Um ano depois
SC ainda tenta se reerguer
Mais de um ano depois, a pior tragédia natural dos últimos 34 anos que devastou municípios catarinenses, deixando 135 mortos e 32 mil desabrigados, ainda não foi esquecida pelos moradores do estado.
O município de Ilhota, onde 40 pessoas morreram pelo desmoronamento do Morro do Baú em novembro de 2008, foi visitado na sexta-feira pelo major Márcio Luiz Alves, coordenador da Defesa Civil de Santa Catarina. Segundo ele, os moradores ainda tentam recuperar os danos.
Ele lembra que os prejuízos não aparecem apenas um dia após o temporal, mas se arrastam por pelo menos dez anos. "A qualidade de vida de um município atingido por um desastre natural não volta", afirma. Para se reerguer, muitos recorrem aos donativos. "Você perde a dignidade porque tem que depender do que os outros irão te dar."
Sengés - Moradores de Sengés, Norte Pioneiro, ainda terão de conviver, por pelo menos um mês, com a lama deixada pela enchente que devastou a cidade. Este é o tempo estimado pela prefeitura para a limpeza do centro do município, o mais afetado pelas fortes chuvas que atingiram o Paraná no último fim de semana. O trabalho de reconstrução já começou, mas, uma semana depois, o acesso à cidade continua precário e quase mil pessoas ainda não puderam voltar para casa.
A combinação chuva torrencial e ocupação irregular das margens do Rio Jaguaricatu foi fulminante para o desastre do fim de semana passado, que matou cinco pessoas. Ainda não é possível colocar no papel o tamanho do saldo da tragédia, mas já se sabe que a enchente abalou a frágil economia do município de pouco mais de 20 mil habitantes, na divisa com o estado de São Paulo.
Embora não tenha estação em Sengés, o Simepar calcula que choveu 700 milímetros em três dias, volume quase quatro vezes maior que a média histórica de chuvas para o mês de janeiro na região.
A cidade, que vai completar 76 anos no próximo dia 1.º, cresceu abraçada ao rio, que lembra o formato da letra "U" na área urbana. As margens foram devastadas para a construção de imóveis. Os relatos de cheias são comuns entre os sengeanos, mas a do entardecer do último dia 29 foi a pior da história.
A prefeitura calcula que o rio subiu quase nove metros. A água excedente veio acompanhada de uma forte correnteza e muitos entulhos. O quintal do mecânico José Correia do Espírito Santo, 64 anos, ainda guarda as marcas do temporal. Há toras de madeira, colchões e até assoalhos de casas. Ele viu tudo da janela da cozinha, que fica no piso superior. "Minha esposa está com a perna quebrada e eu não conseguiria descer com ela as escadas. Eu, minha esposa e minhas filhas gêmeas, que já estão moças, continuamos em casa. Se tivéssemos que morrer, morreríamos todos juntos", afirma.
Comerciantes do centro só puderam conferir os estragos da chuva na manhã de domingo. Encontraram 50 centímetros de lama e telhados e paredes ao chão. Uma loja de móveis e eletrodomésticos perdeu praticamente tudo do inventário, que era de R$ 314 mil. As indústrias de papel e celulose e beneficiamento de madeira reduziram a produção porque a matéria-prima não pôde entrar na cidade, que ficou ilhada pelo desabamento das pistas em direção a Jaguariaíva (PR-151) e Itararé SP (PR-239). O desvio na PR-151 ficou pronto na sexta-feira, porém é exclusivo para veículos leves.
A limpeza do centro ainda deve consumir um mês de trabalho da prefeitura, segundo o prefeito Walter Juliano Dória (PMDB). Na zona rural, dez pontes caíram.
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Serviço
As prefeituras de Tomazina e Sengés abriram contas bancárias no Banco do Brasil para receber doações. A aplicação será fiscalizada pelo Ministério Público. Sengés agência 2677-8, conta corrente 15.085-1. Tomazina agência 4786-4, conta corrente 10.000-5.
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