Seleção
Confira os critérios do Fator Escola Pública, utilizado no processo seletivo realizado em 2010 na Unila:
- peso 1.3 ao candidato que cursou integralmente e com aprovação todo o ensino médio em escola pública;
- peso 1.2 ao candidato que cursou, com aprovação, duas séries do ensino médio em escola pública;
- peso 1.1 ao candidato que cursou, com aprovação, apenas uma série do ensino médio em escola pública;
- peso 1.0 aos demais candidatos.
Pós-graduação
Cátedras dão base para a graduação
Mesmo sem ter completado um ano, a pós-graduação já é realidade na Unila. A universidade implantou um programa de cátedras cursos rápidos de três a quatro semanas com professores de referência. As cátedras, que começaram antes mesmo das aulas de graduação por meio do Instituto Mercosul de Estudos Avançados, foram uma forma de movimentar o meio acadêmico e científico da universidade para trabalhar os cursos de graduação, diz o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação, Carlos Alberto dos Santos. A última cátedra do semestre foi a de Neurociências e Inclusão Social, que trouxe para Foz do Iguaçu o renomado neurocientista Miguel Nicolelis.
Unila inova com novo modelo de ensino
A quebra de paradigma da nova universidade brasileira não se limita aos critérios de seleção. O ensino também traz inovações. O currículo da graduação segue um modelo de ciclos. No primeiro ciclo de estudos, aplicado no último semestre de 2010 , alunos de todos os cursos tiveram disciplinas comuns adequadas a quatro áreas, três delas são conteúdos referentes à América Latina, metodologia de pesquisa (com ênfase ao pensamento científico) e línguas. Outro diferencial da universidade é o sistema de tutoria. Cada professor orienta um grupo de alunos em alguma temática específica relacionada a um assunto da América Latina.
Com tantas tentativas de sair do lugar comum, a Unila tornou-se uma universidade-laboratório onde tudo é passível de ajustes. Os resultados iniciais já podem ser percebidos. Nos primeiros quatro meses de aula a universidade entrou em atividade em agosto de 2010 , os professores já perceberam como é ensinar para paraguaios, argentinos, uruguaios e brasileiros em uma mesma sala de aula.
"Há um equilíbrio, não há algum grupo que se sobressai", diz o pró-reitor de graduação Orlando Pilati. Nacionalidades à parte, como em toda universidade existem alunos com mais dificuldades também. "Existe uma diferença brutal de como os alunos vieram. Um argentino passou três anos no ensino médio sem professor de matemática e hoje apresenta dificuldades para cálculo", diz o professor de Física, Luciano Lapas. Para suprir deficiências como essa, são ministradas aulas de reforço. Apesar das dificuldades, os alunos da Unila são considerados mais críticos e questionadores em relação à média, segundo relato dos próprios professores.
Nas bancas para contratação de docentes, que sempre tem um avaliador estrangeiro, a exigência é grande. Já é comum nenhum professor ser aprovado para preencher uma vaga. "O MEC nos dá a vaga, mas não temos que preencher a qualquer custo", diz o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação, Carlos Alberto dos Santos.
Hoje estudam na Unila 207 alunos, dos quais 117 brasileiros, 49 paraguaios, 22 argentinos e 19 uruguaios, em seis cursos: Ciência Política e Sociologia, Ciências Biológicas, Ciências Econômicas, Engenharia de Energias Renováveis, Engenharia Civil e Infraestrutura, Relações Internacionais e Integração. Para 2011, a Universidade receberá 600 novos alunos de pelo menos oito países.
O paraguaio Rafael Portillo, 24 anos, cresceu em um mundo de conflitos. Filho de campesinos, foi obrigado a migrar para a fronteira do país porque o pai era perseguido pela ditadura. Na juventude, acompanhou as disputas por terra. Hoje, cursa Ciência Política e tenta entender a própria história. Portillo faz parte da primeira turma de alunos da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu. Ele retrata bem o perfil do estudante da nova universidade: latino-americano vindo de colégio público. Na contramão da maioria das instituições públicas de ensino superior do Brasil, na Unila 100% dos universitários brasileiros fizeram o ensino médio em escolas públicas.
