Na entrada da cidade, o visitante percebe que alguma coisa está errada. Uma cratera está na estrada, ladeada de morros que deslizaram. Em alguns trechos, o barro ficou no asfalto e é necessário usar um desvio. O rio que corta a cidade está cheio. Ao olhar para cima, o tempo pode estar ensolarado, mas ainda há casas que ameaçam cair.
A imagem que o visitante tem ao entrar em Blumenau, a maior das cidades atingidas por chuvas e deslizamentos em Santa Catarina, ilustra o que acontece na maioria dos municípios do Vale do Itajaí. São indícios de que uma tragédia climática passou pelo local.
Só que a imagem inicial não mostra tudo. Não mostra o esforço da população para reerguer a cidade, nem o comércio de portas abertas, nem as obras de recuperação que estão sendo feitas. Não fossem os resquícios de destruição, o visitante desavisado acharia que tudo está normal.
Blumenau irá se recuperar totalmente em dois anos, segundo a previsão da prefeitura, já que dos cerca de 300 mil habitantes da cidade, 103 mil foram atingidos pela enchente. Mas os catarinenses têm pressa. Assim que a chuva parou e o nível da água nas lojas baixou, os comerciantes voltaram a abrir as portas.
O proprietário de uma loja de lembranças de Blumenau, Alexandre Matos, é um dos mais teimosos. Reabriu a loja no início de dezembro e não vendeu nada na segunda, nem na terça, nem na quarta. Mas, aos poucos, os turistas voltam a aparecer. Na última quinta-feira, passageiros de dois ônibus vindos do Chile pararam na loja de Matos. A guia turística Luísa Sbardelotto conta que a viagem estava prevista desde abril e que em nenhum momento os chilenos ficaram preocupados. Ela trouxe 800 chilenos ao estado na semana passada.
Atrair o turismo é o grande desafio do governo de Santa Catarina. O Ministério dos Transportes está realizando obras nas rodovias e a previsão é de que todas estarão concluídas até o fim de janeiro. Já para a população local a necessidade é a recuperação da infra-estrutura, como escolas e creches destruídas e 500 ruas danificadas.
Só em Blumenau foram registrados 3 mil pontos de deslizamentos. Um deles atingiu a escola de Gabriel Carlos de Oliveira, 12 anos. Cerca de 350 alunos estudavam no local. Gabriel, que andava 10 metros para chegar à escola, irá se matricular em outro colégio. Os cerca de 500 alunos atingidos pela destruição de duas escolas municipais serão transferidos ou passarão a estudar em locais provisórios.
A prefeitura está fazendo o Cadastro Único do Cidadão Atingido, para traçar o perfil dos desabrigados e desalojados para nortear políticas públicas. São quase 25 mil pessoas que perderam casas na cidade (24 morreram) e têm pressa para o retorno a uma casa própria. No estado, o número chega a 33,5 mil. Para evitar que eles fiquem também sem emprego, empresários blumenauenses fecharam um acordo informal que prevê a manutenção dos empregos por um período de três meses.