Douglas Marostica Catolino ficou à espera de nova chamada pelo Sisu. Vaga já tinha sido repassada para o vestibular| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Passo a passo

Saiba como funcionam as chamadas pelo Sisu:

• Depois de incritos no portal do MEC, os estudantes são convocados pelo Sisu a partir da nota de corte, que é a menor nota para ficar entre os possíveis selecionados em um determinado curso.

• Até a segunda chamada, os estudantes são convocados pelo MEC a fazerem a matrícula no curso no qual foram aprovados.

• Para concorrer à terceira chamada, os estudantes se candidatam à lista de espera, que será encaminhada a cada universidade para que a própria instituição controle as vagas e chamadas como achar melhor, pois têm completa autonomia. É, portanto, a partir dela que as intituições podem fazer overbooking ou tranferir as vagas do Sisu para o vestibular.

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28,5%

das vagas oferecidas pelo Sisu, na Universidade Federal do Paraná, nos dois últimos anos, não foram ocupadas e retornaram à concorrência do vestibular tradicional.

Lista

Confira as universidades que adotam ao mesmo tempo Sisu e o vestibular:

• Universidade Federal de Viçosa (UFV) • Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais (IF Sul de Minas) • Universidade Federal de Lavras (Ufla) • Universidade Federal do Amazonas (Ufam) • Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha (IF Farroupilha) • Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano) • Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) • Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) • Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) • Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam) • Universidade Federal de Roraima (UFRR) • Universidade Federal Fluminense (UFF) • Universidade do Estado da Bahia (Uneb-BA) • Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (Ifro) • Universidade Federal da Paraíba (UFPB) • Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Fonte : Ministério da Educação (MEC)

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Teoricamente, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) daria chances a qualquer estudante – de todas as regiões brasileiras – de ingressar em uma das instituições participantes do processo, a partir de seu desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As vagas oferecidas pelo sistema, no entanto, nem sempre são preenchidas, colocando dúvidas sobre a eficiência do programa.

Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo, 298 (28,5%) das 1.053 vagas oferecidas pelo SiSu, nos dois últimos anos, não foram ocupadas e retornaram à concorrência do vestibular tradicional. Para evitar esse "desperdício", as universidades têm adotado uma prática corriqueira às companhias aéreas: o overbooking.

Por meio dela, as univer­sidades convocam mais alunos do que a quantidade de vagas, para que elas sejam completadas mais rapidamente. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), cada universidade tem autonomia para, a partir da lista de espera, convocar candidatos em número superior à quantidade de vagas, desde que esteja explícito no edital de adesão ao Sisu de cada instituição. O overbooking não está expresso no edital de adesão da UFPR ao Sisu.

O coordenador do Núcleo de Concursos da UFPR, Raul Von Der Heyde, explica que a universidade faz isso para "economizar chamadas complementares", já que sabe que muitas das vagas não serão preenchidas. "Isso acontece em muitas outras instituições pelo Brasil. Em relação a elas até que estamos bem, mas sabemos que precisamos aprimorar o sistema de chamadas."

A Universidade Tecnoló­gica Federal do Paraná (UTFPR), que usa exclusiva­mente o Sisu como critério de seleção, também faz overbooking a partir da terceira chamada. A instituição convoca 50% a mais de estudantes do que o número de vagas, diferente da UFPR que não tem uma porcentagem fixa e a cada ano decide quanto a mais vai chamar.

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O presidente da Comissão de Processo Seletivo da UTFPR, Jair de Almeida, diz que, se por acaso, acontecer de todos os chamados comparecerem para fazer a matrícula, eles terão direito à vaga, mesmo que extrapole o número existente. "Na prática nem teremos todos os alunos na sala, pois durante a primeira semana o estudante precisa confirmar presença para ter direito à vaga, e sempre existem os desistentes", explica.

