Pela primeira vez desde o início dos anos 2000, o número de novos alunos em cursos presenciais nas instituições privadas de ensino superior do Brasil caiu. Passou de 1.521.191, em 2008, para 1.353.479, em 2009 uma redução de 11%. Já os ingressos nas faculdades e universidades públicas do país apresentaram crescimento de 7,5%: eram 352.615 e passaram para 379.134 como reflexo da política de expansão da rede federal. Os números fazem parte do censo do ensino superior de 2009, divulgado em janeiro passado.
Dois fatores principais determinaram a queda no total de calouros das instituições privadas, segundo o analista Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp (sindicato que representa a rede particular de São Paulo). "A saturação da área vem sendo observada desde 2002, quando desacelerou o ritmo de crescimento das matrículas na rede privada. E a crise econômica de 2008 fez com que muita gente adiasse os planos de entrar numa universidade paga."
A essas duas causas o professor Paulo Speller, conselheiro do Conselho Nacional de Educação, acrescenta a baixa qualidade de parte das faculdades privadas e o aumento de vagas na rede pública federal de universidades. "Quem tem oportunidade opta pela instituição pública."
A redução de calouros ficou concentrada nas instituições comunitárias, confessionais e filantrópicas, ou seja, as universidades. Isso ocorreu, conforme Capelato, porque essas entidades têm uma oferta maior de cursos, alguns com alto custo, porque necessitam de laboratórios e de uma estrutura mais cara. Já as instituições classificadas como particulares, que na maioria são faculdades, oferecem muitas graduações de baixo custo, como Pedagogia e Administração, e, por isso, sentiram menos os efeitos da crise.
Exclusão
Em 2009, nem metade das vagas ofertadas pelas instituições particulares de ensino superior foi preenchida (foram abertas quase 2,8 milhões de vagas e só 1,2 milhão foram ocupadas). "Não há como negar que nos últimos anos a oferta tem sido maior que a procura, mas não por falta de gente em condições de entrar no ensino superior", ressalta Capelato. O Brasil é um dos países que mais exclui o jovem da faculdade. Só 12% dos jovens na faixa dos 18 a 24 anos estão no ensino superior. "Essa taxa é bem superior até em países como Argentina e Chile, em que chega a 40%. A grande dificuldade aqui é a falta de dinheiro e o ProUni [programa que oferta bolsas parciais e integrais em escolas particulares] não atende todo mundo."
Segundo o especialista, porém, em 2010 o total de ingressos nas faculdades e universidades privadas já teve uma recuperação as instituições projetam um crescimento de quase 5% no número de matrículas. Esse avanço deve aparecer no próximo censo, previsto para ser divulgado entre o fim deste ano e o início de 2012.
Públicas
O crescimento médio de ingressos no ensino superior brasileiro foi de 44% no período de 2001 a 2009, conforme mostram os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pela coleta e processamento dos dados dos censos educacionais. No geral, as instituições públicas (que incluem entidades federais e estaduais) tiveram um crescimento abaixo desta média (38%), mas as universidades federais isoladamente tiveram um desempenho superior no período: o número de calouros cresceu 61%.
O crescimento foi contínuo e lento, com alguns picos. Ao todo, foram criadas 104.318 novas vagas no país. Quase metade delas (45.538) foi aberta em 2002, último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso. Depois disso, os anos em que mais foram abertas vagas foram 2004 e 2009.
Para Speller, esse crescimento foi importante, mas não suficiente. "O quadro ainda está muito aquém da necessidade do país. Mas a expansão também não pode ser tão grande e rápida quanto se espera porque o modelo da rede federal é mais complexo, já que as instituições são mais bem estruturadas e exige-se um investimento maior para manter o aluno." Ele defende que o país está no caminho certo e que precisa avançar na educação universitária, mas também melhorar seu ensino básico. "Hoje o próprio processo econômico exige a formação de profissionais com qualidade e em número suficiente para sustentar o crescimento do país."
Tão importante quanto a expansão de vagas na rede pública, segundo o especialista, é a mudança de perfil que essas instituições têm experimentado nos últimos anos. Ele lembra que, historicamente, as universidades federais existiam para atender às elites, formando os líderes que a sociedade precisava. Nos últimos anos, no entanto, essa vocação começou a ser mudada com a adoção de novas políticas, como a criação de número maior de turmas noturnas, o ingresso pelo sistema de cotas e com a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Interatividade
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