Apesar de todo o investimento feito em ônibus expressos, com a implantação do Ligeirão e o desalinhamento de estações-tubo, Curitiba ainda não conseguiu elevar a velocidade do sistema de transporte coletivo a padrões de maior eficiência. Em média, os ônibus trafegam a 17 quilômetros por hora (km/h), quando o ideal seria uma velocidade de operação entre 20 km/h e 25 km/h, segundo especialistas do setor ouvidos pela Gazeta do Povo durante o Seminário Nacional de Mobilidade Urbana, promovido pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), no mês passado, em São Paulo. De acordo com eles, velocidades acima de 20 km/h garantem a viabilidade econômica do sistema e a capacidade de atrair novos passageiros.
O presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense Pires, explica que grande parte dos custos dos sistemas tem relação direta com a velocidade dos ônibus. "Em São Paulo, uma viagem feita em dez minutos há 50 anos virou uma viagem de 64 minutos hoje", diz. O tempo perdido no trânsito implica menor pontualidade das linhas, em superlotação dos ônibus e na má adequação da oferta de veículos diante da demanda de passageiros.
Outro problema é que a falta de planejamento urbano nas cidades, que cresceram sem medida, resultou em baixo adensamento populacional em determinadas áreas, um problema que pressiona ainda mais a velocidade operacional dos ônibus na opinião de Otávio Cunha, presidente da NTU. "Por que o transporte público acaba disputando espaço com o automóvel", explica. A lógica é perversa: com o tempo de viagem aumentando, é preciso mais veículos para transportar a mesma quantidade de passageiros, aumentando os custos e diminuindo a eficiência.
Ligeirinho
Entre 2008 e 2011, Curitiba obteve um aumento tímido na velocidade média, passando de 16 km/h para 17 km/h. Em Curitiba, o Ligeirão é o modelo que alcança maior velocidade e transporta mais passageiros graças à via exclusiva e ao baixo número de paradas. Já as linhas alimentadoras ou troncais de cor laranja ou amarela são as mais lentas. Chama a atenção a queda na velocidade dos Ligeirinhos nesse período de 24,5 km/h para 22,4 km/h. A explicação está no fato de o Ligeirinho transitar em áreas de trânsito mais pesado e de dividir as vias com os demais veículos.
Para aumentar a velocidade média, a Urbs estuda adotar faixas de circulação exclusivas para ônibus em horários de pico o chamado modelo BRS e terminar as obras de desalinhamento das estações-tubo no eixo Norte-Sul para inclusão de uma nova linha do Ligeirão.
Rapidez nos deslocamentos é indicativo de qualidade
A velocidade de operação é um fator que indica qualidade do sistema, especialmente para os Bus Rapid Transit (BRT, sistema com faixas exclusivas e embarque fora do ônibus). Enquanto em Curitiba, os expressos trafegam em média a 18,9 km/h (linhas tradicionais) e a 26,7 km/h (ligeirões), outras cidades com sistemas de canaletas conseguem ultrapassar a barreira dos 40 km/h, cobrindo maiores distâncias e transportando mais passageiros.
No Brasil, o Rio de Janeiro é um bom exemplo disso. A diretora de Mobilidade Urbana da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio de Janeiro (Fetranspor), Richele Cabral, explica que o corredor Transoeste oferece três opções de linhas: parador, que passa por mais estações a uma velocidade média de 35 km/h; expresso, com menos paradas e circulando a 47 km/h; e superexpresso, que para nos pontos inicial e final e trafega a 50 km/h. O acesso nessas estações é feito apenas com cartão-transporte.
Ao construir estações de embarque e implantar vias exclusivas, os ônibus da Transoeste desenvolvem velocidades satisfatórias. Esse sistema tem 93% de aprovação dos usuários e já superou a demanda estimada para o primeiro ano de operação.
No mundo
Outras cidades conseguem manter sistemas com velocidades competitivas, como Istambul, na Turquia. Lá, os ônibus em corredores trafegam a 42 km/h, uma velocidade comercial alta e atraente frente ao transporte individual. Em Bogotá, na Colômbia, o sistema Transmilenio tem média de velocidade de 27 km/h e oferece muitas opções de conexões, o que diminui o tempo médio de viagem do usuário que não precisa fazer baldeações em estações muito distantes do ponto final.
*A repórter viajou a convite da NTU.