A história já bastante sofrida das “Gêmeas do Iguaçu”, como são conhecidas as cidades de Porto União (SC) e União da Vitória (PR), acostumadas a conviver todos os anos com os estragos provocados pelas enchentes, ganhou mais um triste capítulo neste fim de semana.
O acidente com o ônibus que despencou de uma ribanceira no km 89 da Estrada da Dona Francisca (SC-418), em Joinville (SC), no sábado (14), deixou um saldo de 51 mortos, sete feridos e um rastro de profunda tristeza entre os moradores das duas cidades, de onde era boa parte das vítimas do acidente.
A reportagem da Gazeta do Povo acompanhou, no domingo (15), a angústia de quem perdeu entes queridos na tragédia, e o clima pesado que se abateu na região. O congestionamento de carros funerários em frente a ginásios e centros comunitários dava um ar quase surreal à paisagem urbana de União da Vitória. Um caminhão carregado com corpos vindo de Joinville era aguardado por uma multidão. Anestesiados pela dor, os parentes dos mortos no acidente pareciam viver um pesadelo do qual acordariam a qualquer minuto.
Em um momento tão difícil, ao menos não faltou solidariedade. Cerca de 150 voluntários – entre funcionários das prefeituras e estudantes – ajudaram as famílias a lidarem com documentação e burocracia em meio às lágrimas e a agonia. O Quartel da Polícia Militar em União da Vitória (local estabelecido como centro de referência) esteve, durante todo o fim de semana, lotado de familiares e voluntários, que confortavam gente que tinha perdido duas, três ou até sete parentes na tragédia – considerada uma das piores já ocorridas nas estradas brasileiras.
O momento de maior comoção foi quando um caminhão refrigerado, escoltado por viaturas policiais, chegou trazendo 33 corpos a um ginásio. Dali, os familiares puderam encaminhar os velórios de seus entes queridos.
Em meio à comoção, milhares de pessoas tomaram as ruas para tentar saber de detalhes e informações sobre amigos e conhecidos. Era uma multidão silenciosa. Mais tarde, quando os caixões já estavam prontos para os velórios, veio o choro coletivo. Em alguns centros comunitários, havia “filas” de corpos, e uma verdadeira peregrinação se iniciou pelos bairros das duas cidades para dar um último adeus às vítimas.
Sorte
Marco Honório Cordeiro e a esposa dele, Regiane Cordeiro, foram a cinco locais de velórios. Por pouco não foram no do próprio filho, Thiago, de 20 anos. Ele iria embarcar no ônibus que se acidentou. “Ele iria num grupo de quatro amigos, mas no fim acabaram indo em dois porque no dia de comprar a passagem para ir, o Thiago esqueceu a carteira em casa e estava sem dinheiro. Infelizmente os dois que foram morreram”, contou Marco.
A maior parte dos sepultamentos ocorreu na segunda-feira (16). O “dia seguinte”, no entanto, parece ter trazido a consciência de que a tragédia de fato não era apenas um sonho ruim. E diferentemente das enchentes, os familiares das vítimas sabem que não será apenas esperar a água baixar para retomar a vida.