O orçamento da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) previsto para 2015 pela Lei de Orçamento Anual (LOA) não vai ser cumprido. O repasse, que seria de R$ 16,6 milhões, foi reduzido para R$ 8,4 milhões.
A verba é dividida entre os sete campi da instituição espalhados nas cidades de Apucarana, Campo Mourão, Curitiba, Paranaguá, Paranavaí e União da Vitória e serve para quitar despesas como manutenção dos prédios e tarifas básicas como água, luz e telefonia durante todo o ano.
Sem pedido
O diretor do campus da Unespar em Paranaguá, Mauro Stival, admite que falta pessoal e o vice-diretor, Sydnei Kempa, busca uma solução junto à Seti. “É direito dele e tem que atender, no mínimo, o direito da pessoa”, lamenta Stival. A Seti disse em nota que está avaliando a situação com estudos para identificar o quantitativo de profissionais especializados em libras (intérpretes e professores). “A Unespar não fez solicitação de concurso para profissionais de Libras. Algumas universidades que apresentaram a necessidade realizaram testes seletivos para a contratação de profissionais temporários”, diz a nota.
Paranaguá ainda aguarda soluções
A situação é preocupante em Paranaguá, onde a Unespar enfrenta uma onda de problema estruturais, principalmente pelo atraso de quatro meses na conclusão da reforma. Com cerca de dois mil alunos, o repasse de verbas para a instituição não é suficiente para fazer a manutenção do prédio. “Se foi licitado, esse dinheiro [da obra] tinha que estar à disposição”, argumenta o diretor Mauro Stival.
A fachada do prédio dá uma ideia da situação no lado de dentro onde os problemas vão além das obras inacabadas. “Falta dinheiro para pôr combustível nos carros”. A alta população de pombos no prédio exigiu a colocação de telas nas janelas das salas, mas os estragos que as aves causam ainda geram prejuízos. “A manutenção é violenta por causa de pombos que sempre entopem as calhas. Eu não vou arriscar a vida, não vou ficar subindo em telhado mais. Mesmo assim, de vez em quando, eu estou no forro arrumando alguma coisinha porque tem que fazer. Dá a impressão de desleixo, eu tenho que limpar, então tem que ter manutenção”, revela.
“Não tem mais como preparar orçamentos, nós vamos ajustando as previsões e os orçamentos conforme eles vão liberando”, cita o diretor. Ele lembrou o aumento nas tarifas de água e luz como fatores preocupantes. Apesar de estar com essas contas em dia, Stival admitiu que o campus possui dívidas de aproximadamente R$ 30 mil com o Diário Oficial do Estado e que não há previsão de pagamento.
O corte de 49,6% do orçamento, segundo a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), faz parte do programa de contenção de despesas do estado. “O orçamento liberado pelo Tesouro do estado para o custeio da Unespar em 2015 é insuficiente para manter todas as atividades da universidade”, resumiu o chefe da Pró-Reitoria de Administração e Finanças da Unespar (Praf), professor Rogério Ribeiro.
Na divisão dos recursos, as cidades de União da Vitória e Paranaguá ficaram com os menores valores: R$ 483 mil e R$ 527 mil, respectivamente. A Seti afirma que, em vez desse último valor, o campus do Litoral vai receber R$ 570 mil.
Os maiores valores, acima de R$ 1 milhão, ficaram com a Reitoria da Unespar e com os campi Curitiba I e Paranavaí. A distribuição dos valores é definida pela Reitoria e pelo Conselho de Administração da universidade.
“Em 2015, o governo do Paraná realizou ajustes para adequar receitas e despesas no estado. No entanto, estão previstas novas reuniões com os reitores das universidades estaduais do Paraná, juntamente com representantes da Seti e Sefa (Secretaria Estadual da Fazenda), para realizar estudos que irão definir novas cotas para as IEES (Instituições Estaduais de Ensino Superior), para que não haja prejuízo nas atividades desenvolvidas pelas instituições”, informou a Seti.
O orçamento da Unespar não tem sido suficiente para manter as atividades da instituição. Em 2014, faltou dinheiro e a universidade ficou devendo R$ 2 milhões, segundo a Pró-reitoria de Administração e Finanças.
A Praf informou também que, no ano passado, a instituição trabalhou com pouco mais de R$ 9 milhões. Já a Seti afirmou que o orçamento disponibilizado no último ano foi de pouco mais de R$ 11 milhões, mas confirmou a queda do investimento em 2015.
A Unespar estimou o orçamento mínimo necessário para 2015 em quase R$ 14 milhões.
Falta intérprete de Libras no campus de Paranaguá
“A Unespar precisa ter responsabilidade. Se abre vagas para surdos, precisa ter intérprete. Ou colocar em edital que os surdos não podem fazer o vestibular”, afirma Ednilson Assenção, professor de Fundamentos da Língua Brasileira de Sinais (Libras) na Unespar Paranaguá. Quando foi aprovado no concurso, Ednilson não imaginava as frustrações que viriam. “Eu tentava explicar e percebia que o conteúdo ficava incompreendido. Faltava um intérprete de Libras para português”, lamenta. Hoje, ele tem o apoio da intérprete Laís Pereira, a única da instituição.
O problema enfrentado atualmente pelo professor é a realidade dos alunos surdos. A caloura de Pedagogia, Lorena Ferro Ferrari, assiste às aulas com dúvidas expressas no olhar. “Os professores pedem xerox para acompanhar as aulas, mas eu não entendia nada. Uma amiga minha, que está na mesma sala, até tentou me ajudar, mas ela também é aluna e precisa estudar”, disse Lorena.
A amiga que tentou ajudá-la, Nicole Rosa da Silva, se sentia incomodada com a situação. “A gente sabe que o surdo precisa de intérprete. Por mais que os professores tentem dar aula olhando para ela, para que ela faça leitura labial, não é o suficiente. Ela precisa aprender na língua dela. Eu, como amiga, tentei ajudar, mas eu não poderia fazer isso. Eu não tenho certificação e só posso usar o pouco que sei”, conta Nicole.
Para que a filha pudesse cursar o ensino superior sem problemas, Cibelle Amaral Ferro, mãe de Lorena, procurou a Unespar assim que recebeu o resultado do vestibular. “Eu entreguei o laudo médico na matrícula e solicitei o intérprete. Chegou o prazo das aulas, teve a greve, a aula começou já faz duas semanas e ela ainda não tem intérprete”, reclama.
Outro aluno da instituição que enfrentou o problema foi João Carlos Maceno, acadêmico de Matemática. Logo que entrou na faculdade, tinha o auxílio de um profissional em algumas aulas. A partir do segundo ano, já não contava com a ajuda do tradutor e ele começou a apresentar problemas de aprendizagem. “Na matemática em si, cálculos, fórmulas, eu ia bem. Mas na parte de teoria, texto, conceito eu senti falta do intérprete”, conta.
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