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 | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo

Diversão

Em clima de folia o ano inteiro

Muitos ficariam incomodados com a passagem nada discreta do trio elétrico da Banda de Guaratuba bem na porta de casa. Não é o caso da professora aposentada Maria de Lurdes Neves de Almeida, de 65 anos, que aproveitou a companhia da família para cair na folia nas noites de carnaval pulando e sambando na sacada da residência, que fica na Avenida 29 de Abril, no centro da cidade.

Temporada, para ela, é sinônimo de diversão e reencontro com suas quatro irmãs: Neida Almeida Canto, de 77 anos, e Ruth Almeida Noernberg, de 70, ambas de Ponta Grossa; Neusa Almeida Araújo, 72 anos, de Londrina; e Roseli Almeida Nafton, 57 anos, que mora na Alemanha.

Maria de Lurdes não faz distinção entre inverno e verão para pegar a estrada em direção ao Litoral. Às vezes, fica na praia por meses, voltando a Curitiba apenas para "dar um oi e dizer que está viva", brinca a filha Patrícia Almeida Palhares, de 32 anos.

A ponta-grossense, que mora em Curitiba, vive, justamente, esse sentimento conflitante: gosta da companhia da família, que só consegue se reunir completamente durante a temporada, mas também sente falta do sossego – principal característica do período fora dos meses de verão.

"Da praia em si, eu não gosto muito lotada. Em compensação, gosto do condomínio cheio e do entra e sai constante de gente", conta. E quando fala em condomínio, a aposentada se refere ao imóvel que o pai comprou em 1956, quando as cinco irmãs ainda eram meninas e a luz elétrica da cidade apagava pontualmente à meia-noite.

"Minha mãe sempre dizia que queria uma casa grande, para que ficássemos todas juntas, mas com uma condição: cada uma deveria ter o seu espaço, principalmente a sua cozinha", brinca ela. Hoje o condomínio, com cinco pequenos sobrados, leva o nome de Vó Manuela, em homenagem à matriarca da família Almeida, falecida há 20 anos.

  • Cleiton, Elaine, Emanuele e João Guilherme (da esquerda para a direita) aproveitaram o fim de semana seguinte à folia para descer a serra em direção a Guaratuba
  • No inverno ou no verão. Em baixa, média ou alta temporada. Para Maria de Lurdes, qualquer período é propício para curtir o Litoral do Paraná na casa comprada por seu pai com o objetivo de reunir toda a família

A menos de uma semana do fim do carnaval, a temporada de verão já começa a dar espaço ao período de sossego. As ruas, antes abarrotadas de carros e pessoas, começam a ficar mais vazias, assim como a areia das praias, onde sobram lugares para cadeiras e guarda-sóis.

Esse período intermediário – entre o agito total e o sossego absoluto – desperta, tanto em moradores quanto em veranistas, sentimentos conflitantes. Ao mesmo tempo em que os comerciantes do Litoral comemoram as boas vendas, reflexo de praia cheia; durante a alta temporada eles vivem ares de cidade grande, com direito, inclusive, a problemas como: trânsito caótico, filas em bancos e supermercados, barulho e lixo em excesso, além de alta nos preços.

Quando a temporada chega ao fim, a rotina de quem vive nas praias do Paraná vai voltando, aos poucos, ao normal. "A gente passa o ano inteiro esperando que a temporada chegue, mas, quando ela vem, não vemos a hora de que acabe logo", brinca a comerciante Graciele Alves da Silva, de 29 anos, que aproveita as vantagens da grande população flutuante para alavancar as vendas da sua loja de roupas e acessórios.

Graciele, que deixou o trabalho em um shopping de Curitiba há dois anos para viver em Matinhos, não abre mão da tranquilidade que veio buscar no Litoral. "Como comerciante preciso do movimento da alta temporada, mas, como moradora, prefiro os meses de inverno", pondera. "Em Curitiba, como em toda grande cidade, qualquer pessoa é apenas mais uma no meio de tantas. Aqui quase todos se conhecem, as pessoas se chamam pelo nome, passam e se cumprimentam", finaliza a comerciante, que nem cogita a possibilidade de voltar a viver em Curitiba.

Ela conta ainda que o feriado de carnaval concentra os dias de maior movimento, com as praias lotadas durante a manhã, a tarde e a noite, mas também os dias de maior tumulto, loucura e poucas compras. "O público é jovem e não vem para gastar, como no restante da temporada. As pessoas vêm só para se divertir e cair na folia", diz.

Em família

Para fugir justamente desse período turbulento que é o carnaval, a família Nascimento Oliveira escolheu o fim de semana seguinte à folia para descer a serra em direção a Guaratuba, onde devem passar dois dias de bastante sossego. Entre as vantagens de curtir a praia no intervalo entre a alta e a baixa temporada, o tecnólogo civil Cleiton Rodrigues de Oliveira, de 42 anos, que viajou com a mulher, Elaine Nasci­mento, professora de 35 anos, e os filhos, Emanuele e João Guilherme, de 4 e 7 anos, destaca a ausência do trânsito caótico.

Além disso, ainda é verão e o clima é bom, com sol e temperaturas altas. Também há espaço de sobra na areia, as liquidações tomam conta do comércio e os imóveis são encontrados por preços muito mais baixos do que durante o período de maior movimento. Outra vantagem é a segurança dos filhos. "As crianças não têm paciência para enfrentar filas ou ficar dentro do carro quando há congestionamento. Ficam estressadas e acabam deixando a gente estressado também", completa Elaine.

Negócios"Nem bom nem ruim", dizem pescadores

Para os pescadores, a temporada de verão é uma ilusão. "A gente trabalha bastante, em um ritmo mais acelerado para poder abastecer o Mercado de Peixe, e acaba não ganhando mais por isso", diz Nilson Ferreira, de 55 anos, pescador há 25.

Durante o inverno, Nilson faz o seu próprio tempo de trabalho, sem ter horário para retornar do mar porque há alguém esperando. Já durante o verão, como o mercado precisa ser reabastecido por causa da demanda dos veranistas, o tempo da pescaria acaba sendo acelerado.

"Fora isso, na temporada a gente vende o peixe e o camarão para terceiros que trabalham no mercado revenderem. Acabamos tirando um lucro muito pequeno", afirma Ferreira, que também prefere o inverno pela tranquilidade. "Na temporada, as pessoas fazem tudo de carro, até percorrem pequenas distâncias que poderiam ser feitas a pé", completa.

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