Se pudesse dar dois conselhos para a construção do metrô de Curitiba, a Lord Mayor Alderman Fiona Woolf, que é a autoridade máxima da City of London, distrito financeiro de Londres, diria para investir em planejamento e novas tecnologias. "Se você tiver um bom projeto, será mais fácil para o setor privado levantar fundos e oferecer um bom financiamento", afirma.
E ela sabe do que está falando. Desde 2009, Londres está tocando a obra do "crossrail", um complexo sistema ferroviário que vai cruzar a cidade, integrando várias regiões com o objetivo de combater a falta de capacidade do sistema viário local. São mais de 100 quilômetros de extensão, de Reading a Heathrow e de Shenfield a Abbey Wood, que faz dele o maior projeto construtivo da Europa.
Com ampla experiência na estruturação e financiamento de grandes projetos de infraestrutura e energia em todo o mundo, Fiona lidera uma missão comercial britânica que está no Brasil até a próxima semana para buscar possíveis acordos bilaterais e uma agenda conjunta de trabalho entre os dois países, principalmente sobre crescimento econômico e oportunidades de emprego. "Precisamos sustentar o crescimento que tivemos e ajudar a continuar crescendo."
Em Curitiba para uma reunião com o vice-governador Flávio Arns (PSDB), onde apresentou algumas experiências britânicas em parcerias público-privadas (PPP), Fiona conversou com a Gazeta do Povo sobre PPPs, mobilidade urbana e o legado de grandes eventos.
Entrevista
Fiona Woolf, autoridade máxima da City of London, distrito financeiro de Londres.
No Paraná, o encontro com o vice-governador Flávio Arns tem como pauta a experiência britânica em parcerias público-privadas no setor de transportes. Qual a importância das PPPs?
Transporte é uma área muito frutífera para as parcerias público-privadas e nós usamos essa técnica de várias formas diferentes, não há um só modelo para isso. Usamos com muito sucesso em energia, para a construção de infraestrutura pública e social, como escolas, hospitais e prisões. Estive no Uruguai e lá a técnica foi usada para a construção de uma prisão. Para as cidades, é uma solução muito efetiva.
E em Londres, quais são os bons exemplos da cidade?
Usamos PPP em Londres com os ônibus, e temos uma grande rede, em parte do sistema de ferrovia aberto e fizemos algumas experiências usando para a expansão do metrô. É mais complicado usar nesse caso, mas é possível. Nesse momento, estamos usando para o maior projeto de construção na Europa, o Crossrail, que é um grande túnel entre o leste e oeste de Londres. Do ponto de vista da construção, é muito excitante, há muita nova tecnologia sendo usada. Outro ponto é que quem trabalha com PPP em Londres, faz isso em todo o mundo: são colecionadores de experiências. Além de planejar a obra e seu desenvolvimento, coisas muito importantes que são esquecidas são como operar, dar segurança ao sistema e manter a cidade funcionando enquanto ele é construído. Essa é a nossa grande questão no momento com o Crossrail.
O metrô de Londres é considerado um bom exemplo do modal em todo o mundo, gerido por uma empresa pública, e com a PPP para expansão. Esse exemplo pode ajudar Curitiba que está lançando o edital de licitação do seu sistema?
Não só do exemplo de Londres, mas mundial, que é perceber quando a cidade começa a crescer e a única solução de mobilidade é o metrô. O mais importante é planejar apropriadamente. Se você cometer um erro, será muito difícil consertar depois, e investir em planejamento significa economizar muito dinheiro depois. Se você tiver um bom projeto, será mais fácil para o setor privado levantar fundos e oferecer um bom financiamento. Um projeto ruim vem com riscos, e o custo aumenta, por causa do preço do seguro. No mercado financeiro de Londres, há um pensamento inovador sobre levantar fundos de longo prazo para projetos de infraestrutura, com novas opções de seguro que mitigam o risco na construção, a confiança no lucro e protegem contra as incertezas do futuro.
Londres se preparou bem para as Olimpíadas, em 2012. O que você destacaria?
Eu diria que tivemos três sucessos nos Jogos Olímpicos. A primeira, que nos fez ficar prontos no prazo e abaixo do custo, foi o uso de novas tecnologias na construção e em gestão. O segundo é o legado para o povo. Nós não construímos nada que não seria útil, nenhum elefante branco, e fizemos um sistema de transporte que atendesse ao Parque Olímpico, mas sem pensar apenas no evento, e sim em quem morava na região. Deu certo e acabou atraindo outras pessoas para construírem suas casas lá. O terceiro ponto foi o voluntariado. Os voluntários foram fantásticos e continuaram ajudando em suas comunidades, escolas e em ações de caridade. Ter um legado de voluntariado é maravilhoso.