De volta ao Vestibular

Além do overbooking, a prática de transferir vagas que restaram para o vestibular tradicional também não é informada aos candidatos a uma vaga na UFPR. Em 2011, primeiro ano que a UFPR adotou o Sisu para preencher 524 das 5.540 vagas, foram quatro chamadas, num total de 1.222 alunos convocados. Mesmo assim, restaram 40% das vagas disponibilizadas. Em 2012, das 529 vagas oferecidas pelo Sisu, depois de três chamadas, 17% delas foram encaminhadas ao vestibular.

Segundo as normas do MEC, neste caso, cada instituição tem também autonomia para, a partir da terceira chamada, fazer o que quiser com as vagas, desde que esgote todos os alunos da lista de espera e que esteja expresso em edital do processo seletivo.

Segundo Heyde, na UFPR, assim que acaba a lista de espera – que é fornecida pelo MEC, depois da segunda chamada –, todas as vagas voltam a o vestibular. O problema é que isso não agrada a todos os estudantes que prestaram pelo Sisu.

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Douglas Marostica Cato­lino, que concorreu tanto pelo vestibular, quanto pelo Sisu, a uma vaga de Medicina, não passou no primeiro e suas expectativas se concentraram no segundo, já que a nota ficou bem próxima da linha de corte.

"Eu tinha esperança de ser chamado pelo Sisu e, quando vi que a UFPR parou de fazer as chamadas, me senti prejudicado", conta Catolino. Sem saber que as vagas tinham ido para o vestibular, ele entrou em contato com a instituição, que não explicou como funcionava a migração de vagas de um sistema para o outro.

Formato da seleção gera os problemas

A sobra de vagas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) está ligada ao seu formato, que permite que alunos do país inteiro concorram. Então é comum que, por exemplo, estudantes da região Norte se candidatem às vagas na região Sul e não compareçam para preenchê-las, gerando várias listas complementares. Só na primeira chamada do Sisu deste ano, 57% dos convocados não fizeram matrícula.

O problema é que, após semanas e até meses de aula, ainda existem alunos sendo chamados, que acabam perdendo parte do conteúdo já ministrado. "Não é conveniente para o professor, nem para o aluno. O ideal seria completar 100% das vagas antes do início das aulas, mas, como isso não ocorre, tentamos encontrar formas que minimizem o problema", diz o presidente da Comissão de Processo Seletivo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Jair de Almeida.

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O coordenador do Grupo de Estudos do Ensino Superior da Universidade de Campinas (Unicamp), Renato de Luna Pedrosa, critica a insegurança a que ficam sujeitos os candidatos. "Um modelo que ora chama por um processo, ora por outro, não é uniforme e nem transparente porque não tem regra clara. O aluno se candidata por um e não sabe até que ponto vão parar de chamar e passar as vagas para o outro", comenta.

Segundo Pedrosa, um método que reduz a quantidade de chamadas e consegue completar as vagas em menos tempo, sem prejuízo para o aluno, é o adotado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Lá, a nota do Enem é usada apenas na primeira fase. Depois de classificados nela é que os estudantes vão fazer a segunda fase. "Ou seja, mesmo que candidatos de todo país concorram à vaga, só vão fazer a segunda fase quem realmente tiver interesse naquela instituição".

Os especialistas, entretanto, afirmam que, mesmo com estas falhas, ainda é cedo para dizer que o Sisu não funciona, já que foi implantado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2010 e, portanto, é recente.

O professor do Depar­ta­­mento de Educação da Uni­­versidade Estadual de São Paulo (Unesp) Carlos da Fon­­seca Brandão lembra que o país usou o modelo tradicional de vestibular por mais de 40 anos e que é natural que um processo diferente demore para se ajustar. "A ideia do Sisu é democratizar as vagas das instituições públicas, o que não é tão fácil e simples assim e, portanto, os desajustes iniciais são normais. Mas, se daqui a dez anos, o quadro continuar o mesmo, aí, sim, estará na hora de ser repensado".