É possível respirar ar puro em uma grande metrópole. Basta que todos cultivem mais plantas, tanto em espaços públicos como em casa e no trabalho. Em síntese, eis a principal mensagem disseminada pelo engenheiro florestal Bo Stridsberg, de 66 anos.
Este sueco, morador de Curitiba há mais de uma década, pode ser visto pelas ruas da cidade carregando uma "fazenda portátil" na mochila. Assim ele se refere ao "toka trekko", sua miniestufa desenvolvida com garrafas PET, e que abriga normalmente uma muda de palmeira.
Com esse invento nas costas, ele desperta a atenção das pessoas e aproveita para puxar papo sobre ecologia urbana. "O toka trekko já está na internet. Mas como muitos ainda não têm acesso à rede, essa é a melhor maneira de divulgá-lo", explica. "As pessoas sempre querem saber o que eu tenho na garrafa."
Para o engenheiro florestal, o hábito de cultivar diversos tipos de vegetação precisa ser estimulado urgentemente, pois é uma forma barata de se melhorar a qualidade do ar, pelo menos em espaços fechados.
Por mais que a atmosfera de uma cidade esteja com ar impróprio, se em uma sala houver no mínimo quatro palmeiras (Dypsis lutescens) e oito espadas-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata) para cada pessoa, o ar ali dentro será limpo. Tais plantas, além de serem fáceis de cuidar, são grandes produtoras de oxigênio, afirma o sueco, citando estudos desenvolvidos pela Nasa e pelo Instituto de Tecnologia da Índia.
Política verde
A agricultura urbana é uma prática simples que Bo Stridsberg recomenda a todos os cidadãos. "Não preciso ser médico para constatar que muitas crianças na cidade sofrem com falta de vitaminas", diz ele, lembrando que pequenas hortas domésticas ajudariam a melhorar o cardápio de todos, principalmente das pessoas mais carentes.
O engenheiro florestal conta que, na década de 1990, começou a desenvolver um trabalho na Vila das Torres, estimulando os moradores a plantar legumes e verduras em tambores com terra. Abandonou o projeto, porém, quando percebeu que a ação estava sendo usada para promover o nome de políticos. "Infelizmente o Brasil tem pragas que não existem na Suécia: dengue, malária e vereador", resume assim a história.
Um matagal como lar
Diferente da esposa Mônica, que é astróloga, Bo Stridsberg não se considera um sujeito supersticioso. Por isso não foi para afastar mau-olhado que ele convenceu a mulher a deixar dezenas de espadas-de-são-jorge em volta da cama do casal. Bo explica que, à noite, essa folhagem libera oxigênio (enquanto a maioria das plantas libera gás carbônico nessa hora), trazendo um ar puro ao quarto de dormir.
Do lado de fora de sua pequena casa, Bo também mostra como é possível ocupar os espaços livres com a vegetação. Ele dispôs uma centena de vasos e toka trekkos com as mais variadas plantas (comestíveis e ornamentais) até pelos muros do seu terreno. "Um bom lugar para se viver é aquele que se parece com um matagal", garante.