Um mês após um dos mais trágicos acidentes do transporte coletivo de Curitiba, que deixou dois mortos e 32 feridos, as razões da colisão do ligeirinho Colombo/CIC na Praça Tiradentes seguem desconhecidas. Em tese, a perícia do Instituto de Criminalística levaria 30 dias para ser concluída, mas o órgão solicitou à Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran), no último dia 25, mais dois meses para finalizar a investigação. Todas as vítimas internadas em hospitais já receberam alta. O motorista José Aparecido Alves, de 49 anos, foi afastado do trabalho por orientação médica e está recluso em uma chácara em Araucária, na região metropolitana da capital. Não há prazo para voltar ao serviço.
A investigação, conduzida pelos peritos criminais Luís Gustavo Zulai e Jorge Aurélio Perito de Bem, está bastante avançada. Para concluí-la faltam dados solicitados à Mercedes-Benz, fabricante do ônibus, para checagem de medidas do veículo. Depois de ter acesso a essas informações, os profissionais podem fazer cálculos que confirmem ou não a ocorrência de falha mecânica. De acordo com passageiros e com Alves, ao arrancar da estação-tubo na Praça Tiradentes, houve um estrondo e o condutor não conseguiu frear, batendo em um táxi e em um Peugeot antes de atingir a fachada das Lojas Pernambucanas a 55 quilômetros por hora.
A perícia também é fundamental para apontar a responsabilidade do acidente. "Estamos aguardando o resultado. Somente ela pode dizer se houve falha mecânica", explica Armando Braga, delegado da Dedetran. Em tese, como Alves foi preso em flagrante no dia da ocorrência, há tendência de que ele responda por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). Se for constatada falha mecânica, ninguém deve ser responsabilizado pelo acidente. Braga, no entanto, prefere não se manifestar sobre o futuro do caso antes de ter acesso à perícia. A Urbs, responsável pelo gerenciamento do trânsito da capital, também aguarda o laudo para tomar providências sobre a ocorrência.
Indenizações
Das quatro pessoas consultadas pela Gazeta do Povo, três disseram não ter recebido auxílio da Redentor, empresa responsável pelo ônibus. Rodrigo Brantes (filho de Carlos Alberto Brantes, morto no acidente), Tatiana Soares Ribeiro e Claudete Pimentel da Silveira procuraram a companhia a fim de serem ressarcidos pela verba gasta com funeral ou tratamento médico, mas não obtiveram êxito. Fabrício Camargo da Silva (filho de Edison Pereira da Silva, outra pessoa que morreu na colisão), por outro lado, fez acordo com a Redentor e recebeu R$ 50 mil de indenização. "Não tivemos qualquer problema para receber o valor", diz Silva.
Rodrigo Brantes, por outro lado, informou à Redentor que gastou R$ 3,5 mil no funeral do pai, mas não teve retorno até o momento. "Em acidentes aéreos, as empresas oferecem até apoio psicológico. Já a Redentor, nesse caso, não prestou qualquer tipo de assistência", diz Brantes. Ele pretende ingressar com ação judicial para pedir indenização à empresa. "Vamos fazer isso no tempo certo. Não era minha prioridade até agora, porque precisávamos superar a morte de meu pai", relata. Carlos Alberto era o provedor da família e custeava um tratamento médico do irmão de Rodrigo.
Tatiana quebrou a clavícula esquerda e está impedida de exercer a função de educadora desde o acidente. De acordo com ela, assim que recebeu alta do hospital, ela entrou em contato com a Redentor e foi informada que só seria ressarcida após a conclusão da perícia. "Fiquei um tempão no telefone e me passaram para trezentas mil pessoas. Mesmo indo atrás, não tive a assistência deles. Nem sequer uma visita no hospital", afirma. Além disso, o curativo do braço requer cuidados diários e houve necessidade de realizar exames complementares após deixar o hospital. Com isso, Tatiana estima ter gasto ao todo R$ 500. "Não tenho plano de saúde", diz.
Claudete teve desvio de coluna no acidente e permaneceu internada no Hospital Angelina Caron por cerca de dez dias. A irmã dela entrou em contato com um dos advogados da Redentor, pedindo que fosse até o hospital. "Ele disse para a minha irmã que não iria porque o trânsito estava caótico naquele horário", relata.
Advogado da Redentor, Heitor Fabreti Amante nega a falta de assistência da companhia e diz não ter recebido ligação dessas vítimas. "A Redentor tem tratado muito bem todas as pessoas. Isso não está acontecendo. Elas estão sendo muito bem atendidas", diz. Amante reclama que as pessoas procuram a imprensa antes da empresa. "De alguma forma, por qualquer motivo, preferem procurar a mídia", diz.