Desde que terminou o ensino médio há dois anos, o curitibano César Ferreti, de 18 anos, começou a imaginar o que qualquer jovem na sua idade pensaria: qual será o meu futuro? Em meio a pesquisas e relatos daqueles que saíram do país para estudar fora, César sentiu que as setas que indicavam seu caminho saíam do Brasil e apontavam para a Europa -- mais precisamente para Dublin, capital da Irlanda. Com menos dinheiro na conta do que o sonho pedia, começou a vender alfajores – tradicional doce argentino recheado com doce de leite e coberto com chocolate -– na Praça Osório, no Centro de Curitiba, e mostrar sua rotina em um vídeo blog na internet.
Os pontos no mapa, tão bem traçados e calculados para alcançar o destino sonhado, não contavam com uma super ajuda: o diretor de uma escola de inglês, a mesma da qual ele viu em fotos e sonhou um dia estudar, fez uma ligação que anteciparia seus planos: ganhou um parabéns pelo esforço, uma bolsa de estudos e passagens de ida e volta de Curitiba para Dublin para 21 de agosto deste ano.
As vendas, apesar da conquista da bolsa, continuam. O governo irlandês exige uma quantia de três mil euros, cerca de R$ 11,8 mil para que o jovem consiga entrar no país. César faz mistério sobre o quanto já conseguiu juntar vendendo doces pelas ruas de Curitiba. Mas garante que falta pouco para alcançar o objetivo final e que vai continuar nas ruas até que alcance a quantia exigida pelo governo do país europeu. “Ah, vou conseguir sim! E se precisar vendo até no aeroporto antes de embarcar”, brinca.
O curitibano já perdeu as contas de quantos doces vendeu. “Ah, foram 500 caixas para mais”, diz. Em uma simples conta, chega-se à conclusão que o jovem já vendeu mais de 12 mil alfajores ao custo de R$ 2 cada para atravessar o oceano atlântico até Dublin. Também tem promoção -- 3 doces por R$ 5. A caixa com 24 alfajores sai por R$ 40. Mas é preciso descontar os custos para produzir e vender o doce.
Internet ajudou a realizar o sonho
Serão oito meses estudando inglês na Irlanda. A história de César com os alfajores começou um ano antes da data da viagem, agora já com dia marcado para acontecer. Em agosto do ano passado, ao pesquisar na internet as direções para o seu futuro, pediu para a mãe ajuda para estudar na Irlanda. A resposta não foi a esperada. “Ela me disse que, infelizmente, não conseguiria pagar as passagens, a mensalidade e as despesas”, conta.
Na hora o desânimo até bateu, mas a vontade de atravessar os 9 mil quilômetros que o separam da escola de inglês em Dublin foi mais forte. Lembrou então dos alfajores que a mãe trazia para casa depois das viagens ao Paraguai. “Ela sempre trazia alfajores para casa. Pensei que essa seria uma forma de bancar minha ida para o exterior”, conta o jovem.
E tudo começou assim, vendendo alfajores para os parentes, amigos e pelas ruas do bairro em agosto do ano passado. Passou então a ir até a Praça Osório, no Centro da capital, onde há mais movimento. Seus dias de vendedor renderam boas histórias e César decidiu fazer um vlog -- uma espécie de diário em vídeo, onde contava a experiência. “Foi uma forma que eu encontrei de divulgar meu trabalho e motivar outros jovens a buscarem seus objetivos”, diz.
A mesma internet que o transportou para a Irlanda nos seus sonhos, fez com que os vídeos que gravava para contar a rotina e evolução das vendas chegassem às mãos do diretor da Seda College, escola de inglês em Dublin, que decidiu bancar a viagem de César. “O dia que ele ligou oferecendo uma bolsa para oito meses de estudo e as passagens quase não acreditei. Comprovei que quem acredita de verdade e se esforça para conseguir o que sonha alcança mesmo”, comemora o jovem.
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