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Identidade

Um movimento pelo Paraná

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(Foto: Irene Roiko/Gazeta do Povo)
A revista Ilustração Paranaense circulou até meados da década de 30 |

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A revista Ilustração Paranaense circulou até meados da década de 30

Ao viajar para o Norte do Paraná, em 1906, o poeta Domingos Nascimento mal sabia que depararia com a expressão que marcou uma geração. Surpreendeu-se com a forma como os paulistas que lá moravam o chamaram: "paranista". O termo agradou Nascimento.

Ao regressar para Curi­tiba, ele espalhou o neologismo, que chegou aos ouvidos de Romário Martins. A nova palavra foi escolhida por ele e seus colegas João Turin e Zaco Paraná, entre outros, para dar nome à causa da busca pela identidade do paranaense. Nascer entre São Paulo e Santa Catarina, na época, não bastava para dar aos habitantes do estado o sentimento de pertencerem a uma unidade cultural.

O Paraná, no início do século passado, era um verdadeiro xadrez étnico, com alemães, ucranianos, italianos, russos e poloneses. A descrição feita pelo jovem político Brasil Pinheiro Machado não deixa dúvidas: o Paraná era um estado "típico desses que não têm um traço que faça dele alguma coisa notável nem geograficamente como a Amazônia, nem pitorescamente como a Bahia".

O Norte paranaense era predominantemente paulista. O Sul, gaúcho. E Curitiba uma cidade provinciana ainda buscando se firmar como centro político e econômico. Era necessário inventar e criar tradições para construir a identidade do estado. Nesse contexto, Romário Martins e seus parceiros fundaram o chamado Movimento Paranista. O termo, disseminado pelo poeta Nascimento, ao contrário do "paranaense", era capaz de dar conta da diversidade étnica que tomava conta do estado. O auge do movimento ocorreu entre as décadas de 1920 e 1930.

Era necessário mostrar ao Brasil, na opinião dos líderes do movimento, que o progresso existia no Paraná. Mostrar que o estado tinha uma história e, principalmente, que possuía identidade. O pinheiro e o pinhão viraram símbolos paranistas, ao lado da gralha-azul – símbolos do Paraná até os dias atuais. Martins, juntamente com intelectuais, literatos e pintores, assumiu ainda a heterogeneidade étnica como característica do estado.

"As diferentes etnias do Paraná viraram naquela época características próprias do estado. Símbolos europeus foram adotados como nossos. Os ucranianos com suas pêssankas, por exemplo. A identidade cultural virou uma colcha de retalhos dos costumes europeus", afirma o pesquisador Luís Fernando Pereira. Saraus, bondes, passear de bicicleta – símbolos de hábitos do velho continente – tornaram-se moda em Curitiba. Uma ‘Oração Paranista’ foi composta para exaltar as belezas naturais do estado.

O sociólogo Luís Afonso Salturi explica ainda que, na literatura, teatro, artes plásticas e música, os destaques eram temas relacionados a elementos da flora e fauna considerados representativos da identidade paranaense. "O movimento deixou uma rica produção artística cuja temática demarcou no imaginário social os símbolos representativos do Paraná", afirma.

Revista deu espaço à visão ufanista

Um Paraná em franco progresso econômico. Era assim que a principal publicação do Movimento Paranista, a revista Ilustração Paranaense (que circulou até meados da década de 30) abordava o estado. Tratava do progresso não somente em Curitiba. Nas colunas "Actualidade Paranaense", o periódico abordava as melhorias no resto do estado, como nas obras de ampliação do Porto de Paranaguá e a inauguração da estrada de ferro de Guarapuava.

A revista, assim, procurava mostrar que o estado havia superado dificuldades e, pautado na técnica e ciência, tinha valor econômico para todo o país. Apesar de buscar registrar avanços em outros locais do Paraná, o pesquisador Luís Fernando Pereira afirma que o movimento teve pouco impacto no restante do estado. "O movimento conseguiu força na capital e em cidades vizinhas. Também no litoral do estado e nos Campos Gerais. Já no restante, pouca gente sabia do paranismo", ressalta.

A revista

A Ilustração Paranaense foi criada em 1927 pelo fotógrafo e jornalista João Baptista Groff. "O periódico refletia os temas e o ideário em voga naquele momento, tinha uma ótima qualidade gráfica e editorial e contava com a colaboração de artistas e intelectuais", explica o sociólogo Luís Afonso Salturi. Essa publicação pode ser encontrada no Memorial de Curitiba e na Biblioteca Pública do Paraná.

Ele salienta que a revista reproduzia desenhos, gravuras, esculturas e pinturas de vários artistas como Alfredo Andersen, João Turin, Lange de Morretes e Arthur Nísio, servindo como espaço para que divulgassem suas obras, principalmente devido à falta, naquele momento, de salões oficiais e espaços institucionalizados para a realização de exposições.

"Quanto aos escritos dos colunistas, embora alguns deles não tivessem formação acadêmica nas áreas em que atuavam ou já tivessem outras profissões, muitos contribuíam com contos, poesias, críticas de arte, crônicas e reportagens", salienta Salturi. Dentre os escritores mais importantes merecem destaque: Euclides Bandeira, Emiliano Pernetta, Emílio de Menezes, Dario Vellozo, Tasso da Silveira e Romário Martins.

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