Segundo a companhia Chevron, 18 navios trabalham na contenção do óleo que vazou do poço de perfuração no Campo do Frade, na Bacia de Campos| Foto: Divulgação/Chevron

Chevron: acidente virou "gotejamento ocasional"

Agência estado

A petroleira Chevron negou ontem que tenha havido vazamento pela sapata do poço e disse que as causas ainda estão sendo investigadas. E garantiu que segue informando os órgãos brasileiros competentes com todos os detalhes sobre o desastre ambiental. Em nota, a companhia informou que já iniciou um trabalho de cimentação para vedar o vazamento. Disse ainda que o monitoramento mais recente indicava que o óleo que aflorava no fundo do mar, por falhas geológicas, reduziu-se a um "gotejamento ocasional". A empresa afirma que "jamais ocorreu qualquer fluxo de óleo pela cabeça do poço".

De acordo com estimativa da Chevron, o volume de óleo na superfície do oceano está "abaixo de 65 barris" . A companhia informou ainda que mantém 18 embarcações, atuando em rodízio, na operação.

A Chevron informou que segue trabalhando em "estreita parceria" com sua contratada de perfuração, a Transocean, nas operações de fechamento do poço. Todas as operações de perfuração de poços de desenvolvimento no campo permanecem suspensas.

Monitoramento

A companhia disse ainda que monitora a mancha de óleo, que dissipou-se significativamente, e continua coordenando e mobilizando recursos para monitorar e recolher o que resta da mancha de óleo. A mancha está localizada a cerca de 120 quilômetros do litoral e continua movendo-se em uma direção sul-leste, afastando-se da costa brasileira.

Informou ainda que as atividades de produção foram mantidas inalteradas no Campo de Frade durante o incidente, e trabalhando com os órgãos do governo brasileiro e parceiros do setor em todos os aspectos desta matéria.

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Cerca de 3.738 barris de óleo cru (o equivalente a 594 mil litros) podem ter vazado de um dos poços operados pela companhia norte-americana Chevron na Bacia de Campos, no litoral norte do estado do Rio de Janeiro. A estimativa foi feita pelo geólogo John Amos, com base em imagens captadas pela Nasa, a agência espacial norte-americana. Amos é um dos fundadores da ONG SkyTruth, uma das primeiras entidades independentes a dimensionar o mega-acidente da British Petro­leum (BP), no Golfo do México, em 2010.

O vazamento no Campo de Frade foi detectado no último dia 9 e já dura mais de uma semana. A mancha está a 120 quilômetros da costa e ocupa uma área de 163 quilômetros quadrados, segundo a Marinha. A Polícia Federal (PF) abriu inquérito para apurar o acidente ambiental. O motivo da investigação foi confirmado ontem pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) a dois parlamentares: a Chevron é acusada de omitir informações à ANP e de subdimensionar o impacto ambiental do acidente.

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Segundo o deputado Sarney Filho (PV-MA), a quantidade de óleo que vazou é muito maior do que o estimado pela petrolífera, recalculado ontem em 65 barris, o equivalente a 10.335 litros (cada barril tem 159 litros). O parlamentar se reuniu ontem com o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, e a diretora Magda Chambriard, no Rio de Janeiro.

Lima disse na conversa que ficou claro que houve erro da Chevron na prestação de informações à agência, pois a companhia repassou ao órgão regulador, três dias após o acidente, que a quantidade de óleo vazada era a mesma do primeiro dia de ocorrência. A agência está estimando que, desde a semana passada, uma média de 330 barris tenham vazados por dia.

Sapata

Segundo o diretor-geral da ANP, um problema na sapata de um dos poços permitiu que o óleo escapasse. Ele disse estar convicto de que serão aplicadas "multas pesadas" pelo acidente, mas os valores só serão definidos depois de controlado o vazamento. A autuação deve ser feita pelo Ibama. Em nota oficial, a Chevron informou que iniciou um procedimento de cimentação para vedar totalmente o poço onde ocorreu o vazamento.

Em entrevista à Agência Brasil, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o governo cobra rigor na fiscalização das ações de contenção do vazamento. Segundo ele, a ANP deve aplicar os "corretivos decorrentes da lei" à empresa responsável pela exploração do campo.

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"Se a Chevron não está cumprindo o papel dela, mais severamente punida ela será", avisou. Para o ministro, o vazamento não é tão grave porque o óleo não está se espalhando na direção da costa fluminense. Segundo o Ibama, o valor da multa é proporcional ao dano ambiental causado, que só poderá ser avaliado ao final dos trabalhos. A responsabilidade pela contenção do vazamento e pela retirada do óleo derramado no oceano é da Chevron.

Segundo a companhia, 18 navios estão operando na área para conter o vazamento: dez foram cedidos pela Petrobras, Statoil, BP, Repsol e Shell e oito são da Chevron.

Crítica

Plano de contingência foi esquecido

O oceanógrafo Luís Melges, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), criticou a falta de um Plano Nacional de Contingência, que começou a ser discutido em 2000, com o vazamento de óleo na Baía de Guanabara, e não foi concluído. "Esse plano permitiria que medidas fossem tomadas imediatamente, sem precisar discutir passo a passo. Estabelece quem fica à frente das operações. Não há regra do jogo estabelecida, onze anos depois", afirmou. "O Brasil tem explorado a possibilidade do pré-sal. Mas na hora de um acidente como esse, que preparo nós temos?"

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Hoje, técnicos da Marinha, da Agência Nacional do Petróleo e do Ibama farão um sobrevoo no local do acidente. O secretário do Meio Ambiente, Carlos Minc, informou que cobrará da Chevron reparação ambiental. "Aquela região é rota migratória de baleias e golfinhos."

Royalties

Óleo vazou na véspera de passeata

O Campo de Frade fica a 370 quilômetros a nordeste da costa do estado do Rio de Janeiro, a cerca de 1.200 metros de profundidade, e produz diariamente cerca de 79 mil barris de petróleo. O vazamento no poço da Chevron começou um dia antes da passeata que mobilizou o estado do Rio pela manutenção das regras atuais de distribuição dos royalties do petróleo apenas para estados e municípios produtores, como forma de garantir a compensação por danos ambientais.

O secretário do Meio Ambiente do Rio, Carlos Minc, disse que os impactos do vazamento reforçam a necessidade de manter como está a partilha dos royalties. "Se esse óleo chegar à praia não vai chegar a Rondônia ou ao Tocantins, mas a Arraial do Cabo, a Rio das Ostras e a Campos dos Goytacazes", disse.

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Segundo a Chevron, inspeções no local mostram que o vazamento não estaria relacionado às atividades de produção.