Usado em tratamentos de crianças com nanismo, o hormônio do crescimento ganhou outros fins recentemente. Tratamentos de estética, terapias anti-envelhecimento e até tentativas de dar mais potencial a atletas passaram a incluir o hormônio. Os usos alternativos, no entanto, nem sempre são recomendados pelos médicos. Muito pelo contrário. O médico endocrinologista alemão Christian Strasburger, especialista no assunto, que esteve em Curitiba a convite do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Paraná (Sempr) do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, diz que os usos são errados e devem ser combatidos. Na breve visita a capital paranaense, Strasburger concedeu uma entrevista exclusiva à Gazeta do Povo. Confira, a seguir, os principais trechos da conversa.

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O hormônio do crescimento pode ser utilizado para outros fins, além do usual?

O hormônio do crescimento é ótimo no tratamento de crianças pequenas que sejam deficientes deste hormônio e que precisem melhorar o seu crescimento. Essa deficiência pode ser causada por doenças da hipófise como tumores (adenomas de hipofise), problemas genéticos e após tratamentos de radioterapia, para citar alguns exemplos. Além disso, o hormônio pode ser utilizado no tratamento de baixa estatura em crianças com insuficiência renal crônica, síndrome de Turner, retardo de crescimento intra-uterino e em adultos que tenham alguma doença da hipófise que leve à interrupção da produção do hormônio. Aliás, como este hormônio exerce outras funções metabólicas no corpo, na minha opinião, a denominação "hormônio do crescimento" é imprecisa.

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Em que circunstâncias a utilização do hormônio do crescimento pode fazer mal à saúde?

O hormônio do crescimento tem sido usado indiscriminadamente como terapia anti-envelhecimento. E há atletas que usam como dopping. Essas aplicações não têm nenhuma base ética ou científica. O uso do hormônio como "elixir da juventude" em pessoas sem deficiência do hormônio é muito criticado e condenável devido aos potenciais riscos para a saúde. Com relação ao uso em esportes, estão sendo desenvolvidos testes anti-dopping para evitar ou minimizar este uso ilícito.

E a utilização estética do hormônio do crescimento?

Eu não recomendo utilizar o hormônio do crescimento para fins estéticos porque nós não sabemos os riscos e perigos do sua utilização em pessoas que produzem esse hormônio normalmente e utilizam doses adicionais com fins estéticos. Não há um único estudo que demonstre qualquer benefício do hormônio crescimento nesse sentido. Há muitos estudos que indicam o contrário: que seu uso não é apropriado para o tratamento da pele, para redução de peso ou para a melhora da saúde em geral. Algumas pesquisas demonstram até um maior risco de incidência de câncer, diabetes, hipertensão arterial, acromegalia, entre outros.

Efeitos colaterais, como retenção de líquidos, dores nas juntas, dores musculares, também são freqüentes em pessoas que não são deficientes neste hormônio e mesmo assim o utilizam.

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O que as pesquisas dizem?

As pesquisas demonstram que a reposição hormonal em crianças e adultas com deficiência severa do hormônio de crescimento é benéfica e oferece poucos riscos. Mas a mesma situação não ocorre em adultos sem qualquer problema na produção do hormônio e que usam doses elevadas para tentar não envelhecer ou com fins puramente estéticos. Nestes casos, os riscos são potencialmente muito maiores do que os benefícios. Além disso, em algumas crianças sem deficiência do hormônio, como eu citei previamente, o uso do hormônio de crescimento pode ser útil tambem.

Problemas de crescimento são um grande problema apenas para os países em desenvolvimento?

Não, problemas de crescimento em crianças temos em todo o mundo, tanto nos países em desenvolvimento quanto nos países de primeiro mundo. As doenças de hipófise ocorrem de maneira similar em diferentes países e não têm relação com a situação econômica ou social dos países. O que é mais comum nos países em desenvolvimento é a baixa estatura e o retardo no crescimento de crianças devido a problemas nutricionais, verminoses e anemias, mas isto não tem a ver com o hormônio de crescimento ou a hipófise.