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Uma paisagem em despedida

A psicóloga Eleonor Cecília Batista no pavilhão masculino “Lins de Vasconcellos”, já desativado: celas, paredes largas e vãos nas portas são documento sobre mentalidade manicomial do século passado | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
A psicóloga Eleonor Cecília Batista no pavilhão masculino “Lins de Vasconcellos”, já desativado: celas, paredes largas e vãos nas portas são documento sobre mentalidade manicomial do século passado (Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)
Populares picham muro do Bom Retiro: não a shoppings e medo de perder a mata de aproximados 20 mil metros quadrados |

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Populares picham muro do Bom Retiro: não a shoppings e medo de perder a mata de aproximados 20 mil metros quadrados

A contar pela pichação, população teme que bosque e hospital deem lugar a shopping. Não há registros na prefeitura de projeto para o local |

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A contar pela pichação, população teme que bosque e hospital deem lugar a shopping. Não há registros na prefeitura de projeto para o local

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Geral do bosque do Hospital Bom Retiro, com cerca de 20 mil metros quadrados |

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Geral do bosque do Hospital Bom Retiro, com cerca de 20 mil metros quadrados

Detalhe do bosque do Hospital Bom Retiro: protestos |

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Detalhe do bosque do Hospital Bom Retiro: protestos

Os administradores Alessandro Carraro, Marco Negrão e a psicóloga Eleonor Batista, que dirige o Hospital Bom Retiro |

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Os administradores Alessandro Carraro, Marco Negrão e a psicóloga Eleonor Batista, que dirige o Hospital Bom Retiro

Fachada do Hospital Bom Retiro, erguido em 1945, passando a funcionar em 1946. Arquitetura típica dos asilos e similares |

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Fachada do Hospital Bom Retiro, erguido em 1945, passando a funcionar em 1946. Arquitetura típica dos asilos e similares

Túmulo de Lins de Vasconcellos, que será transladado para espado da Federação Espírita do Paraná, em Balsa Nova, na RMC |

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Túmulo de Lins de Vasconcellos, que será transladado para espado da Federação Espírita do Paraná, em Balsa Nova, na RMC

Detalhe da ala particular |

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Detalhe da ala particular

Cenas de um hospital: com menos paredes e portas, há dois anos Bom Retiro experimenta a diminuição das contenções de pacientes em surto |

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Cenas de um hospital: com menos paredes e portas, há dois anos Bom Retiro experimenta a diminuição das contenções de pacientes em surto

A fachada da Rua Nilo Peçanha: construção começou a ser pensada nos anos 1920 |

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A fachada da Rua Nilo Peçanha: construção começou a ser pensada nos anos 1920

Imagem do Pavilhão Lins de Vasconcellos: arquitetura do confinamento |

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Imagem do Pavilhão Lins de Vasconcellos: arquitetura do confinamento

Detalhe de prontuário do primeiro internamento no Bom Retiro, em 24 de junho de 1946. O paciente de nome Alberto, 38 anos, era alemão, lavrador, vinha de Santa Catarina, tendo passado antes pelo Hospital Nossa Senhora da Luz, onde passou por tratamento de choque. Saiu do Bom Retiro em 8 de setembro daquele mesmo ano |

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Detalhe de prontuário do primeiro internamento no Bom Retiro, em 24 de junho de 1946. O paciente de nome Alberto, 38 anos, era alemão, lavrador, vinha de Santa Catarina, tendo passado antes pelo Hospital Nossa Senhora da Luz, onde passou por tratamento de choque. Saiu do Bom Retiro em 8 de setembro daquele mesmo ano

Cena dos bastidores do hospital |

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Cena dos bastidores do hospital

Enfermaria com cortina de vidro: adaptação do espaço à nova mentalidade, antimanicomial |

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Enfermaria com cortina de vidro: adaptação do espaço à nova mentalidade, antimanicomial

Hospital Bom Retiro tem duas idosas que são internas crônicas, tendo passado por moradias terapêuticas, sem sucesso |

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Hospital Bom Retiro tem duas idosas que são internas crônicas, tendo passado por moradias terapêuticas, sem sucesso

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Em breve, quando uma criança do Bom Retiro perguntar a seus pais por que o lugar onde mora se chama assim, não será mais possível respondê-la com um simples apontar de dedo, na direção dos altos da Rua Nilo Peçanha. O Hospital Bom Retiro – cujo título acabou se estendendo também ao bairro – será demolido nos próximos dias, depois de 67 anos de funcionamento. Não será fechado, como se chegou a alardear, mas transferido para uma nova sede, no Jardim Botânico, o que diminui apenas em parte o impacto de mais essa mudança drástica na paisagem e na memória urbana de Curitiba.