O índice é visto como uma conquista na universidade porque, de certa forma, conforme professores, corrige uma distorção existente no ensino brasileiro. Hoje, segundo o reitor da Unila, Helgio Trindade, 89% dos alunos brasileiros de ensino médio estão matriculados na rede pública, enquanto apenas 11% nas privadas. No entanto, o vestibular tradicional beneficia egressos de escolas particulares.
Para entrar na Unila, uma universidade bilíngue onde as aulas são ministradas em português e espanhol, os alunos brasileiros precisam prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os estrangeiros (paraguaios, argentinos e uruguaios) são selecionados de acordo com critérios estabelecidos pelo próprio país. No caso de brasileiros, candidatos que cursaram integralmente todo o ensino médio em escola pública, com histórico de aprovação têm bônus de 30% na nota e mais chances de ser selecionado pelo Enem em relação aos que estudaram apenas escolas particulares.
"Priorizamos estudantes que vêm de classes menos favorecidas, mas não deixam de ter um desempenho acadêmico razoável", diz o pró-reitor de graduação Orlando Pilati. E o resultado é satisfatório. Segundo a universidade, o desempenho dos alunos no Enem foi acima da média (6 ou mais).
Bom exemplo
A Unila não é a única universidade brasileira a adotar uma política voltada para beneficiar alunos de colégios públicos. Em atividade desde o início deste ano, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), com sede em Chapecó (SC) e outros quatro câmpus, também usa critério semelhante. Hoje, 91% dos alunos da UFFS são oriundos de escola pública, dos quais 79% não fizeram pré-vestibular. Pelo menos 56% deles vieram de famílias que ganham até três salários mínimos. A realidade é parecida com a da Unila, onde muitos estudantes não poderiam cursar o ensino superior, mesmo em faculdades públicas, caso não recebessem alguns dos benefícios da universidade: moradia, alimentação e transporte.
Dos 207 alunos da Unila, 140 moram em um alojamento bancado pela própria universidade, onde não se paga nem sequer para comer. O local (um antigo hotel com 97 chalés, com restaurante, área de convivência, espaço para projeção de filmes, debates e piscina) acomodou perfeitamente o grupo. A universidade comprou o espaço e agora procura novos imóveis em Foz para acomodar a segunda turma de universitários que chegará em 2011. Entre as regras do condomínio universitário, uma chama atenção: um brasileiro precisa dividir o quarto com um estrangeiro. É isso que fazem o brasileiro Alexandre Andreatta, 19 anos, e o paraguaio filho de campesinos Rafael Portillo.
No porta do quarto, uma bandeira paraguaia e uma brasileira marcam a convivência dos dois povos. E as primeiras impressões já surgiram. "Nós não conhecemos nada da cultura do outros países, temos uma visão limitada", conta o brasileiro. Natural de Pato Branco, Andreatta largou o curso de Arquitetura da Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UFTP), em Curitiba, para estudar em Foz do Iguaçu o curso de Relações Internacionais, com o qual sempre sonhou. E parece estar gostando.
Com a sabedoria de quem já viveu no campo, mas está conectado ao mundo urbano, Portillo (cuja família vive em Presidente Franco, município vizinho a Ciudad del Este) diz que para ele a integração com demais colegas latino-americanos era um sonho. "No Paraguai, os trabalhadores do campo têm conflitos com os brasiguaios (imigrantes brasileiros). Mas para mim o conflito não é entre paraguaios e brasileiros. Somos contra o agronegócio (grande produtor) e a monocultura da soja", relata. Portillo, que tem no quarto um pôster de Che Guevara, soube do projeto da Unila em um congresso da União Nacional dos Estudantes.
Além das jornadas de estudos e debates, os alunos da Unila também já fazem planos para as férias. O roteiro não podia ser diferente: conhecer a América Latina. "A integração tem múltiplas repercussões. Já estamos planejando ir com os brasileiros para o Uruguai e Argentina", diz o uruguaio Matias Varera, 25 anos, aluno do curso de Ciência Política.
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