Com as primeiras informações sobre o vazamento de óleo na Bacia de Campos, no litoral norte do Rio de Janeiro, no começo do mês passado, vieram as suposições sobre o tamanho da mancha que se estendia a partir da região do Campo de Frade. A estimativa prévia apresentada pela Chevron, empresa responsável pelas perfurações no local, se mostraram incorretas e um dos primeiros sites a mostrar que o vazamento era muito maior que o anunciado foi o da SkyTruth, uma organização não governamental (ONG) que trabalha com o uso de imagens de satélite para verificar impactos ambientais. O presidente da instituição, o geólogo norte-americano John Amos, concedeu entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, por telefone, contando um pouco do trabalho da SkyTruth e do caso da Chevron no Brasil.
Como começou o monitoramento do vazamento na Bacia de Campos?
Nós ficamos sabendo do vazamento na Bacia de Campos por uma notícia, no dia 10 de novembro, de que a Chevron havia detectado uma mancha de óleo perto do Campo de Frade. Não estava certo naquele momento qual era a situação. Nós começamos a olhar imagens de satélite da área imediatamente e encontramos duas imagens que mostravam uma longa mancha na área. No dia 12, nós achamos outra imagem que mostrava uma grande mancha no mesmo local. Usando as mesmas técnicas que usamos na época do vazamento da British Petroleum (BP), no Golfo do México, nós calculamos o tamanho do vazamento. Baseados em uma estimativa que fizemos da espessura do óleo, calculamos que estavam vazando 3,7 mil barris por dia, dez vezes mais do que a Chevron dizia [330 barris diários].
Mesmo com o poço fechado, ainda há informações sobre esse incidente?
Nós continuamos monitorando. Estamos para publicar uma imagem de um radar que foi tirada no dia 25 de novembro e mostra uma pequena mancha no local do campo da Chevron. Muito menor do que a que nós tínhamos visto antes, mas ainda assim é uma mancha. Isso bate com o que nós ouvimos da Chevron, sobre o poço ter sido fechado com sucesso, mas com uma pequena quantidade de óleo vazando do fundo do mar. Nós esperamos ver uma pequena mancha naquele local durante algum tempo.
Logo que o vazamento foi descoberto, as estimativas da extensão do problema eram menores. Mas por meio das mídias sociais essa visão foi mudada, inclusive com as imagens postadas pela SkyTruth. Qual é a importância da relação com as mídias sociais quando ocorrem esses acidentes ambientais?
As mídias sociais são outra ferramenta que ajuda grupos independentes, como a SkyTruth. Nós checamos os fatos, investigando esses incidentes com o uso de nossas habilidades e conhecimentos e publicando nossos resultados. Nós não temos de esperar que a grande mídia publique nosso trabalho. Nós podemos fazer isso imediatamente no nosso blog e divulgar no nosso Facebook e no Twitter. As mídias sociais também permitem estabelecer diálogos com pessoas que saibam mais que a gente. Um exemplo é que aqui nos Estados Unidos existe um site do governo que apresenta a localização das plataformas no Golfo do México. E eu não sabia se tinha algo parecido com informações sobre o Brasil. Então eu perguntei no Twitter e em nossa página do Facebook. Acredito que cinco ou seis brasileiros responderam e me passaram um site do governo que continha a informação. Poder pedir ajuda é outro aspecto muito valioso das mídias sociais. Essa interação nós não temos pela mídia tradicional.
A SkyTruth monitora constantemente vazamentos e outros problemas ambientais. Qual foi o caso mais interessante em que vocês se envolveram?
Um caso interessante aconteceu durante o monitoramento do vazamento da BP, no ano passado. Nós descobrimos outro vazamento no Golfo do México, muito menor e não relacionado. Acontece que a plataforma havia sido destruída por um furacão em 2004 e alguns dos poços estavam vazando continuamente. E ainda não foram consertados. Foi um choque para as pessoas saber que uma estrutura como essa estava vazando por tanto tempo e nada foi feito. A indústria está tentando acabar com o vazamento, mas ainda não conseguiu terminar o trabalho.
O que falta para haver mais preocupação da sociedade com esses vazamentos?
Eu acredito que, como esses pequenos vazamentos não são divulgados, existe uma pressão pequena em cima das indústrias para que façam um trabalho melhor. Com isso, os órgãos reguladores do governo também não são pressionados para fazer uma inspeção mais vigorosa e cumprir a lei. Porque, enquanto o público não souber que há um problema, a indústria acredita que não tem razão para gastar dinheiro consertando esses problemas.