Família
"Ele era uma pessoa de bom coração", diz irmã de vítima
O percurso que Marco Aurélio Sadlovski fez no dia em que foi atropelado não preocupava a família. O caminho entre a região onde fica a fábrica da Eternit casa dos pais até a Vila Liberdade, onde vivia com a mulher, era conhecido como a palma da mão. "Não aconteceria nada se aquele homem não tivesse bebido. Ele podia ter matado qualquer um, pelo jeito que dirigia", lamenta Isabel, irmã da vítima.
Ela define o irmão como uma boa pessoa, que sempre procurou ajudar a família. "Não era perfeito, mas tinha bom coração", diz. Os pais tiveram sete filhos e já haviam perdido uma filha, que teve câncer, há alguns anos. Sadlovski era casado e tinha dois filhos, uma menina de 12 anos e um menino de 11. O menino gostava de trabalhar com o pai, que o havia ensinado a rebocar. "No dia em que ele faleceu, o filho ficou ajudando o tempo todo", lembra a irmã.
Isabel lembra que o irmão estava fazendo uma obra para um rapaz que morava próximo da casa do motorista que o atropelou. "Meu irmão já tinha conversado com esse senhor que atropelou ele. Meu irmão foi uma pessoa que sofreu tanto. Ele nem teve chance de vida", lamenta.
"Fatalidade"
O acidente foi uma fatalidade. Essa é a opinião de Julio Cezar Rodrigues, advogado do caminhoneiro José Adil Simioni. "Ele está extremamente arrasado. Nunca teve problema, mas aconteceu essa fatalidade", diz.
Rodrigues pediu o relaxamento da prisão de José Simioni, que tem um casal de filhos e vive em Pinhais com a esposa.
O caminhoneiro tem problemas cardíacos: em 2003 fez quatro pontes de safena. Ele foi aposentado por invalidez em 2010, depois de uma cirurgia de coluna que o impediu de dirigir caminhão e carregar peso.
23 mortes por dia
Relatório da Polícia Rodoviária Federal mostra que, só em 2013, 8.375 pessoas morreram (média de 23 por dia), e 103.075 ficaram feridas em 185.877 acidentes registrados nas estradas federais. O relatório da PRF aponta ainda que 38.079 motoristas foram flagrados dirigindo depois de ingerir algum tipo de bebida alcoólica. Desses, 11.868 acabaram presos. Ano passado, a PRF fazia uma média de 40 testes para cada motorista multado por alcoolemia. Em 2012, bastavam 20 testes.
Ele passou a sexta-feira trabalhando na construção de uma nova casa para a mãe. É que, pedreiro, aproveitou uma folga na obra que tocava para se dedicar à família. O reboco exigiu uma hora a mais que o costume. Quando largou o batente, depois das 18 horas, ficou batendo papo com os pais, irmãos e o filho. Tomou banho. Jantou com a família. Já passava das 20 horas quando pegou a mochila e despediu-se do filho: era hora de voltar para a casa da mulher, trajeto que costumava fazer de bicicleta. Marco Aurélio Sadlovisk, de 31 anos, nunca chegou ao destino. Uma picape prata o atropelou na BR-116 e arrastou seu corpo por seis quilômetros.
INFOGRÁFICO: veja mapa do acidente
VÍDEO: atropelamento foi registrado por câmara de segurança
A irmã Isabel conta que antes das 21 horas, a cunhada ligou para saber do marido. Marco Aurélio não havia chegado em casa e não atendia o celular. Pouco depois, Isabel recebeu uma ligação. Era um policial, informando do acidente. Seu marido havia morrido. Sadlovisk foi atropelado pelo caminhoneiro aposentado José Adil Simioni, de 58 anos, que estava embriagado no momento do acidente.
A vez de Antônio*
A bicicleta foi encontrada no quilômetro 11, onde a polícia acredita que houve a colisão. Com a força da batida, o ciclista ficou preso no para-brisa da caminhonete, que rodou mais seis quilômetros. José só parou quando Antônio* colocou sua moto na frente do veículo, já no Trevo do Atuba, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
Antônio* vinha pela Rua Abel Scussiato quando viu José fazer um balão no trevo, em alta velocidade. "Ouvi um pessoal gritar que ele estava fugindo e então vi o rapaz pendurado", conta o motociclista. Antônio* avançou com a moto para a frente da caminhonete, que só parou de acelerar quando outra pessoa arrancou a chave da ignição. Alguns já estavam seguindo o carro na rodovia. Tentaram linchar José. A Guarda Municipal de Pinhais chegou rapidamente, evitou outra tragédia e prendeu o motorista em flagrante.
O policial rodoviário federal Fernando César de Oliveira foi quem atendeu a ocorrência. O bafômetro apontou que o motorista tinha 2 miligramas de álcool por litro de ar. A polícia não sabe se ele tinha consumido ainda mais, porque esse era o limite do aparelho. Trabalhando há um ano nesse trecho da rodovia, que vai até a divisa com São Paulo, Oliveira atendeu a quatro ocorrências com morte: três vítimas eram ciclistas.
José foi preso e levado para a delegacia do Alto Maracanã, em Colombo. Ele foi acusado de homicídio doloso, por dirigir embriagado e omissão de socorro.
*Nome fictício. O motociclista não quis se identificar.
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