O retrato das "gangues" de Curitiba ainda é o mesmo daquele feito em 1998 para o projeto da Unesco "Juventude, Violência e Cidadania nas Cidades do Brasil", trabalho de uma dezena de profissionais assinado pela cientista social Ana Luisa Fayet Sallas. Os adolescentes curitibanos estão divididos em grupos, não em gangues, observa o coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR, Pedro Bodê. Ainda hoje estaria prevalecendo a opinião dos 900 jovens de 14 a 20 anos ouvidos na época em escolas públicas e particulares.
De acordo com o estudo, em Curitiba, como em outras cidades, é considerada "atividade de gangue" desde depredação promovida pelas torcidas de futebol depois dos jogos até crimes praticados por pequenos grupos, que em nada têm de estrutura de gangue, no sentido estrito do termo. "Em quase todas (entrevistas) indagamos sobre tais organizações e as respostas apontaram sempre para grupos que se associam por território, local de moradia etc., respostas que não podem ser comparadas com a definição de gangues no sentido sociológico e histórico do termo", observa Ana Luisa.
Os grupos de jovens curitibanos, com múltipla denominação, aparecem como comandos, torcidas, turmas, galeras e gangues. Em síntese, torcida é a reunião de pessoas cuja afinidade é o time de futebol, enquanto galera é um grupo menor com outras afinidades, as "panelinhas". A diferença entre comando e gangue estaria no tamanho e local de atuação. O primeiro seria maior e teria uma grande área de atuação. Mas a conceituação de gangues e comandos é muito difusa entre os estudantes.
Para alguns, as gangues são grupos mais violentos, que se reúnem para "badernar", "uma turma de vândalos". Alguns procuram diferenciar-se como "gangue defensiva", cuja missão é proteger os seus integrantes ao invés de cometer crimes. "Ou seja, eventualmente os jovens pertencentes a gangues podem se envolver em brigas para proteger um amigo", constata o estudo da Unesco.
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