De um ano para cá ele se tornou o amigo inseparável da estudante Stephanef Maia Klamas, de 16 anos. No ônibus a caminho da escola, no intervalo e até mesmo durante as aulas, a garota não se separa do aparelho de mp3. Quando chega em casa, o som continua e, à noite, antes de dormir, lá vão os fones para o ouvido mais uma vez. Assim como Stephanef, milhares de adolescentes têm o mesmo costume passam horas diariamente ao som de suas músicas favoritas. Apesar da diversão da trilha sonora permanente, os especialistas já alertam para o futuro da geração mp3. Se o uso não for moderado, o iPod de hoje pode ser substituído por um aparelho de surdez daqui a alguns anos.
O professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e médico do Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia (IPO), Rogério Hamerschmidt, considera que os aparelhos de hoje são ainda mais danosos do que os antigos walkman ou discman. Isso porque, além de serem menores e mais práticos de carregar, as baterias duram muito mais, a capacidade de armazenamento é maior e o som é mais potente.
Além disso, o tamanho dos fones também é considerado um fator contribuinte, já que, ao contrário dos mais antigos, eles ficam no interior do ouvido, o que impede que o som se dissipe. "O uso em excesso tem implicações auditivas sim. Quanto maior o tempo de exposição ao ruído, maiores os danos. E o que vemos hoje é que as crianças começam a usar esses aparelhos cada vez mais cedo", diz o especialista. Hamerschmidt conta que têm aparecido no consultório jovens de 12 a 18 anos preocupados com a audição.
Segundo o otorrinolaringologista da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, Fabiano Gavazzoni, além do tempo de exposição, é preciso levar em conta também a intensidade do som. A maioria dos jovens costuma ouvir as músicas no volume máximo. "Música baixa não tem graça", confirma Stephanef, que é daquelas que, se você está do lado, acaba curtindo o som por tabela. O volume tolerável para os ouvidos humanos é de aproximadamente 85 decibéis. Embora não se saiba com precisão quantos decibéis um aparelho desses pode emitir, é possível ter uma noção do que é admitível por meio de um parâmetro bem simples. "O ideal é que só você escute a música. Se a pessoa do lado está conseguindo ouvir é porque está muito alto e já pode causar alguma perda", esclarece Hamerschmidt.
Para que o som alto danifique o sistema auditivo são necessários apenas alguns meses. "As células nervosas do ouvido interno não se regeneram, depois de afetadas não há mais o que fazer", alerta Gavazzoni. Segundo ele, assistir à televisão em volume mais alto, perguntar freqüentemente coisas como "ãh?" e "o quê?" durante uma conversa ou ainda ouvir zumbidos são sinais que podem indicar a perda auditiva.
Pesquisa
No Brasil ainda não existem estudos sobre o assunto, mas uma pesquisa realizada pela American Speech-Language-Hearing Association (ASHA), nos Estados Unidos com 300 estudantes do ensino médio e mil adultos mostrou que 50% dos jovens e 47% dos adultos apresentaram perda de audição. Segundo o levantamento, dois quintos dos usuários de aparelhos de mp3 costumam ouvir músicas em volume alto.
Também nos EUA, um cidadão já processou a Apple (fabricante do iPod) alegando perda de audição. Embora trouxessem na embalagem a inscrição "perda permanente da audição pode acontecer, quando o volume é muito alto", a medida fez com que a empresa criasse um software que permite aos pais definir um volume máximo do aparelho por meio de uma senha.
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