Compartilhar o próprio carro ou usar a carona solidária tornaram-se tão comuns entre os franceses que hoje o trânsito de Paris flui melhor do que há duas décadas. As restrições a carros na área central levaram as pessoas para os transportes públicos ou alternativos. As impressões são do brasileiro Víctor Etgens, uma autoridade no assunto. Professor de Física da Universidade de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines, foi dele a palestra magna desta quinta-feira na abertura do seminário “Uso do automóvel na cidade”, em Curitiba.
Víctor é diretor do Instituto Vedecom, órgão francês dedicado à pesquisa e formação na área de mobilidade sustentável que atua em parceria com setores da indústria e serviços e instituições de pesquisa e ensino superior. O instituto atua na elaboração da política de mobilidade sustentável do governo francês e é líder em inovação nas áreas de veículos eletrificados, carros autônomos e conectados e novas estruturas e serviços de mobilidade e energia. Víctor salienta que uma iniciativa só não basta para fazer a diferença. Mas, no conjunto das ideias, a França tem mostrado um bom caminho.
O sistema pioneiro de carro compartilhado é o Autolib, que estreou em 2011 em Paris. Hoje, o sistema de car sharing tem mais de 2.500 veículos elétricos em 900 estações na capital francesa e arredores, com 130 mil usuários cadastrados. Uma pesquisa revela que o Autolib diminuiu em 63% o uso diário de carro pessoal e 57% dos usuários recorrem ao sistema mais de duas vezes por semana. A ideia se espalhou pelo mundo e, no Brasil, algumas cidades começam a fazer testes com o sistema.
Outras iniciativas ajudaram nas mudanças na França. Houve um aumento no número de ciclovias e dos corredores de ônibus, mas é o comportamento do francês que tem descongestionado o trânsito, não só em Paris. A França tem muitos estacionamentos dedicados à carona solidária, onde as pessoas deixam seus carros e seguem viagem com outras um único veículo, rachando a despesa. Na Europa há vários sites e aplicativos onde motoristas e caroneiros se cadastram.
Por que alguém se disporia a compartilhar o carro? As redes sociais têm ajudado a quebrar barreiras. Nos sites de compartilhamento, a exemplo do modelo curitibano do Fleety, o passageiro pode dar nota para o condutor e vice-versa. Uma forma de avaliar as pessoas e os serviços para que as pessoas possam filtrar o perfil do acompanhante que deseja.
O sistema tem baixo custo. Só é necessário um estacionamento seguro nos arredores da cidade. Em geral, as viagens compartilhadas são programadas, quando já se sabe a rotina diária, o horário e o destino. Mas isso funciona também para deslocamentos eventuais. Dá para usar um aplicativo e buscar pessoas ao redor que estejam indo para o lugar que se deseja ir. Esses aplicativos são similares aos que rastreiam táxis, mas Victor salienta que eles devem ser um meio alternativo de mobilidade e não um concorrente dos taxistas.
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