O começo foi difícil. Anna Kozuk resistiu o quanto pôde ao uso da bengala: só aderiu ao equipamento há seis anos, por causa de uma prótese que lhe rendeu a necessidade de um apoio ao caminhar. Hoje, aos 84 anos, já não se vê sem a companhia do instrumento de alumínio que segura na mão esquerda. "Às vezes eu saio sem bengala na rua e parece que eu estou caindo", conta.
Essa já é a segunda bengala que Anna utiliza. A primeira que comprou, de madeira, ela diz que esqueceu no portão de casa. Quando voltou para buscar, não estava mais lá. Segundo o comerciante Leandro da Silva, que trabalha em uma loja de materiais médicos, a perda em decorrência do esquecimento é um dos principais motivos que levam o idoso a trocar de bengala. Caso contrário, "a pessoa que compra uma bengala pode ficar anos com uma", ressalta o vendedor.
O aposentado Luiz Rosaldo Cardoso, de 75 anos, começou a usar o apoio há 20 anos. E não tem planos de largar. "Se eu não usar a bengala eu não tenho equilíbrio no corpo", relata. "É a minha terceira perna. Sem ela não dá", diverte-se, fazendo uma comparação com a faixa etária em que se encontra: a terceira idade.
Embora os relatos de Anna e Luiz sejam positivos, a bengala ainda divide opiniões dos idosos. Para driblar a visão negativa a respeito do equipamento, o geriatra e presidente da seção paranaense da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG-PR), Rodolfo Alves Pedrão, costuma lembrar aos pacientes que, além da necessidade de usar por uma questão de apoio, a bengala pode ter ainda um caráter de elegância. "É um acessório, mas com benefícios", explica.
Segundo o geriatra, as principais vantagens do uso da bengala estariam na diminuição do risco de quedas e na melhora da segurança e conforto ao caminhar. O equipamento é indicado para pessoas que têm problemas de equilíbrio, sofrem de doenças ósteo-mio-articulares e musculares ou possuem algum tipo de sequela nas articulações, causadas por doenças neurológicas, entre outras. "Se o idoso está com dor para caminhar, ou se recuperando de uma cirurgia, ele vai ter mais conforto com a bengala", afirma Rodolfo.
Quedas
Aos 85 anos, Azize Malucelli não imaginava que viria a utilizar a bengala um dia. O motivo que a levou a adquirir o instrumento é o mesmo de pelo menos outros 30 mil idosos: as quedas. De acordo com informações do Ministério da Saúde, os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) no tratamento de fraturas em idosos aumentam a cada ano. De janeiro a outubro de 2009, foram R$ 57 milhões em internações por esse motivo.
"Atualmente uma das importantes abordagens da fisioterapia junto ao idoso é a prevenção de quedas", alerta o gerontólogo e fisioterapeuta Francisco Zanardini, que costuma recomendar o uso de bengalas a alguns de seus pacientes. Segundo ele, em situações de redução da força muscular, perda de equilíbrio ou doenças degenerativas dos membros inferiores, a bengala pode ter função complementar ao tratamento. "O uso da bengala pode ser associado às diferentes terapêuticas impostas", diz. Três meses depois de ter caído, Azize garante: "Agora eu já estou bem melhor".