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Clima

Curitiba, uma cidade perto de seu ponto de ebulição

Ontem, a temperatura máxima na capital bateu os 33,5°C, a segunda mais alta de 2012. No sábado, o calor quebrou o recorde dos últimos seis anos ao chegar aos 34°C | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Ontem, a temperatura máxima na capital bateu os 33,5°C, a segunda mais alta de 2012. No sábado, o calor quebrou o recorde dos últimos seis anos ao chegar aos 34°C (Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo)
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Termômetro na Av. Sete de Setembro chegou a marcar 40°C |

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Termômetro na Av. Sete de Setembro chegou a marcar 40°C

O estouro do pavimento da Avenida Iguaçu, no último sábado à tarde, deu corpo a uma desconfiança coletiva que se expande ao ritmo dos graus Celsius. Entre falta de água prolongada, boatos sobre crise de abastecimento de sorvete e flagra de pessoas andando nuas pela rua, a cidade conhecida pelo frio climático e comportamental experimenta fenômenos singulares. Curitiba está perto de seu ponto de ebulição, e tudo o que outrora era sólido agora se desmancha no ar.Ontem, a pista recuperada da Iguaçu, na esquina com a Rua Saint-Hilaire, no Água Verde, ainda brilhava e cheirava a piche úmido. A alguns metros dali, o comerciante Adriano Moreira Paes, de 43 anos, mal podia conversar sobre o ocorrido. Proprietário de uma mercearia e distribuidora de água, passa o dia ao telefone atendendo a pedidos de entrega de galões. Às 16 h, estava próximo da centésima venda do dia. "Os três entregadores saem a toda hora, e sempre com a bicicleta lotada", ilustra.

Para dar conta da demanda, ele alugou temporariamente o imóvel ao lado para usar como depósito de água. Na sexta-feira passada, em meio a tanto movimento, foi assaltado pela primeira vez em 23 anos. Adriano se recusa a apontar uma relação direta entre os dois eventos.

O leiturista Mauro César Fa­­brin, de 34 anos, para embaixo de uma árvore na Rua Barão do Rio Branco, no Centro. A sombra facilita a leitura do PDA e alivia o calor deste funcionário da Copel que passa sete horas por dia andando pela rua. Por causa da longa caminhada, evita levar o peso adicional de uma garrafa de água. "De quinze em quinze casas peço um copo de água. Ou então compro mesmo", relata. Acostumado a tra­­balhar em bairros residenciais, foi temporariamente deslocado para a região central, onde descobriu o alívio imediato provocado pelo ares-condicionados do comércio. "Normalmente o relógio é dentro, então dá pra aproveitar um pouco", contenta-se.

O operário Ozair Fernando Batista, de 23 anos, mantém apenas a cabeça acima da linha do asfalto enquanto trabalha na ampliação da rede coletora de esgoto da Rua João Negrão, também no Centro. Descobriu que o capacete branco também é um eficiente boné. No abafamento subterrâneo, inveja os colegas cuja função é operar as máquinas. Estes, recebendo o bafo quente que sai do cano de escape, o invejam de volta. "A gente já tá acostumado. Mas ainda sua bastante", conta.

Chafariz

A Praça 29 de Março, no bairro Mercês, é um dos pontos preferidos dos banhistas de chafariz de Curitiba. A arquitetura da fonte proporciona uma cascata baixa e larga, comportando vários frequentadores ao mesmo tempo. Mas ontem apenas sacolas de plástico podiam ser vistas na água verde clara. "Essa água é muito suja, pode fazer mal", alerta o auxiliar de serviços gerais José, na casa dos 50 anos, deitado à sombra de uma árvore, usando apenas calção e óculos de grau e lendo uma edição vencida porém recente da revista Caras.

Às 16h30, conta que trabalha em uma construção próxima até as 18h30 e depois costuma descansar na praça. "Hoje [ontem] fui ao médico. Aproveitei que na segunda tem menos movimento", diz ele, justificando a discrepância de horário. De uma garrafa de água mineral sem rótulo, bebe um líquido esbranquiçado. "Nes­­se calor tem que beber bastante água. Essa aqui eu misturo com suco de pacote que compro no mercado. Daí fica assim", explica.

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