Elas são apenas 11 em um universo de 403 homens. E, por isso mesmo, as guarda-vidas militares que estão no Litoral do Paraná precisam mostrar serviço, literalmente, para conquistar espaço no Corpo de Bombeiros.
Mas não é por estarem em menor número que elas deixam de ser respeitadas. Sem qualquer tipo de privilégio, as guarda-vidas recebem o mesmo tratamento de todo o batalhão, uniformes e rotina de trabalho iguais. "Até porque, se tivéssemos regalias seria preconceito com eles", conta a soldado curitibana Simone Aparecida dos Santos, 25 anos, que serve em Caiobá durante a temporada e na capital trabalha como socorrista do Siate. "A ideia é de que elas realmente sejam capazes de executar o mesmo trabalho dos homens", confirma o tenente Murilo Nascimento, bombeiro há nove anos.
Em 2005, Simone e outras dez mulheres, que hoje são guarda-vidas, prestaram concurso público para a primeira turma de bombeiras do estado. Depois da prova, foram nove meses na escola de formação de soldados, em Piraquara, região metropolitana de Curitiba, e mais quatro no curso de preparação para a profissão. Como em 90 anos a corporação só teve homens, a entrada delas foi um choque.
"Caímos de paraquedas e ficou aquela dúvida se daríamos conta", diz a soldado Gizele Aparecida da Silva, 29, também de Curitiba. "No começo era mesmo complicado. A gente teve de se adaptar e, principalmente, aprender a medir as palavras. Mas elas provaram que podem fazer o trabalho com a mesma eficiência dos homens", opina o cabo Renato Zimermann, 40 anos, com mais de 20 de experiência na profissão.
Se por um lado as mulheres não têm a força masculina, elas utilizam mais a técnica para facilitar o trabalho. O judô aquático, usado para imobilizar vítimas de afogamento, é um exemplo. Já a abordagem e o poder de convencimento junto aos banhistas é muito mais eficiente que o dos homens. "Sem contar o instinto maternal, que ajuda muito no caso de crianças perdidas", explica Nascimento.
A rotina
Em Matinhos, Gizele, Simone e as soldadas Ângela Cristina Antunes, 30, Melânia Giraldi, 23, Juliana Zanello, 24, Julinéia dos Santos, 27, e a sargento Juliana Colares, 29, têm vida dura nas areias. Todos os dias durante a temporada, elas trabalham cerca de seis horas faça chuva ou sol.
Os turnos são sempre inversos: quem fica de plantão pela manhã num dia, trabalha na tarde do dia seguinte. Ao mesmo tempo, precisam administrar a casa onde dormem, separada do quartel. "É vida normal. Temos de ir ao mercado, pagar contas, limpar a casa", diz Simone. Isso sem falar na rotina de beleza. Além de protetor solar e de hidratantes, pequenos detalhes, como brincos discretos ou um leve batom, dão toques mais femininos a um trabalho ainda machista.
Ao todo, em três meses de trabalho, elas têm apenas cinco dias de folga. É o tempo para viajar e matar a saudade da família. Quem opta pela profissão, porém, sabe que dificilmente passará o período de festas de fim de ano com os parentes. "É triste ter de escutar a mãe chorar no telefone todo ano. Mas é o que eu amo fazer, não tem jeito", diz Gizele, que trabalha no caminhão de combate a incêndios fora da temporada. "Escutar um obrigado depois de um salvamento paga o nosso trabalho. Esse é o principal reconhecimento da profissão", emenda Simone.