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Curitiba – Ele já foi forte. Agora, busca a importância perdida. O movimento estudantil no Brasil caminha para mais um Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), de 4 a 8 de julho, em Brasília, com o objetivo de voltar aos "velhos tempos", como na época da ditadura, quando foi um dos principais protagonistas na luta contra a repressão militar.

A última ação de destaque dos estudantes no país, a ocupação por cerca de cem jovens da Reitoria da Universidade de São Paulo (USP), por 50 dias, ao mesmo tempo em que não deixou de ser uma amostra de que eles não são indiferentes ao futuro das universidades e do país, demonstrou o quanto eles estão divididos. Se, de um lado, existem metas comuns, por outro, falta um consenso de como o movimento deve atuar em conjunto para alcançá-las.

"O que acontece é que o movimento estudantil ficou muito tempo controlado pelo PC do B, que praticamente o monopolizou e o burocratizou. No governo Lula, a situação ficou mais complicada ainda, quando ele se tornou oficialesco", explica Roberto Romano, professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de Campinas (Unicamp).

De acordo com Romano, grupos menores, a maior parte deles vinculados a partidos políticos, como o PSol e o PSTU, perceberam a inatividade e a distância do movimento estudantil dos interesses acadêmicos e passaram a liderar ações, como a ocupação da USP, para aproveitar a brecha deixada pelo PC do B e ganhar visibilidade para suas propostas. Além de apoiar outras categorias em greve, as principais reivindicações dos estudantes hoje são o aumento de recursos para as universidades federais, a ampliação da assistência estudantil, as mudanças na política econômica do governo e a polêmica luta pela paridade na eleição para a diretoria das universidades.

"Os alunos da ocupação, de influência de partidos políticos, que são uma minoria e não expressam a opinião dos outros alunos, aproveitaram, por exemplo, a ameaça à autonomia das universidades com os decretos de Serra (governador de SP, José Serra) para usar como desculpa e invadir a universidade. Mas a ocupação não ajudou em nada no problema da autonomia universitária. E é um contra-senso dizer que se está lutando pela autonomia e querer que a universidade seja refém de partidos políticos", analisa.

O prejuízo que a USP teve, com atrasos na entrega de diplomas, o impedimento na criação de novas vagas no vestibular e na concessão de novas bolsas a alunos, tirou a legitimidade da ocupação. "Foi uma massa de insensatez. É claro que houve erros do governo estadual, de legislação, da reitora que não soube levar bem a situação. Mas a situação foi injustificável, a violência dessa minoria acabou com o diálogo. Eles comprometeram ainda o funcionamento da instituição e demonstraram que nem sabem mais o que eles querem", avalia o cientista político, Fernando Abruzio, da PUCSP.

Identidade perdida

No início da ditadura, de 1964 a 1968, antes do Ato Institucional 5 e o recrudescimento da violência do regime militar, o movimento estudantil foi o principal ator político contrário à repressão política. "Os artistas e os intelectuais, menos atingidos no início, eram a força contra a ditadura nesse período. Era uma luta pelas liberdades democráticas, pela qualidade do ensino e por mais universidades", explica Dulce Pandolfi, professora e pesquisadora do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Faculdade Getúlio Vargas.

A pesquisadora lembra momentos importantes do movimento estudantil, como a caminhada dos 100 mil, no Rio de Janeiro, ou o congresso clandestino da UNE, os dois em 1968. "É difícil comparar, porque a história dos movimentos sociais não é linear, mas não existiu um movimento similar na história dos estudantes, tendo eles como vanguarda", analisa.

Inspirados no que chamam de "renascimento" do movimento estudantil com o mesmo espírito de 1968, líderes estudantis prometem, em uma plenária na Reitoria da USP ocupada, uma "megaoperação" entre os dias 5 e 13 de agosto, com ocupações nas principais universidades no país. O presidente da UNE, Gustavo Petta, fala com precaução desse anúncio.

"Vamos discutir o calendário da UNE no Congresso, na Universidade de Brasília, com a presença de cerca de 10 mil pessoas. Apoiamos as reivindicações dos alunos que ocuparam a USP, mas não estávamos nesse encontro e, portanto, temos de discutir o assunto", diz. Ele responde a quem cobra ações mais radicais da UNE que esta tem feito protestos importantes, como a paralisação do último dia 6 (leia acima).

Petta, primeiro presidente da UNE a ser reeleito e que deve deixar o cargo no Congresso, após a eleição da nova diretoria, admitiu que existe a preocupação por manter a unidade da União. "Nós respeitamos a presença dos partidos políticos no movimento estudantil, mas não podemos permitir que interesses partidários possam impedir a sua unidade. A diretoria da UNE tem filiados desde PSol até o PSDB e isso nos ajuda a ser mais tolerantes", pondera.

Para Abruzio, o movimento estudantil está longe de ter os grandes ideais de 1968. "O movimento estudantil na ditadura tinha as causas certas na hora certa. Os jovens de hoje têm grande utopia, mas, como na ocupação da USP, defendem as causas erradas, na hora errada, de forma errada", decreta. Os estudantes têm o Congresso da UNE para tentar provar o contrário.

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