Marquinho Pé-de-Mola, Luiz Pirulito, Pelicano, Cara-de-Relógio, Boca-de-Caçapa, Pé-de-Pano. Em Antonina, no Litoral do Paraná, todo mundo se conhece pelo apelido. O costume é uma das marcas da cidade e não gera intriga para ninguém. A origem pode ser a personalidade, uma característica física chamativa, um sobrenome diferente, uma história de infância ou, simplesmente, uma brincadeira sem explicação. E, se o apelido pegar mesmo, o nome verdadeiro pode virar história. É o que conta João Peixoto. Quem? O João Foró. "Se perguntar por João Peixoto, ninguém sabe quem é", diz.
Roberto Fernandes, vereador em Antonina, é conhecido como Cara-de-Relógio desde os 19 anos. A origem não tem nenhuma explicação lógica, mas pegou. "Quem me deu esse apelido foi o Pé-de-Pano", conta. Famílias inteiras também ganham nomes diferentes. Tem os Araponga, os Boca Larga, a família Garça, família Maravilha e os Pinto Loco, conhecidos assim por causa da tradicional participação nas folias de carnaval.
Virou moda
São tantos codinomes que a cidade os assumiu como característica. E há quem se preocupe em registrar a criatividade dos moradores na invenção dos apelidos. O cantor e compositor Rui Graciano, filho da famosa dupla caipira Belarmino e Gabriela, mora em Antonina há cerca de 30 anos e já fez músicas sobre o costume. A "Moda dos Apelidos" foi composta na década de 80. "Depois do sucesso, algumas pessoas vieram me cobrar, porque o apelido delas não estava na letra da música", conta.
Um dos personagens citados na "Moda dos Apelidos" é o professor aposentado Eduardo Nascimento, o Eduardo Bó. Ele mantém um blog há cerca de dez anos, no qual já contou casos divertidos sobre o tema.
Também há preocupação em transformar os nomes alternativos em uma marca cultural da cidade. Para algumas pessoas, o costume poderia ganhar um espaço de homenagem em Antonina, funcionar até como atrativo turístico. Nascimento conta que, junto com outros colecionadores, já buscou projetos para consolidar a ideia. "A cidade tem essa essência e queríamos transformar em produto cultural", conta. Mas o município não tem nenhum projeto oficial que garanta ao menos a catalogação.
Rui e a esposa, Soraya Valente, formam uma dupla caipira. Nos shows que fazem pelo país, eles contam histórias dos apelidados de Antonina. Os dois já catalogaram mais de 900 nomes diferentes. A intenção é reunir alguns e publicar em livro. "As pessoas trazem apelidos na nossa casa, ou me encontram na rua e contam uma história", diz. Curiosamente, eles escaparam: não têm nenhum apelido. Ainda.
VIDA E CIDADANIA | 2:19
Em Antonina, todo mundo se conhece pelo apelido. A brincadeira virou marca cultural da cidade, e há quem colecione os divertidos nomes inventados.