Em um tempo onde a concentração do comércio de Curitiba se restringia à Rua XV de Novembro e às Praças Tiradentes e Generoso Marques, um rapaz de 33 anos decidiu criar uma loja especializada em roupas e acessórios masculinos no arrabalde da Praça Osório. Não dava para dizer que a Rua Senador Alencar Guimarães estava a quilômetros de distância dos demais estabelecimentos comerciais da cidade, mas era o suficiente para deixar outros comerciantes locais espantados com a escolha. Talvez por teimosia ou por acreditar tanto na sua ideia foi que Carlos da Costa Coelho, hoje chamado Seu Coelho, não deu ouvidos à "experiência" de outros e em 1957 abriu as portas da Loja Coelho.
"Naquele tempo, a rua era só de residências, então fomos o primeiro comércio daqui. Com o tempo, fomos crescendo e abrimos outras lojas na cidade com o mesmo nome. A da XV teve sucesso por 28 anos, mas tivemos que fechar", conta o fundador e até hoje responsável pela administração do estabelecimento.
Ali, no calçadão que liga a Osório à Rua Emiliano Perneta, são vendidos gravatas, chapéus, calçados, lenços, roupas, bengalas e outros acessórios. "Tudo o que um homem precisa para se vestir elegantemente tem aqui, desde a meia até a cueca", fala Seu Coelho. Hoje, a loja já disponibiliza alguns produtos para senhoras também, como lenços, echarpes e sombrinhas.
Viagem no tempo
Mantida em funcionamento exatamente da mesma maneira há quase 56 anos, a Loja Coelho é um convite a uma parada no tempo e funciona quase como um museu. Os móveis, feitos sob medida para sua inauguração, suportam não só os artigos à venda, mas também objetos de decoração adquiridos ao longo do tempo nas viagens de Seu Coelho, que sabe exatamente onde está cada quadro, cada miniatura ou bibelô.
Com o atendimento cuidadoso, a loja conquistou clientes fiéis que muitas vezes fizeram da compra de roupas e artigos de vestuário uma tradição passada para filhos e netos. "Temos uma freguesia tradicional. Ninguém vem comprar aqui porque passou em frente à loja e viu que tinha um produto, mas todo dia tem cliente novo. Isso acontece porque um conta para o outro e quem vem já sabe o que vendemos."
Ao longo das cinco décadas de vendas de chapéus e gravatas, milhares de rostos conhecidos ou não passaram por aquelas portas de vidro. "Para mim todos são famosos, importantes, mas já vieram comprar aqui secretários, ministros e até o Juscelino Kubitschek, logo depois que deixou a presidência. Sem contar nos que entram, compram e vão embora sem dizer que cargo ocupam."
E mesmo com 88 anos é ele ainda quem faz as compras, treina os funcionários e administra o que pode. Sempre com muita elegância e a confirmação de que o negócio deu certo. "Todas as outras lojas do ramo na cidade fecharam, sem contar nos amigos de outros estados que abriram um comércio como este junto comigo e que hoje as lojas já não existem mais", diz Seu Coelho, que promete trabalhar enquanto tiver vida na "loja para homens", como diz o letreiro na porta.
Vida e Cidadania | 2:52
Roupas, chapéus, bengalas, sapatos e uma decoração particular fazem do espaço próximo à Praça Osório, no Centro de Curitiba, um lugar único. O comércio vira museu e convida para um olhar mais demorado.