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Segurança

UPS do Uberaba completa um ano sob lei do silêncio

Apesar dos problemas, moradores dizem que a presença da polícia inibe alguns crimes | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Apesar dos problemas, moradores dizem que a presença da polícia inibe alguns crimes (Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo)
Linha do trem é um dos fatores de isolamento da região |

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Linha do trem é um dos fatores de isolamento da região

Há exatamente um ano, moradores do bairro Uberaba, em Curitiba, foram acordados, de madrugada, com estardalhaço e sirenes. Viaturas e bloqueios, com 450 policiais, iniciavam o processo de "congelamento" da violência para a criação da primeira Unidade Paraná Seguro (UPS), versão adaptada das Unidades de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro. Passados 12 meses do começo do programa do governo estadual, alguns índices de criminalidade caíram, mas o tráfico de drogas continua amedrontando a população local, que mantém o silêncio sobre o que acontece no trecho de dois quilômetros quadrados que forma o chamado "Uberaba de Baixo", área da UPS do bairro.

Na semana do aniversário da unidade, a população local estava sob o impacto de duas mortes que ocorreram em menos de 24 horas. Um tiroteio resultou no óbito de um jovem. "Ouvimos os tiros e nos abaixamos. Vimos os bandidos correndo", conta um comerciante, que prefere não ser identificado. O primo do rapaz havia sido assassinado em outro bairro, dois dias antes, e criminosos teriam ido ao Uberaba para continuar o acerto de contas.

Na manhã seguinte, um jovem de 19 anos foi capturado por moradores ao pular muros de várias residências, no Uberaba de Cima. Chamada, a polícia teria levado uma hora e meia para aparecer. O rapaz começou a convulsionar e morreu no quintal de uma casa. As circunstâncias da morte estão sendo apuradas.

Apesar disso, todos os moradores ouvidos pela reportagem afirmam que a violência diminuiu depois da implantação da UPS. Para eles, a simples presença da polícia já é capaz de inibir ações de alguns criminosos. Mas a maioria não se sente segura para relatar o que pensa e o que vê. A lei do silêncio impera – ora por medo de retaliação da polícia, ora por receio de vingança dos traficantes.

Crime organizado

Habitantes das 15 vilas que estão cobertas pela UPS garantem que o tráfico de drogas continua dando as cartas – aliciando crianças e comandando o crime organizado. "Todo mundo sabe onde são os pontos de vendas. Os policiais passam e não fazem nada", relata um morador.

A tenente Caroline Costa, responsável pela UPS do Uberaba, nega que seja de conhecimento dos oficiais quais são as bases do tráfico. Ela comenta, contudo, que em relação ao ano anterior as autuações por envolvimento com drogas aumentaram 52%, o que significaria uma ação mais presente da polícia no combate ao crime. Na outra ponta, houve diminuição de 30% dos casos de mortes violentas. "Os resultados falam por si só. É nítida a redução dos crimes no Uberaba", declara.

Ao todo, 60 policiais trabalham na unidade, responsável por cuidar de um pedaço de chão espremido entre a BR-277, a Avenidas das Torres, a linha do trem e as cavas do Rio Iguaçu.

Convivência

Interação da PM com a comunidade diminuiu com o passar do tempo

"Segurança não é só polícia", lembra Percy Cordeiro dos Santos, presidente da Associação de Moradores da Vila Icaraí. Ele reclama, por exemplo, que várias ruas não são servidas por transporte coletivo. Em alguns casos é preciso andar quase dois quilômetros até o ponto de ônibus.

"A vida melhorou bastante aqui. Nunca mais tive de sair correndo por causa de tiroteio", conta a dona de casa Cristina Gomes. Mas ela relata que, antes mesmo da UPS, nunca tinha enfrentado diretamente qualquer problema relacionado à violência.

A interação com a comunidade é ainda reticente: algumas reuniões foram organizadas no início da implantação da UPS e hoje se concentram mais nas conversas com o conselho comunitário de segurança e com moradores que procuram a unidade. "A polícia passa seguido aqui. Uns me cumprimentam e outros não", diz.

O sociólogo Lindomar Bonetti, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), comenta que, quando a população é convidada a dividir a responsabilidade da segurança pública, os resultados são positivos. "Mas, se for levado à comunidade um modelo tradicional de segurança pública, os efeitos não serão os esperados", diz.

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