Causas
Atividade física nas escolas é insuficiente, aponta professor
Outro fator preponderante para que 25% dos estudantes estejam acima do peso pode ser a escassez de atividades físicas nas escolas. Com a obrigatoriedade de apenas três aulas semanais de Educação Física, com duração de 45 a 50 minutos cada uma, alguns jovens se veem desestimulados a praticar esportes.
"Fazer uma ou duas aulas por semana e não fazer nada é quase a mesma coisa. Já há especialistas que apontam a necessidade de ter cinco aulas por semana", ressalta o professor de Educação Física Ben Hur Chiconato. Para tentar minimizar esse quadro, ele afirma que no colégio em que trabalha são ofertadas 11 modalidades esportivas em horário extracurricular. "A gente fornece vários treinos para quem quer participar das atividades físicas. Mas não podemos obrigar os alunos a participarem", lamenta.
Alimentos gordurosos têm preços atrativos
O fato de que os adolescentes apresentam hábitos alimentares inadequados é consenso entre os especialistas. Mas isso não é culpa exclusiva dos jovens. Para a nutricionista Islândia Bezerra, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutora em Saúde Pública, responsabilizar apenas os alunos é lavar as mãos. "Todo o sistema é culpado. Hoje, com alguns centavos, é possível comprar salgadinhos que fazem mal ao organismo, com alto índice de sódio, gordura e açúcar", afirma.
Segundo ela, é necessário elaborar políticas públicas para alertar o jovem sobre a importância de ingerir alimentos saudáveis. "Mas é uma luta desigual. Há um apelo em toda a mídia que obriga ao consumo de comidas prontas. De nada adianta falar de alimentação saudável apenas na escola; a forma como a família do jovem se alimenta é outra questão que deve ser trabalhada", afirma.
A professora enfatiza ainda que, muitas vezes, o alimento industrializado representa a opção mais barata para o consumidor. "Muitas famílias não têm condições financeiras de ir ao mercado toda semana para comprar frutas e verduras. O agravante é a falta de políticas públicas no Brasil para reverter esse quadro", salienta.
A nutricionista Isa de Gouveia Jorge, da Universidade de São Paulo (USP), também acredita que é necessário propor medidas que visem a conscientizar toda a sociedade sobre alimentação adequada. "Primeiramente é necessário mudar os hábitos da família. A escola pode ter uma parcela de culpa, mas os pais têm dificuldade de reconhecer que o filho está acima do peso e não se preocupam com o que ele está comendo. O combate à obesidade deve começar na família", afirma.
Refeição
Melhorias na merenda escolar
A merenda escolar é elaborada, segundo a coordenadora estadual de Alimentação e Nutrição Escolar da Seed, Márcia Cristina Stolarski, por nutricionistas e tem por objetivo garantir uma alimentação saudável. "A gente busca servir alimentos que possuam nutrientes necessários aos estudantes, com um cardápio balanceado", afirma. Por lei, aproximadamente 30% dos alimentos da merenda escolar devem ser comprados diretamente de agricultores familiares. "Isso traz a perspectiva de uma alimentação saudável (já que o alimento não é industrializado). O desafio, agora, é colocar essa medida em prática. Nem todas as escolas fazem isso", aponta a nutricionista Islândia Bezerra, professora da UFPR.
Ela ainda lamenta o fato de não existirem profissionais específicos para a preparação das merendas nos colégios do Paraná. "Tem colégio que nem faca possui para servir o lanche. Além disso, não existem pessoas capacitadas para a função. O quadro é desesperador", enfatiza.
A nutricionista Isa Jorge, da Universidade de São Paulo (USP), revela que conhece muitas merendas servidas pelo país e nem todas se enquadram corretamente em uma dieta saudável. "Muitos colégios servem até biscoitos recheados ao invés de frutas. Isso é um problema no Brasil inteiro", diz.
Um em cada quatro estudantes dos colégios estaduais do Paraná encontra-se acima do peso ideal. Um estudo realizado no ano passado pela Secretaria Estadual de Educação (Seed) e publicado recentemente revela que 8% dos alunos são obesos e 17% estão com sobrepeso. A avaliação foi executada pelos professores de Educação Física, que verificaram peso e altura de mais de 927.417 jovens dos ensinos fundamental e médio. A avaliação ainda mostra que 2,3% possuem magreza excessiva. Entre os alunos avaliados, 612 mil são do ensino fundamental, 314.325 estão no ensino médio e aproximadamente 1,2 mil são da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e do Projovem, programa direcionado àqueles que não concluíram o ensino fundamental.