O prédio segue a arquitetura padrão dos sanatórios brasileiros da primeira metade do século passado. Não é tombado pelo Estado nem considerado unidade de interesse de preservação. Tampouco é oficialmente preservado o bosque que ladeia os 50 mil metros quadrados do terreno. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente informa que logo que um novo projeto de ocupação for apresentado, técnicos farão um estudo do local, que abriga nascentes e pequena mata de pinheiros-do-paraná. Nos muros que tomam quase todo o quarteirão, moradores têm expressado seu medo de que junto com o edifício se perca também a mata que faz do Bom Retiro, "aquele bairro do hospital", um dos poucos com um arvoredo de quarteirão.

Nos bastidores da instituição, tanto quanto perguntar sobre o sumiço do "Bom Retiro" é provocar lágrimas, sempre muito discretas, bem à moda dos espíritas, criadores e mantenedores da obra. A Federação Espírita do Paraná (FEP) vendeu o hospital para a incorporadora InvesPark, não sem antes enfrentar um telecatch entre os membros dos 323 centros espíritas que formam a FEP. O argumento mais usado é que o local foi erguido graças à doação do mítico empresário Lins de Vasconcellos (1891-1952), inclusive sepultado no jardim da instituição, segundo seu desejo.

O bate-boca chegou às redes sociais, mas pesa sobretudo o argumento de que as instalações do Bom Retiro não satisfazem mais às exigências do atendimento psiquiátrico. Há escadas em demasia, paredes grossas demais e problemas estruturais de tal monta que fazem da bela paisagem também uma grande tormenta.

O mesmo vale para os pacientes que ocupam os 145 leitos disponíveis [foram, um dia, 260]. Por mais que os tratamentos tenham se modificado, o que os pacientes veem em volta remete aos capítulos mais cinzentos do serviço manicomial. Eis o paradoxo. Para o sistema de saúde, o prédio do Bom Retiro deve ser aposentado. Para a história, aquela arquitetuta espartana é um verdadeiro dicionário dos lugares que, uma vez, receberam o nome de "hospício".

É o que há. Pavilhões, já desativados, são dos tempos em que havia celas – à moda monástica –, janelas pequenas e altas, para evitar fugas e suicídios, frestas nas portas para passar medicamentos e pálidos filetes de luz nos corredores. Impossível não se imaginar ali e não se entristecer. Onde seria a mesa de eletrochoque? "Está tudo impregnado de sofrimento", comenta Eleonor Cecília Batista, 59, coordenadora dos 160 profissionais de saúde que atuam ali.

A chorar, Eleonor prefere lembrar que o Bom Retiro assistiu à maioria dos embates terapêuticos do século. Foi protagonista. Enfrentou sobressaltos e críticas, como as ligadas à publicação do livro O canto dos malditos, de Austregésilo Carrano. "Respondemos a todos os ataques trabalhando e criando", afirma sobre a que é uma das mais inglórias áreas da saúde.

Nos últimos dois anos, por exemplo, o Bom Retiro aboliu os muros internos que separavam pacientes homens e mulheres. Fez do refeitório um território livre. Ainda mantém o crachá marcando, de 1 a 5, em que nível o paciente está, mas há mais visitas de parentes e amigos. Uma cantina. Telefones públicos – pequenas estratégias para diminuir o sofrimento mental. É preciso. No pátio, um canta sertanejo universitário, outro reza "Ave Maria", alguém grita: "Quer polenta?". Eis a trilha sonora.

Temia-se que com menos barreiras entre os internos o Bom Retiro iria se transformar numa tormenta a cada cinco minutos. Que nada. "Nunca mais precisamos chamar socorro. Estávamos certos. Quanto menos confinamento, mais harmonia. Foi uma revolução", festeja a enfermeira Elizete Pierri, 50, sobre o local um dia erguido para proteger os esquizofrênicos da sociedade, e vice-versa, erguendo-lhes uma fortaleza, para que ali se retirassem. "É passado", dizem, desviando da mudança que se acumula pelos cantos.

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Vida e Cidadania | 2:46

Em um mês, centro de saúde que dá nome ao bairro do Bom Retiro vai ser demolido, apagando da paisagem curitibana prédio cuja arquitetura ajuda a entender a psiquiatria no Brasil do século 20.

Imagens atuais e antigas do Hospital Bom Retiro

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