Ponta Grossa – A carência de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) voltou à tona há dois meses, quando um relatório do Hospital Universitário de Londrina apontou que 25 pessoas supostamente recuperáveis morreram na fila de espera. Desde então, uma séria de informações reforçam a deficiência no número de vagas disponíveis para atendimento intensivo. Em Irati, um paciente morreu no domingo, depois de aguardar por 22 horas a liberação de um leito. Documentos do Pronto-Socorro de Ponta Grossa apontam que 31 pessoas faleceram, nos últimos 10 meses, na fila de espera. Em Londrina, uma comissão que apura as mortes ocorridas neste ano no HU informou que o déficit de leitos chega a 25%.

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Pelos indicadores do Ministério da Saúde e da Associação Médica Brasileira, o Paraná está fora dos patamares ideais de disponibilização de leitos de UTI. Nesse caso, a proporção deveria ser de 10% dos leitos gerais. Ou seja: como o estado tem 23.983 leitos hospitalares credenciados ao Sistema Único de Saúde (SUS), precisaria ofertar 2.398 vagas de UTI. A rede pública de atendimento intensivo conta com 929 leitos e o mínimo deveria ser 959.

O diretor da Secretaria Estadual de Saúde, Gilberto Martim, considera o quadro menos grave do que parece. Segundo ele, a rede está em expansão e o Paraná pode considerar que atinge a meta mínima, já que a diferença em relação aos padrões estabelecidos pelo ministério é muita pequena. Ele informou que a secretaria trabalha com o objetivo de alcançar 6% de cobertura – o que representaria 1.438 unidades.

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Para vencer problemas emergenciais, Martim diz que desde o início deste mês estão à disposição 103 leitos de convênio ou particulares, para uso pelo sistema público. Foram firmados acordos com 26 estabelecimentos de saúde em 16 cidades. Desde que a chamada reserva técnica passou a fazer parte das opções de encaminhamento da Central de Leitos, 22 vagas foram utilizadas. Para Martim, o fato de poucos dos novos leitos terem sido necessários é a prova de que não há déficit real. Além disso, o governo destaca o esforço em se tentar amenizar o problema. Segundo o diretor, a rede foi ampliada em cerca de um terço, com pelo menos 300 novos leitos implantados desde 2003.

Fila

Em detrimento da reserva técnica, os dados apresentados pela própria secretaria mostram que a fila de espera por leitos de UTI continua. Um levantamento solicitado pela Gazeta do Povo indica que no dia 19 de agosto, por exemplo, existiam no Paraná 25 pacientes na lista de espera, sendo três em Cascavel, cinco em Londrina, três em Ponta Grossa, dois em Curitiba e doze em Maringá. Ontem a situação era semelhante: 28 pacientes na fila, sendo oito em Curitiba, três em Cascavel, nove em Londrina, sete em Maringá e um em Ponta Grossa. Ainda de acordo com dados da secretaria, o tempo de espera é superior a 24 horas em 10% dos casos.

A reserva técnica não beneficia diretamente Londrina. Desde 2003, o número de leitos foi ampliado em 13 unidades, chegando a 102. "Os hospitais de Londrina já estão na capacidade máxima", diz o diretor. Mas a secretaria alega que investimentos na macrorregião – como nas cidades de Ivaiporã, Arapongas, Cornélio Procópio e Jacarezinho – devem amenizar a carência localizada. Vale a pena ressaltar que um leito de UTI não pertence aos pacientes da regional de Saúde onde ele está alocado. A vaga, muitas vezes, é ocupada por pessoas encaminhadas por outras regionais.

Para o diretor, é preciso reforçar que a secretaria trabalha com a realidade possível. Ele destaca que foram investidos mais de R$ 8 milhões em diárias de UTI apenas este ano. Os leitos da reserva técnica, só em agosto, custaram ao estado cerca de R$ 100 mil. A taxa de ocupação nas unidades intensivas é, de acordo com a secretaria, na ordem de 98%. "Precisaríamos chegar a 80% para termos uma margem de segurança", reconhece Martim.

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