Conceito
Cooperação e cidadania atrai pais
A administradora Silvia Helena Gonçalves Bif, 43 anos, tem dois filhos no Colégio Cooperativa de Foz do Iguaçu, um na 8ª série do ensino fundamental e outro no 2º ano do médio. Contente com o sistema, ela diz que o cooperativismo faz diferença na formação. "Na cooperativa valoriza-se o trabalho conjunto, ao contrário das escolas convencionais, onde o ensino é muito individualista. O capitalismo leva à pessoa à individualidade", diz.
Josiane Maria Hoffmann da Silva, 39 anos, também administradora, diz que a vantagem de ter um filho em uma cooperativa educacional é o da formação, que não é só didática. "Há uma preocupação em ensinar valores e respeito", diz. Josiane tem dois filhos que estudam na Cooperativa Educacional da Lapa. Outro ponto que chama atenção dos pais é a disciplina. Para Josiane, a disciplina também é diferente porque a escola não tem muito alunos por sala e a direção chama os pais todo final de bimestre para conversar. Segundo o colégio, a disciplina está ligada à união entre família e escola. (DP)
Modelo traz dificuldades de administração
Sustentar um modelo onde os princípios da participação e colaboração são fundamentais não é fácil. Segundo os diretores das cooperativas educacionais, como o modelo de administração é diferenciado, alguns pais, quando se associam, demoram um pouco para absorvê-lo. Outra dificuldade é fazer as pessoas se habituarem ao trabalho conjunto, que é próprio das cooperativas.
Uma escola onde os pais têm a oportunidade de participar do projeto pedagógico, avaliar a metodologia de ensino e decidir a melhor forma de aplicação dos recursos. E os alunos aprendem noções de cidadania e cooperação. Apesar de pouco difundido, este modelo é realidade no Brasil e pode ser encontrado nas cooperativas educacionais.
No Brasil, há 302 cooperativas de pais, professores e alunos. Quatro delas funcionam no Paraná. As escolas cooperativas diferenciam-se por procurar envolver os pais na educação dos filhos e reinvestir sobras financeiras na expansão da infraestrutura ou na compra de materiais com vistas a melhorar a qualidade de ensino ofertada.
Como o sistema é cooperativista, os pais têm a opção de associar-se às escolas ao matricular os filhos. Para isso, paga-se uma cota-parte em algumas delas com valor simbólico. O valor da mensalidade é calculado conforme a necessidade de funcionamento da escola e, por isso, pode ser menor que a média do mercado. Quando o filho deixa a escola, em alguns casos os pais levam o que restou do capital investido. No entanto, atraídos pelo modelo participativo, muitos continuam cooperados.
Modelos
Permanecer na cooperativa mesmo não tendo mais o filho na escola é comum no Colégio Cooperativa de Foz do Iguaçu. Na cooperativa iguaçuense, nove dos 26 fundadores ainda estão ligados à escola, apesar de o próprio estatuto prever o afastamento após a formação dos filhos.
Com 340 cooperados a maioria pais de alunos , o Colégio Cooperativa foi fundado em 1995 por iniciativa de engenheiros da Itaipu Binacional, que fizeram a proposta para um grupo de pedagogos. A ideia era criar uma escola mais aberta, cidadã e com participação dos pais de alunos. "Chamamos os pais não para dar bronca, mas para eles entenderem como está caminhando a escola", diz a diretora pedagógica e uma das fundadoras da escola, Marieta Caponi Zabot.
Hoje a escola tem 500 alunos da educação infantil ao ensino médio e oferece aulas em turno integral, com atividades esportivas e artísticas, incluindo dança e música. Em sala de aula, com média de 20 a 25 alunos no ensino fundamental e 30 a 35 alunos no ensino médio, os princípios cooperativistas são trabalhados na disciplina de filosofia. "Temos um grupo em que todo mundo sente-se responsável", diz o diretor presidente da cooperativa, Emerson Fulgêncio de Lima.
Outra cooperativa educacional paranaense é a Coopermundi, de Dois Vizinhos, na região Sudoeste. A cooperativa surgiu em 1997 para administrar uma antiga escola com dificuldades financeiras e poucos alunos. Com o tempo, a instituição transformou-se. Lá todos os pais, professores e funcionários são sócios, num total de 398 cooperados. A cota-parte para entrar na cooperativa tem valor simbólico: R$ 36. E há 13 anos o colégio reinveste as sobras no próprio patrimônio.
Nas reuniões, há participação de pelo menos 90% das famílias. "Os pais não são meros pagantes de mensalidades. Quando se tem um problema, não tem aquela cultura de quem é o culpado", diz a diretora pedagógica do Colégio Coopermundi, Ivanete Perondi Bachi.
Em Curitiba, funciona a única cooperativa do estado voltada para o estudo de línguas, a Cooperativa de Educadores e Instrutores de Línguas (Ceilin). O sistema cooperativo foi adotado por permitir maior autonomia de cada cooperado. "Você é dono de uma empresa onde recebe pela produtividade que tem", diz o diretor-presidente Roberto Oliveira Souza Júnior.
A outra escola cooperativa paranaense fica na Lapa. Criada em 1994, a Cooperativa Educacional da Lapa tem 190 alunos, do ensino infantil ao médio. No colégio, além das disciplinas tradicionais, há projetos de Educação para o Trânsito, Música e Escola no Campo. As turmas são de no máximo 20 alunos e a cota-parte para os associados é de R$ 100.
Número 1
Primeira cooperativa educacional do Brasil, criada em 1981, a Escola Um, situada em Resende (RJ), tem 400 alunos. Não há calendário de provas fixo e a avaliação é contínua. E os professores têm motivação extra na sala de aula. "Há espaço para a auto-realização do professor", diz a diretora Maria Ivoneide Bezerra Pereira.
O estado de São Paulo é outro que se destaca no setor do cooperativismo educacional. Hoje, são cerca de 50 cooperativas em funcionamento, uma delas de línguas. No último Enem, 26 cooperativas educacionais de São Paulo tiveram posição de destaque. Entre elas estão a Nova Geração Cooperada, na cidade de Birigui, a Educativa, em São Carlos, e a Coopel, em Leme, que obtiveram o 1.º lugar no exame.
No Paraná, apenas a Coopermundi participou formalmente do Enem e conquistou o primeiro lugar no município de Dois Vizinhos. Também ficou entre as 10 melhores escolas da Região Sudoeste. Nas demais escolas do estado, os alunos fizeram o exame por iniciativa própria.
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