Um cartaz com ofensas a alunas da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), em Piracicaba (SP), que foi afixado no campus da universidade, revoltou estudantes e virou alvo de uma investigação da USP.

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Os apelidos pelos quais estudantes do sexo feminino – e até alguns homens – são conhecidos na faculdade foram listados em uma espécie de ranking afixado no Centro de Vivência do campus. O local lembra um pátio escolar, com lanchonete, e funciona como ponto de encontro dos estudantes nos intervalos das aulas.

As características listadas tratam de supostas intimidades das alunas e também indicariam quem são os estudantes homossexuais. Ao lado de cada apelido, há marcas indicativas de quantidade.

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Um professor que investiga há 14 anos trote na universidade, Antonio Ribeiro de Almeida Júnior, do departamento de economia, administração e sociologia, afirmou que o caso é típico de racismo, machismo e homofobia. Segundo ele, este ano a Polícia Civil já investiga um suposto assédio sexual praticado por um aluno contra diversas estudantes da instituição.

Trotes violentos são comuns na Esalq. Alunos da faculdade prestaram depoimento à CPI da Assembleia dos Deputados de São Paulo no começo do ano e relataram até casos de tortura.

A CPI foi instalada em dezembro passado e colheu depoimentos de vítimas de violência. Os casos também ocorreram na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e na PUC-Campinas. O relatório final foi aprovado em março deste ano com uma série de recomendações.

A direção da Esalq informou, por meio da assessoria de imprensa, que tomou conhecimento do caso no início do mês e que criou uma comissão sindicante para apurar os fatos.

O cartaz com termos pejorativos gerou revolta entre as alunas da Esalq e foi retirado do local. Elas afixaram cartazes de protesto em pontos estratégicos do campus, com manifestações contra o machismo e o racismo. Os estudantes também se mobilizaram nas redes sociais.

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A aluna Élice Botelho escreveu no Facebook: “Percebi que os níveis de machismo, lgbtfobia e racismo da Esalq não param de piorar”. Ela criticou o uso do termo “teta preta” e afirmou que há boatos de que o ranking foi feito em duas repúblicas para alunos do sexo masculino.

À reportagem a estudante disse que espera que a universidade se conscientize dos problemas para combatê-los da forma mais eficiente. “Não acredito que essa sindicância vá dar algum resultado, porque é difícil identificar quem fez o cartaz. Mas a gente espera punição e uma ação educacional, pedagógica, da universidade, para que novos casos não se repitam.”

Élice afirmou na rede social que o uso do termo “teta preta” – um dos termos listados – foi o que mais lhe chamou atenção. “Sendo mulher e negra fico me perguntando o que tem de errado, a ponto de ser usado como uma “brincadeira” que em tese é para ‘zoar’ algum aspecto negativo de alguém, o fato de se ter a teta preta. Além do próprio termo ‘teta’, como se fosse de algum animal”, escreveu.

Ela pediu um fim à discriminação. “Basta, porque são coisas como essas que fazem muitas mulheres negras terem a autoestima extremamente baixa, se sentirem solitárias, não serem desejadas e acabarem não se relacionando”, completou.

A aluna termina o texto convocando os alunos para uma “luta coletiva” contra ações discriminatórias. “Se não for quem realmente sofre determinada opressão reivindicar seus direitos, não serão aqueles que estão em privilégio que o farão (...). Somente nos organizando e lutando com muitos outros iguais a nós é que conseguiremos avançar para uma ESALQ, e também uma sociedade, mais igualitária e justa, onde a diversidade seja um ideal e não um defeito.”

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