a existência de contas bancárias em seu nome no exterior.
Outra vez a exemplo de Renan, Roriz apresentou uma série de notas fiscais e contratos que comprovariam o empréstimo concedido por Constantino e a compra da bezerra. E, outra vez, a prova serviu apenas para causar mais embaraço. Depois do discurso de Roriz, o senador José Nery (PSol-PA) foi ao plenário para dizer que a defesa era "frágil".
"Não tem sequer reconhecimento em cartório de nenhuma das assinaturas do contrato de empréstimo", disse. A compra do animal também levantou suspeitas. O registro de transferência da bezerra é de 30 de maio de 2005. Na nota fiscal, entretanto, consta a data de 1.º de março de 2007.