Ele passou a sexta-feira trabalhando na construção de uma nova casa para a mãe. É que, pedreiro, aproveitou uma folga na obra que tocava para se dedicar à família. O reboco exigiu uma hora a mais que o costume. Quando largou o batente, depois das 18 horas, ficou batendo papo com os pais, irmãos e o filho. Tomou banho. Jantou com a família. Já passava das 20 horas quando pegou a mochila e despediu-se do filho: era hora de voltar para a casa da mulher, trajeto que costumava fazer de bicicleta. Marco Aurélio Sadlovisk, de 31 anos, nunca chegou ao destino. Uma picape prata o atropelou na BR-116 e arrastou seu corpo por seis quilômetros.
A irmã Isabel conta que antes das 21 horas, a cunhada ligou para saber do marido. Marco Aurélio não havia chegado em casa e não atendia o celular. Pouco depois, Isabel recebeu uma ligação. Era um policial, informando do acidente. Seu marido havia morrido. Sadlovisk foi atropelado pelo caminhoneiro aposentado José Adil Simioni, de 58 anos, que estava embriagado no momento do acidente.
A vez de Antônio*
A bicicleta foi encontrada no quilômetro 11, onde a polícia acredita que houve a colisão. Com a força da batida, o ciclista ficou preso no para-brisa da caminhonete, que rodou mais seis quilômetros. José só parou quando Antônio* colocou sua moto na frente do veículo, já no Trevo do Atuba, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
Antônio* vinha pela Rua Abel Scussiato quando viu José fazer um balão no trevo, em alta velocidade. "Ouvi um pessoal gritar que ele estava fugindo e então vi o rapaz pendurado", conta o motociclista. Antônio* avançou com a moto para a frente da caminhonete, que só parou de acelerar quando outra pessoa arrancou a chave da ignição. Alguns já estavam seguindo o carro na rodovia. Tentaram linchar José. A Guarda Municipal de Pinhais chegou rapidamente, evitou outra tragédia e prendeu o motorista em flagrante.
O policial rodoviário federal Fernando César de Oliveira foi quem atendeu a ocorrência. O bafômetro apontou que o motorista tinha 2 miligramas de álcool por litro de ar. A polícia não sabe se ele tinha consumido ainda mais, porque esse era o limite do aparelho. Trabalhando há um ano nesse trecho da rodovia, que vai até a divisa com São Paulo, Oliveira atendeu a quatro ocorrências com morte: três vítimas eram ciclistas.
José foi preso e levado para a delegacia do Alto Maracanã, em Colombo. Ele foi acusado de homicídio doloso, por dirigir embriagado e omissão de socorro.
*Nome fictício. O motociclista não quis se identificar.