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Tabagismo

Uso do cigarro em tratamento é polêmico

Pacientes têm cigarros controlados na Clínica Quinta do Sol | Pedro Serápio/Gazeta do Povo
Pacientes têm cigarros controlados na Clínica Quinta do Sol (Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo)

A partir de novembro, a lei antifumo vai restringir os espaços onde se pode fumar em Curitiba: nem bares, nem restaurantes, nem qualquer ambiente fechado de uso coletivo. Entre as poucas exceções previstas estão instituições de tratamento de saúde onde pacientes tenham sido autorizados a fumar pelos seus médicos – desde que em ambientes isolados e ventilados.

O que levaria um médico a permitir o fumo? Quem defende a prática aponta para casos em que se considera que a interrupção brusca do vício possa causar consequências piores ao paciente. Por outro lado, há médicos convencidos de que a permissão de fumar em clínicas e hospitais não passa de uma distorção cultural, sem embasamento científico, e que desperdiça um momento propício para o fumante abandonar o vício.

Prós

A cláusula de exceção foi copiada textualmente da lei recentemente aprovada em São Paulo. Para o médico sanitarista João Alberto Lopes Rodrigues, coordenador do programa de controle do tabagismo da Secretaria Municipal de Saúde, a liberação é uma questão de redução de danos em tratamentos de pacientes psiquiátricos, para evitar um agravamento do quadro ou um surto.

"São pacientes que têm alta dependência do tabaco e baixa motivação. Cabe ao médico que compreende toda a situação verificar quando será indicado o corte do cigarro", diz. E alude à liberdade de escolha. "A parada com o cigarro parte de um princípio básico: a motivação do fumante. A lei só estabelece uma regra universal de proteção à saúde. O indivíduo continua tendo o direito de fumar, mas em local adequado."

Nessa tendência, médicos têm optado pela redução gradual do hábito de fumar, de modo a diminuir a crise de abstinência, que pode causar irritação e agressividade. A liberação do tabaco serve não apenas a pacientes com quadros como esquizofrenia ou bipolaridade, mas também ao tratar de dependentes de mais de uma substância química. O psiquiatra Dagoberto Requião, diretor do Hospital Nossa Senhora da Luz, se diz satisfeito com os termos da lei e justifica: "O paciente não aguenta num tranco só ficar livre de duas drogas que causam efeito cerebral nele." Por isso, defende que se combata a dependência mais danosa do ponto de vista imediato, para só depois iniciar o tratamento contra o tabagismo.

Contras

Outra linha de pensamento, segundo a qual o momento da internação é ideal para interromper o vício, é defendida pelo presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria (SPP), Marco Antonio Bessa. "Uma das grandes dificuldades de parar de fumar é o hábito arraigado. Quando a pessoa está isolada no hospital, não tem a possibilidade de sair para comprar cigarro nem exposição a ambientes onde há fumantes, fica mais fácil iniciar o tratamento."

Conselheiro responsável pela Câmara Técnica Antitabagismo do Conselho Regional de Medicina, Bessa faz um alerta: "O tabagismo é uma dependência grave, das mais difíceis de ser tratadas, e favorece a recaída de outras drogas."

O psiquiatra argumenta que a fase de abstinência é uma etapa do tratamento de desintoxicação que não deve ser adiada. "Hoje temos recursos terapêuticos com reposição de nicotina por emplastros ou gomas de mascar", diz.

Especialista em ansiedade, o psiquiatra André Astete, do Instituto de Psiquiatria do Paraná, encara o argumento de evitar a abstinência como um mito. A estrutura médica da instituição de saúde, em que o paciente se vê cercado de especialistas, é, na sua opinião, "o melhor lugar do mundo para ajudar uma pessoa ansiosa a não sofrer de abstinência".

A lei deveria ser corrigida neste ponto, na opinião dos dois. Para Bessa, a "má fundamentação técnica" seria a responsável pela permissão "sem embasamento". Astete acrescenta uma certa "distorção cultural". "A permissão de fumar em ambientes como esse se deve mais à inércia do que a uma justificativa técnica, pois, historicamente, hospitais psiquiátricos sempre foram mais instituições de tutela onde não havia a proibição. O diretor, para abolir o cigarro, enfrenta oposição dos tabagistas", diz.

Na Clínica Quinta do Sol, a psicóloga Tamara Marussig coordena um programa de auxílio-atendimento ao fumante. A iniciativa tenta reduzir o número por paciente – em geral, dependente de álcool, maconha, cocaína ou crack. "90% são tabagistas", diz Tamara.

A psicóloga reconhece a contradição de um estabelecimento de saúde liberar o tabaco. "Gos­­ta­­ríamos de proibir o cigarro, mas a gente lida com uma situação muito frágil", diz, em referência a pacientes com casos graves de transtorno mental.

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