O mel está prestes a se unir a balas de banana, geleias, compotas e cachaças no imaginário de produtos artesanais associados à região de Antonina e Morretes. A produção por abelhas nativas é uma iniciativa que dá seus primeiros passos no Litoral do Paraná.
O produto feito a partir da espécie Jataí é o primeiro mel de abelha nativa certificado pelo Serviço de Inspeção do Paraná/Produtos de Origem Animal (SIP/POA). Estão envolvidos no projeto 22 apicultores da região entre Antonina e Guaraqueçaba, dentro de uma Área de Preservação Ambiental (APA). As abelhas nativas são pequenas, não têm ferrão e são responsáveis pela polinização de até 90% das plantas da floresta atlântica.
A iniciativa é da ONG Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). Felipe do Vale, técnico do projeto de meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão), explica que a ideia é trazer renda aos produtores e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente. "Antigamente, quando alguém queria extrair o mel desse tipo de abelha, tinha que encontrar uma colmeia e cortar a árvore. Mas, quando se abre o ninho, as abelhas morrem. Por isso, acabava-se de uma vez com a árvore e com as abelhas", conta.
O método encontrado para obter mel sem afetar o ecossistema é simples. Uma garrafa pet é coberta com lona e pendurada em uma árvore. Naturalmente, as abelhas fazem o ninho em seu interior. Depois a garrafa é retirada e as abelhas são deslocadas para uma casinha de madeira. Assim, abelhas e árvores ficam a salvo.
A garrafa de 65 gramas do mel (destinado mais para fins medicinais) será vendida, a partir de fevereiro, por R$ 8. No momento, está em trâmite a certificação do mel de outros três tipos de abelhas nativas e de própolis. Para obter o certificado, a Associação de Criadores de Abelhas Nativas da APA de Guaraqueçaba (Acriapa) seguiu todas as exigências da Secretaria da Agricultura.
Sueli Alves dos Santos e Antonio Gonçalves são dois produtores do mel capacitados pela SPVS e que agora esperam pelo resultado das vendas. Antonio afirma que o mel sempre ajuda quando está com crises de rinite ou tosse. "É só colocar uma colher pequena em um copo de leite quente", ensina.
Novos sabores para produtos tradicionais
Bala de banana com gengibre, canela e até panetone. Cachaça de banana, mirtilo ou cataia (feita com folhas da planta erva-de-bicho). Os produtos típicos de Morretes e Antonina estão se diversificando para atrair clientes, mas a base de todos eles continua sendo a tradição: tudo é feito artesanalmente com ingredientes locais.
Somente na Indústria e Comércio de Conserva Floresta, que produz as balas de banana Polar, são utilizadas até 50 toneladas de banana por mês para fazer 10 toneladas do doce. As balas de banana com sabores são uma invenção de sucesso. "No Natal, as com panetone foram um estouro", diz o proprietário, Silas Dias.
Bebidas
Já na Casa Poletto, que produz cachaças artesanais, é possível encontrar mais de 10 tipos da iguaria. "Cada uva dá um tipo de vinho. E é a mesma coisa com a cana-de-açúcar e a cachaça", afirma Sadi Poletto, dono do estabelecimento. Os sabores diferentes, garante, vale a pena provar. Lá também é feita a cataia, que segundo os nativos da região "traz alegria para a alma".
A família de Ana Fabíola Torres, de Brasília, passa por Morretes e Antonina pelo menos duas vezes por ano e sai carregando várias sacolas. "A gente vem comer barreado, aproveita e já compra um estoque de farinha, doces, cachaça, pra durar bastante", conta.