Idioma é ponte entre gerações
Sentadas em um canto da sala ou da cozinha, durante a preparação de uma saborosa torta holandesa, as crianças ouvem atentamente as histórias contadas pelos mais velhos. É assim que elas viajam para as primeiras décadas da imigração ou para os tempos da Segunda Guerra, nas vozes de seus opa e oma (avô e avó), tudo falado em holandês.
Um museu a céu aberto
Para comemorar os 100 anos da chegada dos imigrantes, em 1911, a cidade está montando um museu sobre a história da imigração. O Parque Histórico de Carambeí será o maior museu a céu aberto do mundo. Em um terreno de 100 mil metros quadrados será construída uma réplica da vila de Carambeí em seus primeiros anos, com estação ferroviária, igreja, praça e casas, ao lado da Casa da Memória, erguida em 1946.
Carambeí - A Holanda é aqui no Paraná, desde 1911, quando chegaram as primeiras três famílias pioneiras de holandeses e iniciaram a colônia em Carambeí à época distrito de Castro nos Campos Gerais. Desde então, uma grande comunidade foi formada na região. Apoiada no tripé educação, cooperativismo e religião, a Holanda paranaense completa seu primeiro centenário em 2011.
A colônia cresceu, transformou-se em cidade e ajudou também a desenvolver o sistema cooperativista e a indústria leiteira no Brasil. Para os imigrantes, um prêmio para quem passou fome e foi acometido por inúmeras doenças em uma terra estranha. O início não foi apenas difícil, mas frustrante, conta Peter Bosch, estudioso da história holandesa em Carambeí. "A promessa era de que eles viriam para cá morar em um paraíso, mas não era bem assim", conta. Bosch veio para o Brasil aos 6 anos, em 1962, direto para Arapoti, a terceira colônia de holandeses na região, formada depois de Carambeí e Castrolanda.
A primeira leva de imigrantes chegou à localidade de Gonçalves Júnior, hoje Irati, em 1906. O povo foi totalmente abandonado no meio do mato, em casebres sem assistência médica, técnica ou educacional. Acometidos por doenças, a maioria morreu, especialmente mulheres e crianças, dando origem ao "Cemitério das Mulheres". As três famílias que sobraram foram para Carambeí, em 1911 marco inaugural da imigração atrás das terras cedidas pela inglesa Railway Company, concessionária de ferrovias que ganhara do governo o direito de explorar as terras às margens dos trilhos.
Outras quatro famílias juntaram-se aos sobreviventes e iniciaram a produção de queijo, nos anos 1920. Entre as dificuldades, estava a língua. "Era comum você dizer uma coisa e o balconista entender outra completamente diferente", relembra o agricultor Dick de Geus. Mesmo assim, ele diz que "havia uma unidade muito forte. Mesmo sem ajuda nenhuma do estado, as famílias mantiveram todas as crianças alfabetizadas. Junto com a igreja e a cooperativa, a educação formava o tripé que manteve a comunidade".
O segredo
Wat was het geheim van de hollanders in Carambeí? Essa era a grande pergunta dos brasileiros, traduzida para o holandês, para tentar entender o sucesso dos imigrantes na produção de leite e derivados, na metade do século passado. Afinal, "qual é o segredo dos holandeses?", questionavam, perplexos com a superprodução leiteira e o sucesso da primeira cooperativa do Brasil, fundada em 1925. "Alguns colonos tinham informações de cooperativas bem-sucedidas na Holanda. De 1925 até 1941 nem existia lei sobre isso, mas aqui funcionava. Todos, independente do tamanho, tinham os seus direitos garantidos", relata Dick de Geus.
Tradição leiteira
Após a Segunda Guerra Mundial, uma nova leva de imigrantes, especialistas em criação de gado leiteiro, deu impulso à produção. "Eles fizeram da região um oásis de leite de qualidade dentro do Brasil. Tínhamos gado com produção de até 50 litros por dia, com qualidade invejada por todos os nossos concorrentes. Todo mundo queria comprar a cooperativa", narra Peter Bosch. O segredo tão buscado pela concorrência estava na tradição. "Era a cultura holandesa. Na Holanda, fraude de leite não existe. Assim como na Índia a vaca é sagrada, na Holanda, o leite é sagrado, era nossa tradição fornecer leite com qualidade", conta.
Hoje, o sentimento que predomina entre imigrantes e descendentes é de orgulho. "Orgulho por eles terem vencido, em um país estranho, sem saber falar a língua. O mais triste no imigrante é ele ter de retornar ao seu país de origem. Aqui sabíamos que era uma vinda sem volta, era vencer ou vencer".
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