Rio de Janeiro Além do desânimo do eleitorado e do aparente desdém de grande parte com as denúncias de corrupção, as eleições deste ano têm sido marcadas pela ausência de grandes viradas. Desde o início da campanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém liderança folgada nas pesquisas de intenção de voto, que apontam para uma vitória no primeiro turno. O fenômeno se repete na maioria dos estados. Até agora só foi verificada uma reação, a de Cid Gomes (PSB) sobre Lúcio Alcântara (PSDB) na disputa pelo governo do Ceará.
Por enquanto, a hora da virada está restrita ao discurso quase monocórdio dos candidatos que não estão na liderança nas pesquisas. Só as urnas dirão o quanto há de verdade ou de estratégia motivacional, mas a perspectiva de especialistas e a história eleitoral brasileira são pouco animadoras. O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, afirma que, a esta altura, só um grande fato político pode interferir numa eleição que, pelas pesquisas, terminará no primeiro turno.
"Desde 1985, nunca houve uma grande virada na eleição presidencial. É bom lembrar que, em 1994, Fernando Henrique ultrapassou Lula nas pesquisas bem no início da campanha, nem havia começado o horário eleitoral. Só aconteceu por causa do Plano Real", diz Montenegro.
Os números dão bem a dimensão do desafio dos concorrentes de Lula. Segundo estudo da consultoria Mosaico Economia Política, o petista precisa perder até 1.º de outubro ou 301.186 por dia para seus adversários, a fim de que a eleição seja decidida no segundo turno. Mas para o economista e cientista político Alexandre Marinis, autor do estudo, um fator pode atenuar a supremacia de Lula.
"Lula é mais forte no Nordeste, região onde historicamente se registram mais abstenções e votos nulos e em branco. Isso pode diminuir o número de votos que o presidente precisa perder", pondera Marinis.
Nas eleições para o governo do Rio, a situação de Sérgio Cabral Filho, do PMDB, ainda é boa, mas já não é tão confortável quanto a de Lula. Segundo o cálculo da Mosaico, a eleição vai para o segundo turno se o peemedebista perder 91.350 votos ou 4.350 por dia para seus adversários. Os números confirmam a tese de que, quanto maior o eleitorado, mais improvável é uma virada.
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