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Sting: sem dom para as rimas | Arquivo Gazeta do Povo
Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Curitiba – O jovem brasileiro consumidor de drogas ilícitas é branco e pertence às classes mais altas da sociedade. Isso é o que indica a pesquisa divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) que traçou um perfil do jovem brasileiro no que trata de consumo de drogas, prisões e mortes por fatores externos.

Segundo a pesquisa, cerca de 62% dos entrevistados que declararam ter despesas com drogas têm alto poder aquisitivo, 59,32% possuem de 8 a 11 anos de estudo e 29,69% freqüentam universidades. Do lado dos jovens presidiários, a realidade é diferente. Quase 46,55% deles têm menos de 8 anos de estudo e 47% são negros ou pardos. A pesquisa também concluiu que as pessoas entre 20 e 29 anos são a maioria nos presídios do país, correspondendo a quase 51,96% da população carcerária brasileira.

O autor do trabalho, Marcelo Neri, compara algumas conclusões do trabalho ao filme Tropa de Elite, do diretor José Padilha. A produção brasileira mostra, entre outras coisas, o universo do usuário de drogas e do fornecedor do produto no país. "Os dados confirmam a situação brasileira apresentada no filme, em que jovens de classe mais alta consomem e sustentam o mercado do tráfico de drogas ilícitas", afirma Neri.

Para a professora de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), Graziela Pavez, esse consumidor pode ser considerado um co-participante do tráfico, responsável indiretamente por todas as conseqüências da prática criminosa. "Esse jovem possui um grau de escolaridade alto e tem consciência da realidade. Ele é informado o suficiente para saber todo o sistema de violência social que o seu consumo causa", comenta a professora.

Um Estado que trata de punir apenas o tráfico e não coíbe de forma efetiva o uso das drogas é apontado por Neri como um dos motivos para essa realidade. "Acredito que a gente tem uma política de segurança que se fixa apenas no braço da oferta, não procura inibir o consumo, o mercado de varejo. Enquanto a gente não mudar essa situação – liberando as drogas ilícitas leves – ou agindo com mais força no lado dos consumidores, continuaremos a conviver com a violência do tráfico de drogas", diz o pesquisador

Mortes violentas

O acesso facilitado às drogas e o envolvimento com o mundo violento do tráfico colocam os jovens como os elementos da sociedade brasileira mais vulneráveis às mortes por causas externas. Dentro desse grupo, as agressões são a principal causa. Segundo os indicativos do FGV, a cada 100 mil habitantes entre 20 e 29 anos, quase 58 morrem por esse motivo. O trânsito é o segundo fator. Nessa mesma faixa etária, cerca de 30 jovens numa população de 100 mil morreram por essa causa.

Graziela entende que as mortes violentas estão diretamente relacionadas ao universo dos jovens que possuem envolvimento com o tráfico de drogas. "O traficante não tem preocupação nenhuma com o jovem, a não ser que ele seja o seu usuário prioritário, que ele não quer que morra porque ele é apenas um integrante do comércio que ele criou", afirma.

A violência ocasionada pelo consumo de drogas tem reflexos também nos cofres públicos federais. Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), entre 2002 e junho de 2006, foram gastos mais de R$ 4 milhões com procedimentos e internações hospitalares relacionadas a isso. O valor gasto pelo governo federal para o tratamento de pessoas viciadas em drogas em unidades extra-hospitalares no mesmo período foi cerca de R$ 36,7 milhões.

A presença feminina

As mulheres são minoria entre os jovens presidiários e consumidores de drogas brasileiros. Como indica a pesquisa, menos de 1% das pessoas que se declararam consumidores de drogas são do sexo feminino. Nos presídios, elas correspondem a cerca de 3% do universo. Em contrapartida, os indíces da FGV indicam que há um aumento na taxa de fertilidade entre as jovens.

Os dados mostram que essa taxa entre as adolescentes das favelas cariocas é cinco vezes maior em comparação às moradoras de mesma faixa etária dos bairros de classe alta. "Um estudo americano demonstra que um dos motivos para a queda da taxa de violência nos Estados Unidos foi a legalização do aborto e o fim da gravidez indesejada. Sei que esse é um ponto polêmico, mas o que os indicadores demonstram é que há uma relação entre essa gestação precoce e os índices de violência", diz Neri.

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