Os números mais preocupantes estão entre os estudantes do fundamental: 18% estão com sobrepeso e 9% enquadram-se como obesos. Levando-se em consideração o total de alunos pesquisados, de todas as etapas de ensino, a obesidade é mais comum nos alunos do sexo masculino: 9%. Entre as meninas, o porcentual é de 7%. As mulheres, por outro lado, lideram o ranking no índice de sobrepeso, com 18% contra 16,2% entre os rapazes.
Preocupação
Os números são considerados preocupantes pelo governo estadual. Segundo a coordenadora de Alimentação e Nutrição Escolar da Seed, Márcia Cristina Stolarski, é necessário aplicar políticas públicas para evitar que os adolescentes apresentem precocemente diabete, problemas cardíacos e hipertensão arterial, entre outras doenças. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 2,8 milhões de pessoas morrem a cada ano em decorrência do excesso de peso ou obesidade. "Temos de levantar ações para a conscientização escolar como um todo, dos alunos e pais até os professores. O problema, muitas vezes, não é apenas o que o aluno come no colégio, na merenda, mas o que ele come fora. Ainda há os que levam como lanche para o ambiente escolar, frituras e refrigerantes", ressalta Márcia.
Ela explica que a avaliação nutricional ocorrerá anualmente e em 2011 serão incluídos os funcionários dos colégios. "O objetivo do monitoramento é obter informações sobre o estado nutricional dos alunos e servidores da rede pública estadual de ensino", explica. De acordo com Márcia, o levantamento pretende subsidiar o planejamento e a execução de ações de educação nutricional, com o intuito de promover a alimentação saudável e controlar as doenças crônicas. "Temos de provocar ações para mudar os hábitos alimentares de todos. É fundamental conscientizar os pais a terem também uma alimentação adequada em suas casas", afirma.
No Paraná, está em vigor há aproximadamente seis anos uma lei (n.º 14.423/2004) que proíbe as cantinas das escolas, públicas e particulares, de comercializarem salgados fritos, refrigerantes, salgadinhos industrializados e doces. Porém, para a coordenadora estadual, a legislação é insuficiente no controle da alimentação dos jovens. "Ao redor dos colégios cresce o número de lanchonetes que vendem alimentos inadequados aos estudantes. O jovem vai lá, compra e come. A merenda escolar, que é elaborada por nutricionistas, representa apenas de 15 a 20% da alimentação diária do jovem. O problema é o que ele ingere no restante do dia", diz.
Cardápio balanceado na rede privada
Na rede privada de ensino também existe a preocupação com o sobrepeso entre os estudantes. Em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, por exemplo, o Colégio Sepam realiza duas vezes por ano uma ampla avaliação física com os alunos. Além de medir o peso e a altura, os profissionais de Educação Física avaliam a flexibilidade, a envergadura e o índice de gordura localizada. Os exames são realizados no início e no final do ano letivo.
Leonardo Pereira de Jesus, de 13 anos, aluno da 7ª série da escola, é quase um exemplo no que se refere a atividades físicas e alimentação adequada. Com notas consideradas boas, ele ainda treina quatro modalidades esportivas futsal, basquete, judô e handebol e tem um cardápio balanceado. "Em casa, minha família estimula a gente a comer alimentos mais saudáveis, como frutas e legumes. Eu até como algumas porcarias de vez em quando, mas procuro evitar", conta. O estudante afirma não ligar para o fato de a cantina do colégio não comercializar nem frituras nem refrigerantes. "Como eu quase não como essas coisas, nem sinto falta", diz.
No Colégio Positivo de Jaguariaíva, no Norte do estado, a situação não é diferente. Segundo a diretora, Sônia Rogenski, além de a cantina não vender qualquer tipo de fritura e refrigerante, os alunos são estimulados a trazer frutas para a hora do intervalo. "A gente sempre procura conversar com os pais para que os alunos tenham uma alimentação balanceada. Na semana passada, teve uma avaliação da taxa de gordura dos estudantes. Anualmente é realizado um exame físico para avaliar como está o peso dos alunos", informa.
Segundo o presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-PR), Ademar Batista Pereira, os colégios privados recebem orientações da Secretaria Estadual de Saúde e do Ministério da Saúde para evitar o sobrepeso dos estudantes. "São realizados programas voltados ao combate da obesidade e do sobrepeso, com avaliações físicas e orientações tanto para os pais quanto para os alunos", afirma.
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