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Educação

Uma guerra anunciada nos bastidores da USP

Cenas de uma ocupação: desde novembro do ano passado, presença de policiais na USP desperta a ira de parte dos alunos | Helio Hilarião/Folhapress
Cenas de uma ocupação: desde novembro do ano passado, presença de policiais na USP desperta a ira de parte dos alunos (Foto: Helio Hilarião/Folhapress)

A Cidade Universitária da Universidade de São Paulo, a USP, ocupa uma área de 4 milhões de metros quadrados na Zona Oeste da capital paulistana. Ali fica a maior parte das faculdades que atendem a um total de quase 90 mil alunos, assim como a Reitoria. Perto da sede administrativa, duas meninas se beijam na boca diante dos olhares constrangidos de um PM. Nos arredores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, a FFLCH, um grupo animado e amante das teorias marxistas participa da Semana de Barba, Bigode e Baseado, dedicada "à libertação do corpo", fumando muitos cigarros – de lícitos a inusitados como os de orégano, e também de maconha. Bebendo cerveja, falam abertamente sobre experimentação sexual. Mas o que mais fazem é reclamar das políticas do reitor, João Grandino Rodas, tachado por eles de "linha-dura".

Já no moderno prédio da Faculdade de Economia e Administração(FEA), onde Felipe Ramos de Paiva, de 24 anos, foi morto com um tiro na cabeça em maio do ano passado – incidente que levou Rodas a intensificar a presença da Polícia Militar no câmpus – o clima é outro. "Deixamos a contestação política para a FFLCH, que respeitamos. Mas somos mais realistas, sem revolução", diz Jacqueline Carvalho, 20 anos, que cursa Engenharia Naval.

Generalizações à parte, a USP vive momentos de tensão e divisão, e os pontos de maior discordância entre os alunos são: a presença da Polícia Militar no "câmpus", a maconha, a expulsão recente de alunos e as políticas do reitor Rodas.

Para agravar o quadro, na semana passada, 79 alunos que invadiram a Reitoria em novembro do ano passado para protestar contra a detenção de três estudantes com maconha foram processado e estão sob risco de expulsão. Outros 12 foram acusados de invadir e depredar, durante o último carnaval, o prédio da Coordenadoria de Assistência Social (Coseas), reivindicando mais espaço de moradia no Crusp. Outros seis foram expulsos após protestos semelhantes em 2010.

"Até achamos as políticas do reitor extremadas, principalmente as relacionadas à expulsão de alunos. Mas, no momento, preferimos ver policiais patrulhando o câmpus. Aqui, como no restante de São Paulo, há violência. Já a maconha, enquanto ela for ilegal lá fora, também deveria ser aqui dentro", diz Beatriz Segundo, 19 anos, que cursa Engenharia Ambiental e faz parte dos 58% dos alunos da USP que, segundo pesquisa recente do DataFolha, concordam com a presença da polícia no câmpus.

A invasão da reitoria no ano passado e a atuação da polícia na ocasião foi um caso marcante. "Foi horrível, parecia que estávamos numa guerra. A polícia não está aqui para evitar a violência, mas sim para vigiar movimentações políticas dos uspianos. Estão militarizando a USP. Eles param o carro em vaga de deficiente, entram no quarto, fazem blitz, tentam extorquir dinheiro, é escandaloso", diz um estudante de Geografia, que prefere não se identificar.

Para o tenente-coronel Ulisses Puosso, as acusações são falsas. "Somos obrigados a deter estudantes com droga porque a lei é clara: viciados são notificados, mas não são presos", diz o tenente-coronel.

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