Um seleto grupo de cientistas brasileiros e japoneses está em alto-mar com a missão de mergulhar nas regiões mais frias, remotas e inexploradas do universo oceânico nacional. Milhares de metros abaixo da superfície, espremidos dentro de um pequeno submarino de pesquisa, eles serão os primeiros seres humanos a contemplar a vida nas profundezas extremas deste lado do Atlântico Sul.
O que vão encontrar lá, de fato, não há como prever. O que eles esperam descobrir são ecossistemas chamados quimiossintéticos, onde a fonte primária de energia para sustentação da vida não é a fotossíntese, como realizada pelas plantas na superfície.
A expedição faz parte de um grande projeto da Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia da Terra e do Mar, chamado Busca pelos Limites da Vida, que vai passar um ano prospectando ambientes ultraprofundos ao redor do mundo.
"O plano é visitar ambientes extremos de águas profundas e observar a estratégia adaptativa de diferentes organismos. Com base nisso, queremos entender como a vida na Terra evolui e se diversifica", disse à reportagem o cientista chefe do projeto, Hiroshi Kitazato, em entrevista por e-mail do navio Yokosuka.
Expedição
O navio saiu da África do Sul no início do mês, cruzou o Oceano Atlântico e agora está sobre a região da Dorsal de São Paulo, um precipício submerso que começa a 2,5 mil metros e vai até 4,2 mil metros de profundidade, no limite extremo da plataforma continental brasileira, a cerca de 700 quilômetros da costa.
Seis pesquisadores brasileiros estão a bordo, entre eles quatro biólogos, das universidades de São Paulo (USP), Federal Fluminense (UFF) e Vale do Itajaí (Univali), e dois geólogos, do Serviço Geológico do Brasil e da Petrobrás.
Esta é a primeira vez que cientistas brasileiros terão a oportunidade de coletar organismos desses ambientes.