Seis anos após a onda de sumiço e mortes de 23 mulheres em Almirante Tamandaré, na região metropolitana de Curitiba, o júri de 17 réus acusados de matar duas delas (Maria da Luz Alves dos Santos e Joyce Devitte Katovich) e cinco homens ainda pode demorar mais dois anos para ocorrer. O grupo está preso há cerca de quatro anos. Entre os detidos estão policiais e ex-policiais denunciados pelo Ministério Público Estadual por formação de quadrilha, tráfico de drogas, homicídios e outros delitos.

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Também chegou-se aos supostos autores da morte de uma terceira mulher: a empregada doméstica Suzana Moura Gazani. Três pessoas foram presas e a primeira fase processual está encerrada. A sentença os mandou a júri popular, mas a defesa recorreu. O processo foi parar no Tribunal de Justiça, que confirmou a decisão no mês passado, mas ainda cabe recurso, desta vez para o STJ. Se isso não ocorrer, o julgamento pode ser nos próximos 90 dias, desde que ninguém peça o seu desaforamento – levar o júri para outra cidade.

Apesar das prisões realizadas, a maioria dos crimes que vitimaram mulheres de Tamandaré ainda não foi elucidada. A apuração da morte de Vanessa Ekert é um exemplo. Num primeiro momento dois motoqueiros foram presos como suspeitos. Eles ficaram quase três anos na cadeia, até se descobrir que havia um engano: testemunhas voltaram atrás e disseram que o autor do crime era um ex-policial militar, que tinha parentesco com políticos importantes da região. Os rapazes detidos foram absolvidos em júri popular.

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Até o momento, de todos os casos, a Justiça condenou apenas o servente Luciano Reis dos Santos, que confessou o homicídio da professora Teresinha Elizabete Kepp. Ele pegou 21 anos de reclusão. A Secretaria de Segurança Pública designou vários delegados especiais para apurar 18 inquéritos considerados insolúveis até o momento. Mas o tempo tem se encarregado de colocar uma pedra em cima deles.

Um dos mistérios é a morte da secretária Natalina de Fátima Kapp. Ela desapareceu à noite, no trajeto entre a Casa do Professor (onde trabalhava), em Curitiba, e a sua residência, no distrito de Tranqueira, em Almirante Tamandaré. O seu corpo foi encontrado numa chácara, dentro de um matagal, uma semana depois. A família de Natalina não se conforma com o fracasso da investigação. "Não se sabe como ela morreu. A polícia investigou vários suspeitos e o inquérito continua parado", lamentou a irmã da vítima, Rosalina Kapp. Até hoje ela participa de reuniões, protestos e manifestações para cobrar a elucidação do caso. A última foi a Marcha Mundial das Mulheres, realizada em Belo Horizonte, na semana passada.

Rosalina ainda vai tentar marcar uma nova audiência com o secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, para discutir o assunto. "Há um delegado no caso, mas a coisa não evolui." Segundo Rosalina, não bastasse a falta de novidade, tem gente sendo ameaçada. "A mãe de duas vítimas (mataram a filha e a neta) foi embora de Almirante Tamandaré por causa das ameaças", contou.

Defesa

Enquanto a polícia não consegue esclarecer os outros casos, os advogados dos réus presos aumentam o tom do discurso e colocam em dúvida toda a investigação. Segundo Alessandro Maurici, a demora para julgar seu cliente, o policial militar Jeferson Martins, não se justifica. "Ele é inocente. Já abri mão do recurso para tentar acelerar o julgamento, sem sucesso. Vou entrar com novo pedido de habeas-corpus. O meu cliente está há quatro anos preso e não há perspectiva de julgá-lo", lamentou o advogado. Martins responde ao processo dos 17 réus, por suspeita de sete homicídios, sendo que duas vítimas são mulheres.

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Já o advogado José Leocádio de Camargo aponta várias supostas nulidades no processo dos 17 réus. Ele defende o escrivão da Polícia Civil Alexsander Perin Pimenta. Uma das nulidades seria o cerceamento de defesa dos acusados durante o aditamento da denúncia (inclusão de novos réus no processo).

O criminalista Antônio Figueiredo Basto acha lastimável a demora. "As pessoas estão presas, aguardando a definição do processo, que não acaba. Tenho certeza, a investigação foi destinada a prender alguém. Não acredito na culpa de nenhum deles. Falta coragem para colocar essas pessoas em liberdade", afirmou Basto, que defende Antônio Martins, o Tico Pompilho.

O Ministério Público Estadual não se manifestou sobre o assunto. O promotor Marcelo Briso Machado informou que só falará quando os processos voltarem do TJ para o Fórum de Almirante Tamandaré. A Secretaria Estadual de Segurança Pública também foi procurada pela reportagem e não comentou o caso.