Onde há uma roda de jovens em Foz do Iguaçu existe grande chance de encontrar um narguilé passando de boca em boca. O cachimbo dágua, como é conhecido, tornou-se febre na cidade anfitriã da segunda maior colônia árabe-libanesa do Brasil. Mas também levou a Vara da Infância e Juventude a emitir um ofício alertando proprietários de bares, lanchonetes, pais e responsáveis: fornecer narguilé para crianças e adolescentes é crime.
O Comissário de Vigilância do Juizado de Menores de Foz do Iguaçu, Delson Paulo Alves, explica que a medida foi tomada porque a Vara da Infância começou a receber inúmeras denúncias via telefone sobre a venda ou fornecimento de narguilé para adolescentes da cidade. "Nós estamos esclarecendo o que está escrito na lei", diz. De acordo com o ofício, assinado pelo juiz Rui Muggiati, adultos flagrados entregando narguilé a crianças e adolescentes podem ser presos e pegar pena de dois a quatro anos, além de pagar multa. O mesmo vale para os adolescentes, que correm o risco de serem apreendidos caso sejam flagrados fumando.
A medida, de acordo com Alves, está prevista no artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O mesmo ofício alerta os responsáveis sobre os perigos do narguilé, também conhecido como arguile, hookah ou shisha, cujo tabaco vem sendo misturado com outras substâncias químicas, tais como vodca e aguardente, causadores de dependência física e psíquica. A decisão da Vara da Infância causou furor entre os jovens de Foz do Iguaçu, cidade onde brasileiros assimilaram o costume, bastante comum entre árabes, indianos e turcos. Também mereceu milhares de registros na Comunidade Arguile, do site de relacionamentos orkut que tem 49.876 membros.
Em Foz, onde vivem cerca de 12 mil imigrantes e descendentes de árabes, colônia só menor do que a de São Paulo (SP), não é difícil encontrar estudantes adeptos ao cachimbo. Boa parte deles, incluindo adolescentes menores de 18 anos, faz uso de narguilé com o consentimento dos pais e diz não sentir dependência da substância. "Comecei a fumar com o meu irmão que tinha vários amigos árabes", diz Poly, 16 anos, (nome fictício). A estudante acabou comprando um narguilé e hoje não passa um dia sem dar uma tragada.
Não é difícil conseguir um cachimbo. O aparelho, onde é colocada água na base e carvão para queimar o tabaco de diversos aromas, no topo é vendido no comércio ou alugado nos bares por até R$ 10 a hora. "Até minha irmã de sete anos fuma", diz um adolescente árabe.
Apesar da liberdade, alguns deles reconhecem o perigo. O estudante de Direito João Alberto Nakamura Júnior, 19 anos, diz que começou a fumar cigarro depois de passar a usar o narguilé. Júnior conseguiu abandonar o vício após seis anos, mas continua adepto ao narguilé, mesmo sabendo que o tabaco contém substâncias prejudiciais à saúde, incluindo a nicotina e alcatrão. "Existe uma lenda que toda impureza do fumo é filtrada na água, mas não é verdade", alerta.