Recorrer à caixa de remédios no armário de casa quando aparece aquela dor de cabeça, um resfriado ou uma indisposição qualquer é a primeira reação da maioria das pessoas. Mas esse consumo sem critério de medicamentos é perigoso para a saúde e preocupa as autoridades sanitárias. Há sete anos, a ingestão excessiva ou indevida e as reações adversas aos medicamentos lideram o ranking nacional de intoxicação, sendo responsáveis por 27% dos casos. No Paraná, em 2005, 1.088 pessoas foram intoxicadas.
Embora metade da venda de medicamentos corresponda a automedicação, o comportamento da classe médica na prescrição de remédios também tem contribuído para o agravamento da situação. Estima-se que de 50% a 70% das consultas resultem na prescrição de algum medicamento.
De acordo com o médico neurologista Arnaldo Reis, do Hospital Vita, 80% dos casos de intoxicação estão relacionados a analgésicos, vitaminas e ansiolíticos. "São medicamentos que as pessoas conseguem comprar com facilidade em qualquer farmácia", afirma.
Além dos riscos de alergia ou interação com outros medicamentos, o uso indiscriminado de remédios pode levar ainda a novos problemas de saúde. "Quem usa demais analgésicos para dor de cabeça, por exemplo, pode vir a ter um quadro de cefaléia diária crônica, no qual o organismo passa a precisar do estímulo do medicamento para que não haja a dor", explica Reis. Para a médica infectologista e conselheira do Conselho Regional de Medicina, Célia Burgardt, o que se percebe atualmente é uma grande ansiedade por parte dos pacientes. "As pessoas hoje querem tudo de imediato e tomam remédio para qualquer coisa. É preciso entender que só se toma remédio com indicação e sempre avaliando a real necessidade do uso", afirma.
Um dos maiores problemas ainda está na administração de antibióticos. Estima-se que 75% das prescrições sejam errôneas. O uso indiscriminado leva ao desenvolvimento de bactérias cada vez mais resistentes. Além disso, por atuarem no corpo como um todo, os antibióticos acabam alterando também a flora bacteriana natural do organismo.
O problema torna-se ainda mais complexo se for levado em conta que mais da metade dos pacientes não segue corretamente as indicações do médico quanto à dose, o intervalo e os horários para uso da medicação. "Muitos abandonam o tratamento depois que os sintomas iniciais melhoram", diz Célia. Segundo ela, erros como guardar a medicação no banheiro, o que não é apropriado por causa da umidade, também são bastante comuns. E alerta que, embora muita gente não saiba, depois de aberto, o prazo de validade da medicação costuma ser menor do que o indicado na embalagem.
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