A vontade de chegar logo na praia para curtir um fim de semana de verão tem sido colocada à prova assim que se acessa as estradas que ligam Curitiba ao Litoral paranaense: uma viagem que era para ser tranquila e rápida acaba sendo angustiante por causa dos congestionamentos enfrentados pelos motoristas.
Um dos grandes gargalos está na estrada que leva às praias de Pontal do Paraná. Uma viagem que duraria cerca de 1h30 acaba se estendo a 3 horas ou mais, dependendo do horário. Isso porque, descendo pela BR-277, o motorista precisa acessar a PR-407: a rodovia estadual tem pista simples de 19 quilômetros até Praia de Leste. O engarrafamento é inevitável e começa ainda na BR-277. A volta para Curitiba esbarra no mesmo problema: na PR-407, a concessionária que administra o trecho costuma fazer a operação retorno liberando as duas pistas simples para tráfego apenas sentido Curitiba, mas a alternativa não tem sido suficiente. Além disso, com essa operação os moradores da região ficam sem possibilidades de se locomover até as praias, o que já gerou protestos e fechamento de rodovia.
Garuva
Quem optar pela BR-376 também não estará livre do tráfego lento. O problema é o mesmo: sair da rodovia federal e conduzir pelas rodovias estaduais. Seguindo pela PR-412 em direção a Guaratuba e Itapoá, o motorista precisa enfrentar o conhecido semáforo de Garuva e ainda trafega em pista simples.
O sinaleiro colocado logo na entrada da cidade catarinense foi o jeito encontrado para organizar a confusão vivida pelos moradores do local, em decorrência da passagem de milhares de veículos durante a temporada. Mas, para alguns, o problema não estaria no semáforo. "O ponto crítico é na faixa de aceleração para entrar na BR-376, que é muito curta e não permite que os veículos entrem na via com a mesma velocidade daqueles que já estão nela", afirma o prefeito de Garuva, João Romão. A cidade tem pouco mais de 15 mil habitantes.
No dia 22 de janeiro, havia lentidão ao longo de boa parte do trecho de 36 quilômetros da PR-412, que liga Guaratuba a Garuva. Em alguns pontos o trânsito estava totalmente parado e havia concentração de veículos no entroncamento com a SC-415, que leva a Itapoá. Já em Guaratuba, as quatro embarcações do ferryboat não deram conta de atender a fila de veículos que aguardava, em média, uma hora e meia para fazer a travessia até Matinhos.
De acordo com o engenheiro civil Mário Stamm Júnior, ex-secretário de transportes do Paraná, a saturação do tráfego no Litoral durante a temporada evidencia um problema já conhecido e que não é exclusivo das rodovias da região: "A ampliação da malha viária não acompanhou o crescimento da frota de veículos no país", afirma o engenheiro.
Segundo ele, como boa parte das rodovias do Brasil, as estradas estaduais receberam melhorias paliativas que, a médio e longo prazo, acabaram se mostrando insuficientes. Usar horários alternativos para ir e voltar também não resolve mais o problema. "A solução real passa pela criação de vias alternativas. É preciso construir novas rodovias na região", afirma Stamm Júnior. Entre as possibilidades, ele destaca os projetos já encabeçados por governos passados como a construção de uma rodovia interportos, a BR-101 paranaense e a ponte de Guaratuba.
BR-101 é aposta para trânsito melhor
A construção da BR-101 no Paraná voltou à pauta de assuntos que estão sendo discutidos entre o governo do estado e o Ministério dos Transportes. O projeto para a criação do trecho paranaense da Translitorânea que também já foi discutido no governo passado , é considerado pelo atual secretário de Infraestrutura e Logística, José Richa Filho, como a solução mais viável para resolver o problema da circulação viária em todo o litoral do estado. "É necessário criar uma alternativa às BRs 277 e 376, tanto para o escoamento da produção via Porto de Paranaguá quanto para dar fluidez ao tráfego em época de temporada", afirma o secretário, apontando os riscos de depender unicamente de duas rodovias para chegar aos portos.
O atual projeto da BR-101 paranaense ligaria as BRs 116 e 277 em um trajeto de aproximadamente 171 quilômetros, passando pelo Porto de Antonina e contornando a Baía de Guaratuba em direção à BR- 376. "A ponte de Guaratuba não está totalmente excluída, mas, neste momento, não faz parte das prioridades", diz Richa Filho.
Solução
Além de desafogar o trânsito nas PRs, a BR-101 também seria uma opção para que o acesso aos portos e as cidades do Litoral não seja interrompido em caso de intensas chuvas como aquelas que ocorreram no início do ano passado. Segundo Richa Filho, os estudos de viabilidade serão feitos em parceria com os técnicos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e devem começar ainda este ano.