O anúncio de que a partir de agosto os micro-ônibus que circulam em Curitiba só aceitarão o cartão transporte como forma de pagamento gerou polêmica. Vários usuários do sistema e leitores da Gazeta do Povo entraram em contato com o jornal criticando a opção feita pela Urbs de banir o pagamento em dinheiro. As reclamações variam desde a inconstitucionalidade da medida, por supostamente restringir o direito de ir e vir, até o possível corte de empregos de cobradores.
A Urbs, por sua vez, garante que todas as ações propostas passaram pelo crivo da procuradoria jurídica do órgão, que avaliou legislação e exemplos de outras cidades no Brasil e no mundo que adotam esse sistema. Um dos casos é Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, que, desde 2011, só aceita o cartão transporte no sistema local. Lá, a motivação foi o aumento da segurança para trabalhadores e usuários, e a proposta partiu da Procuradoria de Justiça do estado. Aqui, a medida atende a determinação da Justiça do Trabalho, que determinou o fim da figura do motorista-cobrador.
Para o professor de Direito Administrativo da Universidade Positivo, Rodrigo Pironti, não há inconstitucionalidade porque não há restrição de acessibilidade no sistema, já que há mais pontos de venda, nem onerosidade da tarifa, pois a medida não interfere nos custos. "Acredito que amplia o direito de ir e vir, já que eu posso ter um cartão e ainda adquirir outro em qualquer banca de jornal. Se eu não tivesse a possibilidade de adquirir em qualquer ponto de venda que não o ônibus, aí não dava", diz.
Pironti lembra que isso ocorre em outros países. "Os italianos adquirem passes na tabacaria, que é a nossa banca de jornal. É um sistema factível que não viola a Constituição", diz. O professor ainda esclarece que é não é ilegal não aceitar o pagamento em moeda corrente no ônibus, porque ele pode ser previamente feito na banca de jornal.
O mestre em transporte Ricardo Bertin, coordenador adjunto do curso de Engenharia Civil da PUCPR, faz a ressalva de que, a curto prazo, o sistema pode ser ruim porque muitas pessoas ainda não têm o cartão. "No médio e longo prazo, é uma medida boa e lógica, desde que eu tenha pontos de venda rápidos e fáceis para adquirir esse cartão", observa. Outro ponto destacado pelos dois especialistas é a segurança. Sem dinheiro circulando no sistema, há menos risco de assaltos para passageiros e trabalhadores.
Melhorias
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Curitiba e Região (Setransp), Maurício Gulin, afirma que as inovações anunciadas vieram ao encontro do que a própria entidade já havia solicitado à Urbs. "Só vai trazer melhorias, principalmente para segurança de usuários e colaboradores", diz.
Essa medida não vai resultar em fechamento de postos de trabalho, pois inicialmente é restrita aos veículos que já não tinham cobradores. Para Gulin, uma possível expansão desse sistema de bilhetagem é benéfica. "Se houver uma expansão, vamos trabalhar para desenvolver a mão de obra, com requalificação e readequação no próprio sistema."
Tira-dúvidas
Entenda como vai funcionar o sistema de cobrança com uso exclusivo do cartão:
Quando a medida começa a valer?
A partir de 1.o de agosto em 62 linhas de micro-onibus que circulam em Curitiba.
Quais as diferenças entre o cartão usuário e o avulso?
O cartão usuário é o que já existe e exige um cadastro prévio, com a apresentação de documento com foto, CPF e comprovante de residência. Esse modelo tem a primeira via gratuita, permite carregar até o limite de 220 créditos, limite de créditos usados por dia e bloqueio com transferência de saldo para novo cartão em caso de roubo ou extravio. A segunda via custa o valor de cinco passagens. Já o cartão avulso vai custar R$ 3 e pode ser carregado com até 25 créditos. O modelo não pode ser bloqueado, nem limitar a quantidade de créditos usados por dia e não faz integração temporal.
Por que o cartão avulso tem um custo de R$ 3 para a aquisição?
O valor cobre os custos de confecção, distribuição e imposto do cartão que será revendido em bancas de jornal, inicialmente.
Por que o cartão usuário tem a primeira via gratuita?
Porque existe um decreto que determina que seja assim. O custo é bancado pela Urbs, nesse caso.
Preciso morar em Curitiba para ter um cartão usuário ou avulso?
Não é preciso ser morador de Curitiba para ter qualquer um dos cartões.
Se eu não tiver cartão, posso pagar com dinheiro o valor da passagem?
O dinheiro só será aceito como forma de pagamento nas estações-tubo, terminais e ônibus com cobrador. Os micro-ônibus só aceitarão pagamento em cartão.
Por que não posso pagar a passagem no micro-ônibus com dinheiro?
Para atender uma determinação da Justiça do Trabalho, que determinou que o motorista não pode cobrar a passagem, a Urbs optou por tornar o cartão transporte o único meio de entrar nesses ônibus e ampliou os pontos de venda para isso. A escolha dessa modalidade foi tomada para evitar o aumento de custo na tarifa com a adaptação dos coletivos e contratação de mais pessoal.
Por que não há nenhum atrativo, como desconto na passagem ou integração temporal, para quem usa cartão?
A Urbs estuda a possibilidade de implantar essas medidas, mas não há nenhuma decisão nesse sentido. A integração temporal existe de forma limitada em Curitiba e contempla apenas os usuários de linhas que não são atendidas pela integração física.
Se durante a semana pego ônibus com cobrador e no fim de semana ele é substituído por um micro-ônibus, como procedo o pagamento?
Existem poucos casos assim na cidade, como a linha Raposo Tavares. Para usar o micro-ônibus o usuário vai precisar ter o cartão transporte. A Urbs avalia a possibilidade de manter o ônibus com cobrador no fim de semana.
Como vai operar a linha Circular Centro?
O acesso também será apenas com cartão transporte. A Urbs estuda como programar o validador para descontar o valor menor da passagem, que é de R$ 1,70 diariamente.
Posso pagar a tarifa domingueira no cartão transporte?
Sim. Haverá um ajuste na programação do sistema, que descontará apenas o valor de R$ 1,50, não a tarifa cheia.
Haverá demissão de cobradores?
Nesse momento não haverá perda de nenhum posto de trabalho, uma vez que a medida de só aceitar cartão está restrita aos micro-ônibus, que já não tinham cobrador.
Quais bancas de jornal venderão os cartões?
Serão 23 pontos de venda que serão divulgados na próxima semana. De acordo com a Urbs, os locais foram escolhidos pela proximidade com as 62 linhas que operam com micro-ônibus.
Por que não há mais pontos de venda?
Inicialmente, o teste será nesse locais que já são permissionários da prefeitura. A expectativa é de ampliar as modalidades com cartões pré-pagos, que serão vendidos em qualquer estabelecimento.
Por que não há uma máquina para venda de cartões e recarga?
Para implantar o projeto, a Urbs optou por usar a rede de permissionários da prefeitura para fixar os pontos de venda. A automatização do processo pode ser estudada futuramente.
Onde fazer o cartão?
Na unidade da Urbs na Rodoferroviária e Ruas da Cidadania, das 8h30 às 17 h. Hoje, os postos fixos de atendimento ao público da Urbs ficarão abertos das 8h30 às 12 h. A partir do dia 14, o cidadão terá mais três pontos de atendimento, nos terminais Cabral e Santa Felicidade e na Travessa Nestor de Castro, das 7 às 19 h.
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